Resenha: Vocifer – “Jurupary” (2023)
A banda tocantinense de Heavy/Power Metal Vocifer lançou em junho seu segundo álbum, o “Jurupary”. Após a boa repercussão do “Boiuna”, álbum de estreia que saiu em 2020, os fãs foram presenteados mais uma vez com um importante capítulo de sua riquíssima trajetória. Assim como no antecessor, o novo lançamento explora as lendas e histórias por trás de uma figura controversa do folclore amazônico, fazendo com que a banda se destaque como uma das principais representantes da preservação da cultura amazônica ao redor do mundo.
Fundada em 2016, a Vocifer conta na sua atual com João Noleto nos vocais, Lucas Lago no baixo, Pedro Scheid e Gustavo Oliveira nas guitarras e Alex Cristopher na bateria. “Jurupary” ainda contou com a participação de músicos brasileiros pra lá de especiais, incluindo o mestre das quatro cordas Luis Mariutti (Ex-Angra e Shaman), Thiago Bianchi (Noturnall), Daísa Munhoz (Vandroya, Soulspell, Twilight Aura), Daniel Mazza (Banda Inutilismo), Fábio Laguna (Edu Falaschi, Hangar) e os Tambores do Tocantins. Essas colaborações trouxeram ainda mais valor e diversidade ao novo trabalho.
Por conta da boa aceitação do primeiro álbum, os músicos decidiram ousar ainda mais ao trazerem uma boa mescla de suas influências musicais, que não se limitam somente a bandas de Heavy Metal, incorporando no seu som uma boa dose de evolução e maturidade musical, deixando evidente o quanto a técnica de execução e composição melhoraram. Inspirados pelos relatos coletados pelo folclorista Ermanno Stradelli, a Lenda de Jurupari foi adaptada pela Vocifer, estabelecendo conexões com questões cruciais da humanidade na atualidade.
A lenda de Jurupari remonta a uma indígena chamada Ceuci, que desobedeceu à proibição de comer a fruta mapati durante seu período fértil. Como punição, ela foi expulsa da aldeia. No entanto, o pai de seu filho era o próprio Sol, conhecido como Guaraci. Quando chegou a hora do nascimento, seu filho se revelou como Jurupari, uma criatura sábia destinada a trazer novos costumes, leis, danças e música para os homens.
Uma pequena parte dessa história foi apresentada no primeiro videoclipe para a música “The Voice of the Light”, lançado pouco antes do lançamento oficial do álbum. Feito totalmente em forma de animação, o videoclipe nos transporta para o universo mágico e envolvente das lendas amazônicas, complementando perfeitamente a música e a temática do disco.
“Jurupary” foi gravado, produzido, mixado e masterizado pelo renomado produtor Thiago Bianchi, no Estúdio Fusão. A arte da capa, criada por Wendell Araújo, é um verdadeiro convite visual para adentrar o universo do álbum. Vale ressaltar que a produção do álbum contou com recursos patrocinados através do incentivo público gerado pela Lei Aldir Blanc.
O álbum apresenta uma tracklist cativante composta por 11 faixas, nos brindando logo no início com a já citada “The Voice of the Light”, que de cara dá indícios do que vamos encontrar pela frente. As participações especiais trazem um brilho especial para as faixas, como por exemplo, a “Vanity in Disguise”, que conta com Daniel Mazza na bateria e traz um groove bem pesado, que junto com os baixos do Lucas Lago, a transforma em uma das faixas mais pesadas do disco. Impossível falar de participação especial sem mencionar a faixa “Wings of Hope” que conta com o dueto de João Noleto e Daísa Munhoz, que mais uma vez prova que toda música que ela coloca sua voz uma coisa é certa: lá vem coisa boa.
As composições da Vocifer trazem de uma forma natural influências de música regional, impossível não se encantar com “We Are” e sua levada que mescla belas levadas de baião no baixo. Para engrandecer ainda mais a música, na parte percussiva a banda convidou o projeto Tambores do Tocantins para colocar uma roupagem musical contemporânea nos ritmos tradicionais do estado. A fusão de ritmos faz com que essa faixa seja um dos grandes destaques de toda a discografia da banda até o momento. Na sequência, “Life” traz o baixo de Luís Mariutti como uma bela cama sonora para uma música que consegue, de uma certa forma, complementar a anterior. E para fechar o disco sem deixar o nível alcançado até agora cair, “To Be Alive” traz Thiago Bianchi contando de forma limpa em uma bela interpretação, fazendo com que o disco termine tão bom quanto começou. Vale mencionar também o belo trabalho dos guitarristas Pedro Scheid e Gustavo Oliveira ao longo das faixas, ótimos riffs e solos.
Com “Jurupary”, a Vocifer consolida seu lugar como uma das bandas mais promissoras do cenário nacional. O álbum é uma jornada envolvente pelo folclore e pelas lendas amazônicas, destacando a importância da preservação e valorização desta rica herança cultural. Através de suas composições imersivas e colaborações notáveis, a banda nos convida a mergulhar em um universo único, repleto de sonoridades marcantes e histórias fascinantes.
NOTA: 8