Resenha: Vukovi – “My God Has Got a Gun” (2025)

A banda escocesa Vukovi reafirma sua presença na cena do electro-rock com o lançamento de seu álbum mais ousado até o momento, “My God Has a Gun”, lançado pela SharpTone Records e distribuído pela Shinigami Records. Pesado na medida certa e surpreendentemente acessível, o trabalho marca um novo patamar na carreira da dupla formada por Janine Shilstone e Hamish Reilly. Se com “Nula” (2022) eles já demonstravam estar trilhando um caminho sonoro distinto, neste novo disco o duo mergulha de cabeça em sua identidade artística, entregando um som mais lapidado, visceral e emocionalmente poderoso.

O álbum já abre com um soco no estômago: “This Is My Life and This Is My Trauma” não apenas introduz a temática lírica que permeia todo o disco — saúde mental, dor e resiliência — como também mostra, já nos primeiros instantes, a força criativa da banda. Os vocais de Janine soam etéreos, quase celestiais, enquanto os riffs agressivos de Hamish e a percussão intensa criam um contraste impactante. É uma amostra clara de que Vukovi não está aqui para suavizar sua mensagem.

Logo depois, em “Gungho”, o lado mais eletrônico da banda se destaca, sem perder a energia do rock pesado. A guitarra se mantém afiada, enquanto a bateria imprime uma cadência irresistível. Os vocais atingem seu ápice nesta faixa, com momentos de intensidade que evidenciam o alcance vocal impressionante de Janine — e seu marcante sotaque escocês, que adiciona ainda mais personalidade à canção. Não é à toa que essa foi escolhida como a faixa de destaque para promover o disco.

A canção que dá nome ao álbum, “My God Has a Gun”, traz uma das metáforas mais poderosas do disco. Janine canta sobre a relação opressiva com sua própria mente, comparando-a a um Deus armado que a força a seguir em frente até o esgotamento. É um retrato cru da luta diária contra a depressão, com versos como “Oh yeah, this is what depression looks like”, entregues com uma franqueza brutal.

Outras faixas como “Fallen Beyond” e “Fuc Kit Up” ampliam o espectro sonoro do álbum com uma pegada mais pop-rock, lembrando o trabalho de bandas como Yonaka, mas sem perder a essência rebelde e intensa da banda. Hamish brilha com solos de guitarra precisos e energéticos, enquanto Janine continua a mostrar sua versatilidade vocal, que vai do suave ao explosivo com facilidade.

A intensidade não diminui em “Misty Ecstasy”, uma faixa marcada por uma bateria frenética e guitarras saturadas de reverb. As referências religiosas continuam presentes na letra, com imagens como “Eu sou sua Capela Sistina”, que ampliam o simbolismo espiritual do álbum.

Entre as faixas mais emotivas está “Cowboy”, uma balada dolorosa sobre relacionamentos tóxicos e os traumas que eles deixam. A interpretação de Janine é cheia de dor e força, tornando essa uma das músicas mais tocantes e humanas do disco.

Encerrando o álbum em grande estilo, “Bladed” é uma explosão final que costura todos os temas explorados. Recheada de energia, riffs cortantes e vocais catárticos, a música reforça a mensagem principal do disco com mais uma referência a Deus, ligando o início e o fim em um ciclo coerente e poderoso.

“My God Has a Gun” é um verdadeiro turbilhão emocional e sonoro. Vukovi demonstra maturidade ao explorar novas sonoridades sem perder sua essência. O álbum é ao mesmo tempo intenso, catártico e viciante — um marco na trajetória da banda e uma experiência que certamente vai ecoar entre fãs e novos ouvintes por muito tempo.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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