Rob Halford sobre morte de Ozzy: “Ele sabia e já esperava acontecer”

O vocalista do Judas Priest, Rob Halford, concedeu uma entrevista ao programa Out Of The Box, da rádio Q104.3 de Nova York, na qual falou de maneira emocionada sobre a morte de Ozzy Osbourne. Além de relembrar o impacto da perda, ele explicou por que o Judas Priest não pôde comparecer ao evento de despedida do Black Sabbath em Birmingham, e compartilhou lembranças pessoais do “Príncipe das Trevas”.

Segundo Halford, a ausência do Judas Priest no tributo teve uma justificativa inevitável: “Fomos procurados pelos Scorpions muito, muito antes de qualquer evento incrível do Sabbath/Ozzy estar sendo planejado [para tocar com eles em Hannover, Alemanha, no mesmo dia]. Então, já tínhamos assumido um compromisso — tínhamos assumido o compromisso de fazer o show com os Scorpions. Conhecemos esses caras há décadas. Estávamos confirmados. E era isso. Então, quando recebemos a ligação [sobre o ‘Back To The Beginning’], porque já tínhamos ouvido rumores de que estava sendo organizado… No meu coração, pensei: ‘A Sharon [Osbourne] vai nos procurar. Eu sei que vai. Não sei como vamos lidar com isso, dizendo que estamos realmente, realmente, realmente arrependidos’. E foi assim que evoluiu para esse dilema. Então, enquanto Ozzy fazia a sua coisa em Birmingham, nós estávamos no palco em Hannover, na Alemanha.”

Mesmo ausente, Halford fez questão de prestar homenagem pouco antes do evento. O Judas Priest gravou uma versão especial de “War Pigs”, clássico do Black Sabbath. Ele contou: “Acho que mostramos um pouco do nosso amor pela banda quando fizemos a homenagem com ‘War Pigs’, quando o Priest gravou uma versão que foi tão bem recebida por todos, de forma tão generosa. Não sabíamos o que iria acontecer. Entramos no estúdio com o sentimento de que essa é uma música do Sabbath, um grande clássico do Sabbath. Não vamos estragar. Vamos dar a ela a homenagem e o respeito que merece. E conseguimos fazer essa contribuição. Estou feliz por termos conseguido participar daquele evento de alguma forma e ser parte daquele dia tão bonito.”

Halford também relatou como recebeu a notícia da morte de Ozzy, descrevendo um dos momentos mais difíceis de sua vida: “Tínhamos acabado de voar de uma das últimas datas na Europa. Fomos para o Reino Unido para um dia de folga, e no dia seguinte teríamos um show lá. Recebi uma ligação da nossa empresária, Jayne Andrews. Ela disse: ‘Você está sentado?’ Eu respondi: ‘Sim’. Ela: ‘O Ozzy se foi’. Eu perguntei: ‘Como assim, se foi?’ Ela disse: ‘Ele morreu’. Eu disse: ‘O quê?’ E ela confirmou: ‘Acabei de receber a notícia’. Eu sabia que não era uma piada, mas o cérebro não processa… porque eu ainda estava no clima, animado, como todos estávamos, depois do show. Eu estava vendo clipes o tempo todo. Pessoas me mandando vídeos: ‘Olha esse momento’, e por aí vai. Então eu ainda estava naquela celebração, naquela festa, na experiência maravilhosa que tudo proporcionou para tanta gente no estádio do Aston Villa e para milhões de pessoas online ao redor do mundo. Todos ainda estavam gritando: ‘Ozzy, Ozzy, Ozzy’. E então recebo essa notícia, e não consigo falar. Não consigo falar. Fiquei sentado, atordoado, como todos nós ficamos. Então o telefone começa a apitar, e eu percebo: ‘É real. É real’. E você tenta dar sentido a isso, mas não consegue. Minha cabeça girava. E então as lágrimas começaram. Eu estava perdido, como todos nós ficamos ao receber aquela notícia.”

Para Halford, Ozzy mostrou uma força impressionante diante da luta contra o Parkinson, mas parecia ciente de que seus dias estavam chegando ao fim: “Todos ainda estamos refletindo sobre esse lado de como ele nos deixou. E vou dar a minha visão pessoal. Ele foi um homem muito forte ao enfrentar o Parkinson, assim como Glenn [Tipton, guitarrista do Judas Priest] ainda enfrenta até hoje. Mas ele chegou a um ponto em que acho que percebeu, com as outras coisas acontecendo em seu corpo, que o relógio estava correndo. Sei que Sharon levou um ano para organizar aquele evento — que Deus a abençoe — e quando todas aquelas bandas começaram a entrar, meu coração pensava: ‘Meu Deus, queria estar lá. Queria estar lá’. Mas tínhamos o show. Assistíamos a tudo, chorando enquanto ele cantava ‘Mama, I’m Coming Home’. Depois vieram outros grandes clássicos do Ozzy. E então, o grande momento com o Sabbath, com a formação real — não vou dizer ‘real’ porque seria cruel, mas a formação que amamos. Bill [Ward] na bateria, Geezer [Butler] no baixo, Tony [Iommi] na guitarra e Ozzy nos vocais. E lá estava o Sabbath. Foi pura alegria, celebração e amor. Dava para ver em seu rosto. Ele estava iluminado. Nunca o vi tão feliz. Então, como você acha que ele se sentiu quando voltou para casa em Windsor no dia seguinte, sentou em sua cadeira e pensou: ‘Acabou. Acabou, acabou’? Acho que, de alguma forma, o corpo dele disse: ‘É hora de deixar ir’. Ele respirou fundo… e deixou ir.”

O vocalista também destacou a crueldade da doença: “O Parkinson é uma doença realmente, realmente cruel e horrível. Ele vai corroendo sua vida — corroendo lentamente, pouco a pouco. E talvez Ozzy tenha pensado: ‘Não vou sair desse jeito. Vou do meu jeito’. E, se foi isso que ele fez, Deus o abençoe ainda mais.”

Mesmo abalado, Halford subiu ao palco no dia seguinte à morte de Ozzy e dedicou a música “Giants in the Sky” a ele. “Recebi a notícia no mesmo dia. Estava no meu quarto de hotel em Leeds, no Reino Unido. Desliguei o telefone, me encolhi em posição fetal e chorei por horas. Não conseguia acreditar. Ainda não consigo. Ainda estou de luto, como tantas pessoas. E tínhamos um show no dia seguinte. Então, como processar toda essa tragédia, todo esse amor? Nunca vi uma demonstração tão grande de afeto. Fizemos o show, e chegamos à música que também vamos tocar quando formos ver vocês — chama-se ‘Giants in the Sky’, do álbum Invincible Shield. Essa música fala das pessoas que amamos na música e que já partiram para um lugar mais bonito. Mencionamos Lemmy [Motörhead], Ronnie [James Dio], Paul Di’Anno [Iron Maiden], Jill [Janus, Huntress], Chris [Cornell, Soundgarden], Janis Joplin, Freddie Mercury… e para aquele show, incluímos Ozzy no final. Eu disse ao público: ‘É muito para compreender, é difícil, mas Ozzy diria: Vamos festejar. Vamos tocar rock and roll. Vamos viver. Vamos aproveitar’. Isso estava no coração, na alma e no espírito dele. Sempre que fazíamos shows juntos, ele me perguntava depois: ‘Você se divertiu?’. Eu respondia: ‘Sim’. E ele insistia: ‘Você realmente se divertiu?’. O que ele transmitia aos fãs, sua generosidade, seu carinho, todas as coisas incríveis que fez pela música — ele era a personificação da bondade nesse sentido. Por isso é maravilhoso estarmos falando dele agora, e devemos continuar falando dele para sempre, assim como sempre falo sobre Ronnie, sobre Lemmy. Todos eles eram meus amigos. Temos que celebrar — celebrar é a maneira de nos ajudar a atravessar o luto. Pensamos nas memórias, na alegria, nos bons momentos. E é isso que sempre faremos com Ozzy.”

Sobre o último contato com o vocalista, Halford contou: “Não. Nós trocávamos mensagens de vez em quando. Porque ele era outro cara de quem eu tinha admiração. Ainda tenho por Alice [Cooper]. [risos] ‘Meu Deus, é o Alice Cooper’. E eu sentia o mesmo na presença do Ozzy, porque ele tinha essa personalidade maior que a vida. Fazia um tempo que não nos falávamos. Mas guardo lembranças maravilhosas das duas oportunidades em que pude cantar com ele no Sabbath. E também dessa recente chance de regravar ‘War Pigs’ com o Priest, que ainda tocamos no início dos nossos shows — uma das maiores músicas de metal já escritas. Essa conexão nunca será rompida.”

Durante um show em Scarborough, na Inglaterra, Halford encerrou com uma mensagem emocionada ao público: “Olha, os últimos 24 horas foram difíceis, certo? Muito difíceis. Mas ele iria querer que estivéssemos fazendo isso. Ele iria querer que estivéssemos juntos, nos divertindo, e é isso que estamos fazendo agora. Nós te amamos, Ozzy. … A próxima música é toda sobre ele e sobre todos os outros grandes que já perdemos. A música deles vive para sempre. Eles estavam aqui conosco no plano terreno. Agora estão no plano celeste, como chamamos. Esta é ‘Giants In The Sky’.”

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

One thought on “Rob Halford sobre morte de Ozzy: “Ele sabia e já esperava acontecer”

  • setembro 4, 2025 em 10:41 am
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    Que mensagem sensacional. Eramos amigos de verdade, este tipo de amizade que une estranhos e os torna irmãos. É meus amigos, os grandes, as lendas, estão partindo, mas deixaram seus nomes escritos na história e se tornaram eternos. Que Ozzy e tantos outros estejam em paz e muito obrigado por nos entreter com belissimas canções, e ainda, partiu deixando uma contribuição enorme para muitas pessoas. O mundo agradece!

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