Megadeth: 17 anos do lançamento de “United Abominations”

O 15 de maio registra na história do Megadeth o lançamento de dois álbuns. Em 2001 a banda lançava “The World Needs a Hero”, mas o tema do nosso bate-papo hoje é “United Abominations“, o álbum de número 11 da discografia da banda, que completa 17 anos de lançamento na presente data.

O aniversariante do dia é um marco, pois o Megadeth voltava a lançar um excelente disco. Sim, eu digo isso, pois, depois de “Cryptic Writtings” (1997), a banda não manteve uma regularidade em seus lançamentos: o tenebroso “Risk” (1999), o mediano “The World Needs a Hero” (2001), o pedante “The System Has Failed” (2004), que mais se parece com um disco solo de Dave Mustaine. Só que desta vez, ele resolveu remontar o Megadeth e pegou o melhor produtor da época: Andy Sneap (N. do R: O cara fez “estragos” quando produziu o Nevermore e ainda coube a ele a tarefa de consertar os erros do produtor Kelly Gray, que quase colocou o álbum “Enemies of Reality” na escória, mas isso é história para uma outra oportunidade) e o resultado é esse disco maravilhoso, fazendo o fã relembrar a época de ouro da banda. Além de Andy, o próprio Dave Mustaine e Jeff Balding participaram da produção.

Então, diferente do álbum anterior, quando Mustaine gravou como membro único, gravou como membro único, mas acompanhado de outros músicos contratados, desta vez ele juntou os irmãos Shawn e Glen Drover, além do baixista James LoMenzo, que recentemente voltou a fazer parte do lineup do Megadeth, e assim todos foram para o “Sarm Hook End Studios”, em Londres e a mixagem e masterização ocorreu no “Backstage Productions, em Derbyshire”, Inglaterra, de propriedade de Andy Sneap. A bolacha marcou a estreia do Megadeth pela “Roadrunner”, selo por onde a banda lançou três álbuns.

O álbum traz letras bastante ácidas contra a ONU, inclusive, seu título é um trocadilho irônico com o nome da instituição. No ano de seu lançamento, houve um bate-boca virtual entre Mark Leon Goldberg, porta-voz da UN Dispatch e Dave Mustaine. Eu por exemplo, não concordo muito com algumas das letras que Musta escreve, e depois que ele se converteu ao cristianismo, ficou ainda mais chato, porém, me atento mais ao som produzido pelo Megadeth e principalmente, pela sua forma de produzir riffs como poucos na cena. Mustaine afirmou que não começou a composição com ideias pré-concebidas e que as letras em um primeiro momento eram “recados” para as ex-gravadoras, Capitol e Sanctuary, de onde a banda saiu sem deixar um clima amistoso.

Por conta dos problemas de direitos autorais que Mustaine considerou pôr fim na história do Megadeth e seguir como artista solo. Mas quando a apresentação do Megadeth em Buenos Aires teve os ingressos esgotados, ele mudou de ideia e não só manteve a banda em atividade, como gravou aquela apresentação, que foi lançada sob o título “That One Night: Live in Buenos Aires“. E nós agradecemos por Mustaine ter sido sábio en manter o Megadeth.

A regravação de “A Tout le Monde” era em um primeiro momento um bônus para a edição japonesa, porém, o presidente da Roadrunner quis que a faixa fosse o primeiro single do álbum. Dave Mustaine convidou Cristina Scabbia para fazer um dueto com ele e certa vez, a frontwoman falou sobre a experiência

“Eu fiquei muito surpresa com isso porque ‘A Tout le Monde’ é uma música que eu sempre amei. Foi uma grande surpresa para mim receber este convite – fiquei muito honrada em fazer parte dele.”

O disco abre com um dedilhado de Mustaine, que logo seus riffs matadores a transformam em uma excelente música. E eu lembro que quando eu escutei pela primeira vez, falei: “Uau! Enfim, o meu Megadeth voltou”. E é esse o sentimento que “Sleepwalker” traz ao ouvinte que ficou mal acostumado com álbuns como “Peace Sells…But Who’s Buying?”. “So Far, So Good…So What?“, o mais maravilhoso álbum da história do metal que atende pelo nome de “Rust in Peace“, “Countdown to Extinction” ou “Youthanasia“. E o “United Abominations” tem uma abertura fantástica. E para nossa sorte vai seguir assim do início ao fim.

Washington is Next” mantém o nível do disco no alto, com variações dos duetos de guitarras e os riffs que o ouvinte de primeira saca que pertence ao velho Mustaine. Ele tem uma forma própria de tocar e de fazer o seu timbre parecer ser único. Que excelente canção.

Em “Never Walk Alone…A Call to Arms“, temos um Megadeth mais puxado para o Groove. E a coisa ficou boa, a música é uma delícia de se escutar, com solos bem estruturados e os riffs muito bons. Chega a faixa título e ela é mais densa, pesada, bem trabalhada, com refrão grudento. Não ficando a dever em nada às músicas anteriores. A densidade musical se mantém em “Gears of War“, outra música estupenda de boa.

Em “Blessed Are the Dead” temos uma das melhores composições de toda a carreira do Megadeth. Não é exagero. A música é realmente boa, a composição é bem simples, calcada no Heavy Metal puro e simples, mas muito interessante. Eu facilmente a coloco entre as quinze melhores músicas da carreira da banda.
Pray For Blood” tem de volta os riffs de Mustaine, que junto com os demais integrantes elevam a música ao nível mais alto. E falando em riffs, estes são simplesmente hipnotizantes e lhes desafiam a manter seus pescoços parados, seja na sua sala, no transporte coletivo ou onde quer que você esteja.

A faixa oito traz a clássica “A Tout Le Monde“, que aqui ganha um “sobrenome” Set me Free, com uma nova roupagem, deixando de ser (pelo menos do ponto de vista da execução musical) melancólica. E Mustaine acertou em cheio ao trazer a linda e talentosíssima vocalista do Lacuna Coil, Cristina Scabbia, para não somente uma participação especial. Foi um dueto mais que perfeito. Não tenho como escolher um ponto alto de um disco ótimo do início ao fim, mas este momento é histórico com certeza. Duas gerações do Metal em um entrosamento ímpar.
Amerikhastan” é outro metalzão para ninguém colocar defeito, em partes que Mustaine canta, outras ele recita a letra, um solo matador e os riffs, como sempre, sem comentários. Em minha opinião, em matéria de riffs, Mustaine só perde para o rei dos reis, um certo Tony Iommi.

Em “You’re Dead” os riffs já são um pouco mais arrastados na primeira estrofe, aumentando um pouco mais na segunda, mas seguem tão bons quanto as anteriores. A coisa fica mesmo boa no solo, quando a bateria resolve acompanhar a velocidade das guitarras. Nessa hora, a roda abre e tudo pode acontecer.

A bolacha fecha em grande estilo com “Burnt Ice“. Uma música grooveada quase que do início ao fim, quando no final, o pau canta, com solos arrebatadores. Enfim, era o grande Megadeth de volta. Se não com a formação clássica, mas com músicos que honrariam a história da banda e ajudariam a banda no seu retorno ao “mainstream”.

São 47 minutos que passam como um foguete e tudo que queremos após a audição é apertar o play novamente. Temos a veia Thrash Metal de volta em muitas músicas, além de peso e virtuosismo do início ao seu fim. O álbum foi muito bem recebido pela crítica e público. A banda logo saiu em turnê, porém, Glen Drover acabou por sair e foi substituído por Chris Broderick e desde que Chris saiu, o posto de segundo guitarrista tem sido de um rodízio intenso.

O álbum teve uma boa performance nos charts mundo afora: 2° na Finlândia, 5° no Canadá, 8° na “Billboard 200” (a posição mais alta que um álbum do Megadeth alcançou desde “Youthanasia“, de 1994), 9° no Japão, 15° na Suécia, 17° na Áustria, 20° na Escócia, 21° na Noruega, 22° na Dinamarca, 23° na Austrália e no Reino Unido, 24° na Itália, 28° na Alemanha, 31° na Irlanda, 38° na Suíça, 40° na França, 41° no México, 49° na Holanda, 62° na Bélgica, 79° na Espanha.

O Megadeth saiu em turnê em março, dois meses antes do lançamento do play, quando tocou abrindo para o Heaven & Hell e o Down, depois seguiu sendo banda de abertura do Heaven & Hell e posteriormente, embarcou em uma tour com o Machine Head. Nestes shows, a banda apresentava as músicas novas “Sleepwalker” e “Washington is Next“. Depois eles embarcaram na Tour of Duty, uma turnê mundial que durou até março de 2008. A banda também se apresentou em seu festival, a Gigantour, tendo o Static-Xl, DevilDriver, Lacuna Coil e Bring Me the Horizon. Nas apresentações na Austrália e na Itália, Cristina Scabbia subiu ao palco e cantou “A Tout le Monde“.

Essa foi talvez a época mais inspirada do Megadeth no século 21, quando gravou este aniversariante do dia e também seu sucessor, o ótimo “Endgame“. E o Megadeth segue em plena atividade, tendo inclusive, passado pelo Brasil no mês de abril. Hoje é dia de celebrar esse baita disco, torcendo para que a banda lance logo o sucessor de “The Sick, The Dying... And the Dead”. Desejamos longa vida ao Megadeth.

United Abominations – Megadeth
Data de lançamento – 15/05/2007
Gravadora – Roadrunner

Faixas:
01 – Sleepwalker
02 – Washington is Next
03 – Never Walk Alone… A Call to Arms
04 – United Abominations
05 – Gears of War
06 – Blessed Are the Dead
07 – Pray For Blood
08 – A Tout Le Monde (Set me Free)
09 – Amerikhastan
10 – You’re Dead
11 – Burnt Ice

Formação:
Dave Mustaine – vocal/ guitarra
Glen Drover – guitarra
James LoMenzo – baixo
Shawn Drover – bateria

 

Participação especial:

Cristina Scabbia – vocal em “A Tout le Monde (Set me Free)”

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

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