Amilcar Christófaro fala sobre shows com Matanza Ritual, política e os 30 anos do Torture Squad
Amilcar Christófaro, baterista renomado do metal nacional, junto ao Torture Squad e que recentemente se juntou ao Matanza Ritual, reformulação da banda de Jimmy London, bateu um papo comigo, onde falou a respeito dos shows com a banda. Além disso, o músico também falou sobre o momento político nos shows e claro, os 30 anos do Torture Squad. Confira a seguir!
Confere Só: Como foi o convite para integrar o Matanza nessa reformulação da banda?
Amilcar Christófaro: Entre 2018 e 2019, eu recebi uma ligação do Jimmy, ele comentando que ia reformular a banda realmente, e pensou em mim como baterista. E eu fiquei lisonjeado com a lembrança, com o convite e aceitei o desafio. Foi assim. Eu fiquei feliz com o convite e vendo a agenda com as minhas bandas, com Torture e Kisser Clan, e vi que daria para a gente começar algo juntos, fazer algo juntos, e aí foi isso. Fiquei muito feliz e estou muito contente em poder ser fiel ao a música da banda que vai para vários lados, como o country music. Aliás, eles inventaram o country core, né? Achei muito legal essa nomenclatura que tem hardcore, tem surf music, tem heavy metal, tem thrash. Então fico feliz de poder ir para esses lados musicalmente falando e atender o som da banda.
O Matanza Ritual tem um estilo diferente do Torture Squad, isso fez você se sentir, digamos, renovado ao subir ao palco com eles?
“Então com certeza tocar outros estilos, fora o que você toca naturalmente, desde quando você começou a tocar um instrumento é revigorante, com certeza. Eu sempre fui um cara assim… eu amo o que eu faço no Torture Squad. Eu amo tanto o que eu faço na minha banda desde sempre. Há 30 anos toco o thrash/death metal, que é o metal extremo, com o Torture Squad, mas que dentro do nosso thrash/death, a gente vai para vários mundos também. A gente ama progressivo e até rock’n roll, música clássica, jazz, enfim, sempre o que a gente gosta, tentamos trazer para o nosso estilo, dentro do nosso embrião do metal extremo. E o Matanza, como eu disse, também vai para vários mundos, dentro do estilo deles, dentro do estilo da banda. Tem o country music, tem o surf music, tem o hardcore, tem partes thrash metal, tem ritmo, tem grooves. Eu sou um cara, um músico que gosta de desafios. E não só isso, eu gosto de respeitar aquele ritmo que eu estou tocando. Então, tentar abraçar ao máximo aquele ritmo que estou tocando, pra ele soar da forma como tem que soar! É isso que eu tento fazer no Matanza e eu sinto que tem dado certo.”
CS: Como estão sendo a resposta do público para essa nova formação da banda?
“A resposta do público tem sido fenomenal. Eu sinto que tem juntado os fãs das bandas que estão ali e da gente. Eu com o Torture, o Felipe com o Angra e o Antônio com o Korzus. Então, os fãs das bandas se juntam aos fãs do Matanza, que é a grande maioria e que muitas vezes curtem todas as bandas. E está sendo muito legal. Eu estou feliz por poder trazer a música do Matanza para esses fãs. Tá na cara que eles tem que continuar curtindo a banda ao vivo, que seria uma pena se não tivesse mais. Os fãs estão lá esperando, sedentos pela banda ao vivo para cantar alto, para abrir as rodas e para interagir ali durante 01h30 ou 01h45 tocando ao vivo. Então a recepção tem sido tem sido muito boa. A gente tem escutado muita coisa legal em relação a sonoridade que a banda está passando. Naturalmente, a gente traz um background mais pesado por vir da cena metal. Isso transparece nas músicas. E pelo que eu estou entendendo, os fãs têm curtido esse approach.”
Vocês tem shows agendados com o Pavilhão 9, uma banda de peso e com letras fortes. Em tempos de política exacerbada e as vésperas da eleição, qual a expectativa para essas apresentações?
“Olha, na verdade não precisa nem ser um show com o Pavilhão 9 ou com alguma outra banda que tem letras que trazem temas políticos, para você ter um clima de alguma forma, em algum momento, algum clima político se instale ao vivo naquele momento do show. A todo momento você fala uma música, você pode tocar uma música, veio um coro de “EI, Bolsonaro, vai tomar no c*”. Isso aí está meio que já normal acontecer. O que pode acontecer é ficar mais evidente, ainda mais forte, se você toca com uma banda que as letras pegam mais, que coloca mais o dedo na ferida. E eu acho que é isso, a gente tem que viver e tem que falar o que a gente sente mesmo! Eu acho que tem que ser dessa forma.”
Vai ser um prazer tocar com o Pavilhão 9, Eu nunca toquei em nenhum festival junto deles, então para mim, será um grande prazer.
Falando um pouco sobre o Torture Squad, a banda está próxima de completar 30 anos de carreira. Há alguma coisa sendo planejada para esta data?
“O ano que vem, o Torture faz 30 anos. Eu costumo contar a partir do momento que a gente entrou em estúdio para gravar a primeira demo, que foi em outubro de 93. Então, em 2023, vai fazer 30 anos. A banda é mais antiga, a banda é de 89, mas até em 92 eles não tinham gravado nada e passou por várias formações. Em 92, quando entrou, eu, o Castor, e eu trouxe o Victor Rodrigues da minha ex-banda, e o Fúlvio Peli também, que era outro guitarrista, com essa formação, a gente começou a ensaiar em 1993 para gravar a demo, que aí foi o primeiro material. E a partir daí que a gente conta, por isso que 2023 vai fazer 30 anos. E tem sim algumas ideias. Esse ano, já vai sair um box com quatro CDS da fase do Renêe da Maiara e vai sair pela Marquee Records, o “Return of Evil”, que é o primeiro EP que a Maiara e o René gravou com a banda, depois o Beyond Systems e tem o CD ao vivo na Live do Manifesto Bar aqui em São Paulo. E a live do Kiss Club, que a gente gravou o Aequilibrium na íntegra. São esses quatro CDs que vão estar nesse box até o final do ano. Então já tem umas coisas antes da data oficial, que são especiais da banda que vai sair junto com o CD ao vivo agora do La Iglesia, que gravamos aqui em São Paulo também. Mas para o ano que vem, uma das coisas que vai fazer parte das comemorações de 30 anos, a gente comprou os direitos dos nossos shows, no festival Wacken Open Air, nos três anos que tocamos, 2007, 08 e 11. Então a gente tem os shows em vídeo e em áudio e vamos lançar isso, os vídeos dos shows completos numa forma de live no nosso YouTube e os áudios num disco ao vivo nas plataformas digitais. Essa é uma das coisas que a gente vai fazer para o ano que vem, como uma forma de celebrar os 30 anos e o ano que vem ainda, a gente lança também um disco novo, que não deixa de ser uma celebração, o nono disco da carreira e mais algumas outras ideias inevitáveis, como tentar fazer um livro com a história da banda, enfim, algumas outras coisas.”
Podemos pensar numa tour futura com ambas as bandas? Como seria para você tocar dois sets de duas bandas diferentes?
“Eu vou responder as duas últimas perguntas aqui, nessa nossa única resposta, porque eu acho que tem tudo a ver. Sobre tocar com as duas bandas: Seria um desafio, um grande desafio, com certeza, porque as duas bandas exigem. O Torture exige mais, por ser um metal extremo, que tem thrash, blast beat, death metal, muita levada de dois bumbos. Mas o Matanza também exige, exige menos que o Torture, mas exige porque tem hardcore, tem, enfim, e uma música energética. Então, eu, como baterista, eu teria que achar meu equilíbrio ali de não me desgastar muito durante um set, porque vou ter ali mais, no mínimo, com um dos dois sets somando os dois sets, no mínimo umas 03 horas de música ali, sendo tocada 01h30 cada banda. Então pra mim seria um desafio, e eu acredito que eu conseguiria. Mas eu teria que andar muito na linha, e me cuidar bem, comer bem e descansar bem pra poder fazer um bom show com as duas bandas. Mas é um desafio que eu encararia e por enquanto não tem nada. Nenhuma ideia, tal. Mas eu acho que nada é impossível, né?”