Resenha: Kataklysm – “Sorcery & The Mystical Gate of Reincarnation”
No intenso início dos anos 1990, quando o death metal parecia competir consigo mesmo em brutalidade e velocidade, um grupo de jovens canadenses resolveu empurrar a fronteira ainda mais para frente. Daquele impulso nasceu o Kataklysm — e, com ele, um dos discos mais intratáveis, furiosos e originais do período: Sorcery.
Lançado em 1995, e agora relançado pela Nuclear Blast e Shinigami Records, o álbum marca a fase inicial da banda, ainda comandada pela figura singular de Sylvain Houde, um vocalista que permanece até hoje como um enigma dentro do metal extremo. Sua performance — profunda, indecifrável, desesperada — é parte essencial da aura caótica do trabalho. Houde não soa como um cantor, mas como um espírito atormentado rasgando os próprios pulmões; sua abordagem emocional e descontrolada é algo que a banda jamais reproduziria após sua saída.
Musicalmente, Sorcery apresenta uma versão do Kataklysm bem distinta da que o público conheceria anos depois em discos como Shadows & Dust ou Prevail. Aqui, a banda é menos acessível, mais complexa e completamente devotada ao caos organizado. O baterista Max Duhamel oferece uma das melhores exibições de sua carreira, combinando precisão e velocidade de um jeito que ajudou a consolidar o rótulo Northern Hyperblast. Ao lado dele, os riffs urgentes de Jean-François Dagenais e as linhas de baixo incisivas de Maurizio Iacono completam um ataque instrumental que não deixa espaço para descanso.
Faixas como “Mould in a Breed”, “Elder God” e “Whirlwind of the Withered Blossoms” mostram uma banda que não buscava consenso — apenas intensidade. O disco encontra brechas para melodias discretas em meio ao turbilhão, como na instrumental “World of Treason”, mas a tônica geral é de violência sonora cuidadosamente arquitetada. É um álbum que exige entrega e atenção, especialmente para quem conhece apenas a fase posterior, mais direta, do grupo.
O legado de Sorcery permanece evidente: é um dos registros mais importantes da primeira onda do death metal canadense, e um testemunho poderoso de como criatividade e caos podem coexistir quando uma banda está disposta a explorar seus limites.
Quem se considera fã do Kataklysm — ou do death metal em sua forma mais primitiva e incendiária — precisa ouvir Sorcery. Não é apenas um álbum: é uma experiência.
NOTA: 7
