18 anos sem Dimebag Darrell, gênio de seu tempo e o sombrio dia 8 de dezembro para a música pesada

8 de dezembro é uma data bastante emblemática para a música pesada, mas não de uma forma boa, bem longe disso.

Foi em um 8 de dezembro em que John Lennon, o ex Beatle, foi assassinado na porta de seu apartamento, por alguém que se dizia seu fã. Foi também em um dia 8 de dezembro, que o basterista Razzle, do Hanoi Rocks, morreu em um trágico acidente automobilistíco, enquanto estava em um carro dirigido por Vince Neil do Mötley Crüe.

E ainda, em um 8 de dezembro, o heavy metal era abalado por uma das mortes mais impactantes de sua história, e também uma das mais brutais. Dimebag Darrell morria em cima do palco, na frente do irmão, Vinnie Vincente, enquanto tocava com a sua então nova banda, Damageplan. Assim como Lennon, Darrell foi alvejado por tiros a queima roupa por algúem que também se dizia seu fã.

A banda tocaria no clube Alrosa Villa em Columbus, Ohio, local este que já não existe mais, pois foi demolido no ano passado, após ser vendido para uma empreiteira que irá transformar o lugar em um conglomerado de apartamentos. Os planos da banda era fazer os dois shows restantes da tour do álbum de estreia, tirar umas férias e retornarem para o estúdio para uma sequência.

Após a passagem de som, os membros do grupo retornaram ao ônibus para esperar o horário do show. Os irmãos Abbott presenciaram o show de abertura, conforme contou Vinnie em entrevista, em 2006:

“Eles estavam tocando músicas do Parliament no estilo heavy metal e estavam todos vestidos como GI Joes. Nós estávamos lá fazendo fotos e espiando e rindo sobre a coisa toda. Então, estávamos todos de bom humor e tínhamos a casa cheia naquela noite e subimos no convés e logo antes de entrarmos, Dime estava aquecendo a mão e colocando o brilho labial. A última coisa que eu disse a ele foi ‘ Van Halen ?’ E ele levantou a mão aberta para mim e disse, ‘Van fuck Halen!’ Essa era a nossa palavra-código para deixar tudo fluir e se divertir. E essa foi a última coisa que ele me disse, cara. É insano.”

Logo após a abertura do show com “Breathing New Life”, um ex-fuzileiro naval de 1,80 metro, chamado Nathan Gale, irrompeu de trás de uma parede de amplificadores de 2,5 metros de altura e correu pelo palco com uma pistola Beretta 9mm, para muito próximo de Dime e disparando três tiros na nuca do guitarrista. Gale ainda continuou o ataque, disparando em várias direções, o que resultou em quatro mortos e feriu dois. O técnico de bateria de Paul, John “Kat” Brooks” acabou virando refém de Gale após ele cessar momentaneamente os tiros, já que ele ainda tinha 35 cartuchos para sua arma.

Nesse momento, o policial, James Niggemeyer, que havia atendido ao chamado de emergência chegou ao local e matou Gale com um único tiro certeiro. Em entrevista, o policial contou a MTV em 2005:

Eu sabia daquela distância que poderia atirar no suspeito, contanto que mirasse alto o suficiente e não machucasse o refém. Naquele ponto, quase imediatamente, eu atirei.

A princípio, se imaginou que o atirador havia cometido o ataque por culpar Dimebag pelo fim do Pantera, que era sua banda predileta. Isso fez com que a separação dos Abbott e Phil Anselmo se ampliasse mais, devido a uma declaração do vocalista a Metal Hammer, onde disse que Darrell “merecia ser espancado”. Para Vinnie, isso teria sido o combustível para o atirador transformar pensamentos em ação, conforme disse em entrevista:

“Não há dúvida de que o cara que fez isso estava louco”. Ele é alguém que deveria ter sido preso. Quando você tem alguém com problemas mentais óbvios, não é uma boa ideia a mãe dele ir buscar para ele uma arma que é usada para matar pessoas nas forças armadas. E, obviamente, ele sabia como usá-la. Ele não era apenas um cara do ragtime que pegou uma arma. Eu vi o que aconteceu e sabia exatamente que o cara estava em uma missão, cara, por qualquer motivo. E o tipo de merda que Philip disse a Metal Hammer é o tipo de merda que pode incitar o cara que fez isso a fazer o tipo de coisa que ele fez.

Mesmo com o passar dos anos, Vinnie e Phil nunca se acertaram. Em 2014, já de volta a música, a época então com o Hellyeah, o baterista disse em entrevista:

Simplesmente não é alguém importante para mim. Se você teve uma ex-esposa e foi uma separação muito amarga, talvez você nunca mais queira falar com ela. Quem se importa se todos na família e seus amigos querem que você diga olá novamente. É sua escolha se você quer fazer isso ou não.

A morte brutal de Dimebag, não afetou somente aos mais próximos dele e seus fãs. Os shows de metal nunca mais foram os mesmos após o atentado. Scott Ian certa vez, disse:

“Depois que algo assim acontece com um de seus melhores amigos, como você pode se sentir seguro, em qualquer lugar, nunca?. As poucas vezes que moleques subiram no palco durante nosso show, não importa o quão amigável seja o cenário, a primeira coisa que penso é: ‘Cara, você não deveria estar nessa porra de palco. Você deveria saber bem disso.’ Para mim, tudo mudou depois que Dime foi morto. O palco tornou-se proibido para todos, menos para os músicos. Eu não dou a mínima para o quanto você está se divertindo. Fique fora do palco.”

No Brasil, a morte de Darrell foi noticiada pelo Jornal da Globo, que tratou o caso de uma forma banal, ressaltando o nome de Dimebag, para sua tradução literal, “trouxinha de maconha”, e ainda expressando como o heavy metal era exaltado por pregar a violência, reverenciar o ódio, colocando um sentido vazio no que é a música do genêro, e com o comentário de Arnaldo Jabor, fechando com a fala de que, “se foi a arte, e só ficou a porrada”.

Acima de tudo, o fato é que Dimebag Darrell foi maior que seu tempo e talvez, o garoto que começou tocando Van Halen lá atrás, e sendo expulso de concursos da escola devido a sua técnica, nunca fizesse ideia de que construíria um legado tão gigantesco, nem que sua banda, o Pantera, estamparia o panteão de gala do heavy metal. Em um dia tão sombrio como o 8 de dezembro é para a música pesada. Sobra a sensação de perda, mas ao mesmo tempo, de ter a sorte de um alguém como este ter pisado na Terra e deixando tanto da sua arte, que por muito tempo, ainda irá seguir como um dos grandes e colocando o seu nome em diversos novos sonhadores desse mundo.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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