Resenha: Epica – “Aspiral” (2025)

Poucas bandas dentro do metal sinfônico possuem a coragem de se reinventar sem perder a própria essência como o Epica. Com Simone Simons, Mark Jansen, Coen Janssen, Isaac Delahaye, Rob van der Loo e Ariën van Weesenbeek, o sexteto holandês apresenta em “Aspiral”, seu nono trabalho de estúdio, um testemunho de maturidade e ousadia após mais de vinte anos de carreira. Lançado em 11 de abril de 2025 pela Nuclear Blast e distribuído no Brasil pela Shinigami Records, o álbum confirma a impressionante capacidade do grupo de equilibrar peso, grandiosidade e emoção.

Logo de partida, a energia vibrante de “Cross the Divide” quebra expectativas, evitando a tradicional introdução orquestral e apostando em uma faixa de impacto direto, onde melodias cativantes e guitarras afiadas se encontram de forma quase pop. Essa pegada moderna, que abre espaço para os vocais marcantes de Simone Simons, continua em “Fight to Survive (the Overview Effect)”, canção pulsante que mistura refrão poderoso, passagens instrumentais agitadas e um solo eletrizante, evocando a força do metal com elementos de acessibilidade radiofônica.

Por todo o disco, nota-se uma clara opção por arranjos sinfônicos mais contidos, permitindo que riffs e bases rítmicas ganhem destaque, sem sacrificar a atmosfera épica que caracteriza o som do Epica. A faixa “Arcana”, por exemplo, impressiona ao alternar momentos sombrios e passagens teatrais que remetem aos tempos de “Omega”, enquanto “Obsidian Heart” emociona com sua delicadeza vocal contrastando com um instrumental denso e marcante.

Entre as músicas que mantêm viva a tradição do grupo, três continuam a saga “A New Age Dawns”“Darkness Dies in Light”, “Metanoia” e “The Grand Saga of Existence” — transportando o ouvinte a um território familiar, repleto de coros grandiosos, vocais guturais entrelaçados ao lirismo límpido de Simone, passagens em latim e instrumentação exuberante, muito próxima daquilo que a banda apresentou em álbuns como “Design Your Universe” ou “Consign to Oblivion”.

Em contrapartida, faixas como “TIME” e “Apparition” sinalizam a faceta contemporânea do Epica, ancoradas por grooves envolventes e melodias ágeis, onde a orquestra surge quase como um tempero extra, elevando a densidade emocional sem sobrecarregar os arranjos. Já a minimalista “Aspiral”, que encerra o disco, aposta numa balada atmosférica com inserções faladas, e apesar de não alcançar o mesmo poder de peças antigas como “Rivers”, entrega uma conclusão contemplativa e ousada.

No conjunto, “Aspiral” soa como uma celebração do melhor que o Epica construiu até aqui, mas sem se prender ao passado. Há uma urgência crua e vibrante em cada faixa, que faz o disco se assemelhar a uma experiência ao vivo — orgânica, respirando vitalidade e energia de palco, com mixagem que privilegia a naturalidade das performances. Para uma banda acostumada a produções monumentais e milimetricamente calculadas, essa mudança soa como um sopro de ar fresco, provando que ainda há muito a dizer, mesmo depois de duas décadas na estrada.

Se “Aspiral” for o prenúncio do futuro do Epica, podemos ficar tranquilos: eles ainda sabem muito bem como manter viva a chama do metal sinfônico sem jamais soar datados.

NOTA: 8

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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