Da nova geração ao thrash lendário: Exodus e Throw Me to the Wolves e estremecem São Paulo

Texto: Jéssica Valentim
Foto: Gus Palma

Na quinta-feira, 9 de outubro, São Paulo foi palco da única apresentação no Brasil da lenda do thrash metal americano Exodus. O show fez parte da turnê comemorativa dos 40 anos de “Bonded by Blood”, álbum clássico que marcou o gênero e que, na ocasião, foi executado na íntegra. Antes de desembarcar na capital paulista, o grupo passou pelo México e segue agora com a turnê pelo restante da América Latina. A noite iniciou com a apresentação dos brasileiros Throw Me to the Wolves, responsáveis por aquecer o público com uma performance enérgica e pesada.

Throw Me to the Wolves abre a noite com peso e técnica, consolidando seu espaço no metal nacional

Formada em São Paulo em 2023 pelo guitarrista Gui Calegari (ex-Venomous) e pelo vocalista Diogo Nunes (Trend Kill Ghosts), e contando também com a guitarra de Fabricio Fernandes, o baixo de Fábio Fulini e a bateria de Maycon Avelino, a Throw Me to the Wolves é uma das novas promessas do death metal melódico nacional. Com influências de Soilwork, Arch Enemy e In Flames, o grupo combina vocais guturais, guitarras intensas e melodias marcantes. Após lançar os singles “Gaia” (com participação de Björn “Speed” Strid, do Soilwork), “Tartarus” e “Chaos”, a banda estreou em maio de 2025 seu primeiro álbum, Days of Retribution. Desde então, vem dividindo o palco com nomes como Killswitch Engage, Carcass e Batushka, consolidando sua presença na cena metálica brasileira.

Com previsão de início às 19h50, o público já começava a lotar o Carioca Club para prestigiar a abertura da noite. Embora o som da Throw Me to the Wolves não siga exatamente os moldes do thrash metal clássico do Exodus, a combinação funcionou perfeitamente, unindo peso e técnica em uma apresentação de alto nível. A banda merece mais reconhecimento — seu som é extremamente bem executado, digno de grandes festivais. Não seria surpresa vê-los em um futuro lineup do Wacken.

O set, curto porém preciso, percorreu os principais trabalhos do grupo, com destaque para a faixa de abertura “Chaos” e as excelentes “Days of Retribution” e “Gaia”. Mas foi com “Fragments” que a banda conquistou de vez o público, abrindo o primeiro moshpit da noite.

Recebida com entusiasmo, a Throw Me to the Wolves cumpriu com maestria o papel de preparar o terreno para o que seria uma apresentação histórica.

Exodus celebra 40 anos de Bonded by Blood com fúria e precisão em São Paulo

Lançado em 1985, Bonded by Blood não foi apenas um álbum — foi uma declaração de guerra contra a complacência musical de sua era. 

Com Rob Dukes de volta aos vocais após seu retorno em 2025, o grupo apresentou uma formação afiada e coesa, em que a química entre Dukes, Gary Holt, Lee Altus e o baterista Tom Hunting se mostrou evidente. Apenas dois dias antes da apresentação, o grupo havia anunciado que, devido a uma emergência familiar, o baixista Jack Gibson não poderia participar da turnê. Em seu lugar, assumiu o posto o guitar tech e stage manager da banda, Steve Brodgen, que cumpriu o papel com competência e atitude.

Mais do que uma viagem nostálgica, o show foi uma reafirmação da relevância do Exodus, uma banda que, quatro décadas depois, continua a inspirar novas gerações e a provar por que Bonded by Blood segue sendo uma das obras mais influentes do metal extremo.

Com início pontual às 21 horas, o Exodus subiu ao palco do Carioca Club completamente lotado. A turnê celebra os 40 anos do álbum Bonded by Blood, que seria executado na íntegra, ainda que não de forma contínua. Pouco antes do início, as luzes se apagaram e um longo discurso ecoou pelo sistema de som, preparando o público para o que viria. Minutos depois, a banda surgiu no palco e, já nos primeiros acordes, ficou claro que seria uma noite histórica.

A faixa-título Bonded by Blood deu início aos trabalhos, uma abertura explosiva que levou o público à loucura. Não demorou nem trinta segundos para as primeiras rodas se formarem, com pancadaria e todos cantando cada verso em coro. A sequência manteve o clima incandescente com as igualmente potentes Exodus e And Then There Were None, ambas recebidas com entusiasmo absoluto.

Logo após, Rob Dukes mencionou os 40 anos do álbum, exaltou o legado do saudoso Paul Baloff, primeiro vocalista da banda, falecido em 2002, e dedicou a próxima faixa a ele, a pesadíssima A Lesson in Violence. Em seguida, Metal Command encerrou essa primeira parte dedicada ao clássico de 1985.

A viagem pela discografia prosseguiu com Iconoclasm, do álbum The Atrocity Exhibition – Exhibit A de 2007. Nesse momento, uma surpresa tomou conta do público: a banda convidou o baixista Gerson Polo, da banda paulistana Funeral Blood, um tributo ao Exodus, que assumiu o baixo no restante do set, com exceção de uma música.

O show seguiu intenso com Blacklist, do ótimo Tempo of the Damned de 2004, que manteve o público energizado e em constante movimento. Logo depois, a faixa-título Fabulous Disaster, do álbum de 1989, surgiu como uma agradável surpresa, recebendo grande resposta dos fãs.

De volta ao Bonded by Blood, vieram No Love e Deliver Us to Evil, esta última acompanhada da apresentação dos integrantes e do retorno de Steve Brodgen ao baixo, mas apenas nessa faixa. O vocalista Rob Dukes, em seu retorno ao Exodus, foi ovacionado ao longo de toda a noite.

Um dos maiores clássicos do disco, Piranha, manteve o clima caótico e contou com a participação especial do vocalista do Funeral Blood, Fábio Seterval. A intensidade era tamanha que, em determinado momento, alguém da produção precisou pedir pelos microfones que fossem posicionados seguranças próximos ao fosso, devido à quantidade de crowd surfing e à violência dos moshpits.

O set caminhava para o fim com Brain Dead, do Pleasures of the Flesh de 1987, e Impaler, do Tempo of the Damned, ambas mantendo a energia em alta.

Mas, é claro, não poderia encerrar sem o hino absoluto The Toxic Waltz, precedido por uma brincadeira instrumental com trechos de Raining Blood, do Slayer, e Motorbreath, do Metallica, arrancando aplausos e risadas do público.

Com um espontâneo coro de “Olê, olê, olê, Exodus, Exodus!”, a banda finalizou de forma triunfal com Strike of the Beast, a última faixa de Bonded by Blood, encerrando uma noite memorável de puro thrash metal em São Paulo.

Por mais histórico que tenha sido o show, é importante destacar que apresentações desse porte já não cabem mais em locais como o Carioca Club. O espaço claramente se mostrou pequeno para a dimensão do evento, com muitas pessoas tendo dificuldade para enxergar o palco e outras assistindo de áreas laterais ou parcialmente fora do salão principal. O Exodus entregou uma performance impecável, mas fica o desejo de que, em uma próxima visita, a banda possa se apresentar em um local à altura de sua grandeza e do entusiasmo de seus fãs.

Setlis Exodus

Bonded by Blood

Exodus

And Then There Were None

A Lesson in Violence

Metal Command

Iconoclasm

Blacklist

Fabulous Disaster

No Love

Deliver Us to Evil

Piranha

Brain Dead

Impaler

The Toxic Waltz

Strike of the Beast

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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