Sisters of Mercy traz setlist confuso e problemas de execução em festa gótica em São Paulo

Texto por: Leonardo Klink
Fotos por: Paty Sigiliano

E foi neste último domingo (dia 18/06) que o Sisters of Mercy marcou sua presença em terras brasileiras pela sétima vez, em uma única passagem no Brasil nesta turnê. Realizado na casa Tokio Marine Hall localizado na cidade de São Paulo, o comparecimento das “Irmãs de Misericórdia” em palco esteve programado para ocorrer às 20 horas, momento em que a pista comum e a premium se mostraram visivelmente cobertas pelos trajes escuros e próximas do limite de lotação máxima. Instante quase que exato em que as luzes gerais se apagaram dando espaço aos holofotes e aos sintetizadores emulando percussões e sonoridades sombrias. Alguns minutos depois, os membros Andrew Eldritch (vocais), Ben Christo (guitarra e vocal de apoio), Dylan Smith (guitarra e vocal de apoio) e Ravey Davey (reprodução das trilhas pré-gravadas) sobem ao palco, empunhando seus respectivos instrumentos e alcançando posições.

A proposta da banda em adicionar aos espetáculos músicas inéditas sem passagens pelos registros em estúdios, caiu como uma luva com a escolha de “Don’t Drive on Ice” e seus riffs de guitarras como abertura na casa. Aliás, mesmo que grande parte do público não esteve parcialmente ou completamente familiarizado com as canções mais recentes distribuídas em larga escala pelo repertório, não tardou a ao menos se empenharem a cantarolar e a repetir alguns de seus refrãos e melodias, como em “I will call You”, “But Genevive”, “Summer”, “Show Me”, “Eyes of Caligula”, “Crash and Burn”, “On the Beach” e “When I’m on Fire”.

Aliás, lamentavelmente a faixa de abertura e as consecutivas “Ribbons” e “Alice” soaram como um embolado de sobreposições sonoras envolvendo os graves eletrônicos pré-gravados, o vocal barítono e os instrumentais tocados ao vivo, situação que dificultou principalmente a compreensão das pronúncias das letras e de algumas melodias marcantes. Circunstância a qual prejudicou justamente o reconhecimento de “Marian” por alguns dos fãs e expos o possível e passageiro descontentamento ao empasse sonoro por Andrew Eldritch, vocalista e membro mais antigo em atividade na banda. Enquanto a versão de “I Was Wrong” soou como bem mediana e incompleta em comparação à qualidade sonora e dos preenchimentos pelos dedilhados na guitarra acústica e no violão em estúdio, a presença de uma firula confusa intitulada de “Instrumental 86” poderia ter sido facilmente descartada, afim de dar mais espaço e conforto às performances das demais.

Positivamente, cabe pontuar que com pouca dificuldade o público resistiu e com facilidade cedeu às danças, ao bater dos pés e mesmo ao balanço dos corpos durante a ambiência proporcionada pela iluminação, pelas guitarras bem distorcidas, pelos graves dos baixos e pelas acentuadas caixas de baterias eletrônicas reverberadas pelos falantes durante os agitos de sucessos como “Dominion”, “More”, “Lucretia”, “Temple of Love” e “This Corrosion”. Ao fechar os olhos ou mesmo ao olhar em volta, a impressão que ficou foi a de estar ora realmente em uma “balada gótica”, ora em um show de Metal oitentista de boa qualidade.

Com exceção da escolha – e conceito característico da banda desde a década de 1980 – em privilegiar a reprodução de pistas pré-gravadas como substituição de um baterista, um tecladista, um baixista e backing vocals femininas, as performances e o entrosamento entre os músicos com o público e, mesmo entre os quatro membros atuais, é passível de reconhecimento.

Ao mesmo tempo que a ausência de inúmeras canções marcantes da banda e também o encurtamento abrupto – ou o massacre – de algumas outras tocadas como frações (“Doctor Jeep” e “Detonation” como medleys, “Temple of Love”, “More” e “This Corrosion”) possam ter causado um sentimento de insatisfação e frustração, trouxeram para mim sem dúvidas momentos após o show uma sensação de “quero mais”. Sentimento até que positivo ao considerar que inúmeras bandas há décadas saturam seus shows com a mesma repetição de escolhas ao set, o famoso “quem viu um, viu todos”.

Embora os fatores nostálgicos e as primeiras impressões derivadas desta formação da banda ao vivo possam ter influenciado na satisfação e contentamento de uma parcela do público em relação ao show, para outros, o atropelamento de inúmeras canções e os retalhos a outras tocadas em pouco menos de uma hora e meia, a prevalência de “unreleased tracks” em oposição às já gravadas e consolidadas, a recorrência dos efeitos de uma péssima mixagem ao longo do show e, talvez a falta (justificável) de fôlego do inglês ao cantar algumas das já clássicas canções dos discos First and Last and Always (1985) e Floodland (1987) podem ter contribuído para o pesar de uma época que não vivenciaram, ou, da saudade de ouvir as músicas eternizadas nos álbuns como elas estão. Ainda assim, para quem se familiariza com as temáticas das letras e com a estética do gênero, a experiência de vê-los ao menos uma vez ao vivo com certeza vale o valor pago em uma pista comum ou nos primeiros lotes lançados.

Agradecimentos a Top Link pelo credenciamento.

SETLIST:

1 Don’t Drive on Ice

2 Ribbons

3 Alice

4 I will call You

5 But Genevieve

6 Dominion

7 Summer

8 Show Me

9 Marian

10 More

11 Instrumental 86

12 Doctor Jeep/Detonation Boulevard (trechos)

13 Eyes of Caligula

14 I was Wrong

15 Crash and Burn

16 On the Beach

17 When I’m of Fire

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18 Lucretia my Reflection

19 Temple of Love

20 This Corrosion

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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