Angra celebra o melhor dos seus 30 anos com casa cheia em Belo Horizonte

O Angra está percorrendo o Brasil com a sua turnê “The Best of 30 Years” que nada mais é do que a celebração dos 30 anos de carreira da banda, completados em 2021. Essa turnê sofreu o adiamento por conta da pandemia e está sendo realizada após a turnê de comemoração dos 20 anos do lançamento do álbum “Rebirth”. No último dia 29 de abril, foi a vez de Belo Horizonte receber mais uma vez a banda, que passou pela cidade há menos de um ano.

E o que esperar de um show do Angra? A resposta é simples: casa lotada, fãs ansiosos e bem fiéis a banda e a certeza de uma noite de muita festa juntos de uma das maiores bandas de Heavy Metal do país. O show ocorreu na Autêntica, uma das casas de shows mais bem estruturadas e aconchegantes de BH e que carrega um certo ar de nostalgia pelos headbangers, já que no mesmo local funcionou no período entre 1997 e 2011, o Lapa Multishow, casa que recebeu vários nomes clássicos do Heavy Metal mundial.

Às 21 horas a casa abriu suas portas para que a enorme fila que aguardava para entrar finalmente pudesse se acomodar e esperar o show recheado de clássicos do Angra. Mas para fazer as honras e aquecer o público, a banda de Hard Rock Belo Horizontina Electric Gipsy, estava encarregada de preparar o público para a apresentação principal.

A Electric Gipsy vem ganhando bastante repercussão no cenário nacional, principalmente por ter sido uma das bandas que acompanhou o Paul Di´Anno na sua recente e extensa turnê pelo Brasil. O seu guitarrista, Nolas, ainda foi um dos responsáveis por integrar a banda de apoio do ex vocalista do Iron Maiden. Outro fato marcante para a banda foi ter vencido, através de votação popular, o concurso New Blood para tocar no festival Summer Breeze. A banda tocaria no dia seguinte no festival que ocorreu em São Paulo.

O show da Electric Gipsy tinha a previsão de se iniciar às 21:30, mas somente às 22 horas eles entraram no palco. Guzz Collins (vocal), Nolas (guitarra), Pedro Ferreira (baixo) e Robert Zimmerman (bateria) se mostraram bastante animados com a responsabilidade de abrir o show para o Angra e de estarem mais uma vez tocando para o público da sua terra natal. Com um set de 10 músicas, eles mostraram mais uma vez o quanto estão preparados para alcançar voos mais altos.

Com um show eletrizante, executaram seu Hard Rock rápido e bem pesado em alguns momentos, mandando na sequência “Hit and Run”, “More Than Meets The Eye” e “I’m Down (For Her)”, agradando de cara aqueles que não conheciam a banda. Antes de iniciarem a quanta música, um pequeno problema no amplificador fez com que o vocalista Guzz conversasse com o público, e assim perguntou quem ali estava conhecendo a banda naquela noite. Muitos estavam ouvindo o som deles pela primeira vez, porém, mesmo que seu estilo seja diferente do Angra, ficou nítido que a grande maioria estava curtindo o que estavam ouvindo. Foi uma pausa de apenas 3 minutos e quando finalmente o amplificador voltou a funcionar, mandaram “Hot For Teacher” do Van Halen.

O show seguiu quente e sem maiores problemas no som, até que o vocalista fez uma pergunta para o público: Dio ou Ozzy? Reações diversas puderam ser vistas e ouvidas, e assim tocaram “Heaven and Hell” do Black Sabbath em uma execução digna de respeito. Cantar as músicas que o Dio cantou não é fácil, mas o Guzz fez isso de uma forma espetacular. Para encerrar, eles agradeceram por estarem ali abrindo para uma banda que influenciou tantas outras no nosso país e também falaram sobre a sua expectativa para tocarem no Summer Breeze. Pra fechar, mandaram mais duas músicas bem rápidas, “The Devil Made Me Do It” e “Shoot’em Down”, esta última que já pode ser considerada um clássico da banda.

A espera de quase uma hora para a entrada do Angra já estava deixando o público angustiado. Se antes do início do show a casa já estava lotada, pouco antes das 23:35, hora em que entraram no palco, não era possível dar um passo para o lado. Nos primeiros acordes de “Newborn Me”, a plateia veio à loucura.

Goste ou não, mas é inegável a força que Rafael Bittencourt (guitarra), Felipe Andreoli (baixo), Bruno Valverde (bateria), Marcelo Barbosa (guitarra) e Fabio Lione (vocal) trazem junto com o grande e o poder que a banda tem de arrastar muita gente para os seus shows, independente da ultima vez que passaram pela cidade. O público de BH é muito fiel à banda e sempre se renova. Muitos dos que estavam ali, estavam vendo a banda pela primeira vez. Em determinado momento do show, o próprio Rafael perguntou isso e muitos levantaram as mãos em resposta.

O setlist dessa turnê não traz grandes surpresas para quem já acompanha a banda há muito tempo, mas também temos que reconhecer que à medida que novos álbuns vão sendo lançados, fica difícil retirar algum clássico para dar espaço para novas músicas. A banda soube dosar o setlist desta turnê e deixou somente duas músicas do “Rebirth” para dar espaço a outras menos executadas, uma vez que estão vindo de uma sequência de shows que executou na íntegra o álbum. Claro que clássicos como “Carry On”, “Nova Era”, “Nothing to Say”, “Angels Cry”, “Lisbon” e “Rebirth” não ficariam de fora e empolgam qualquer fã. Meio a essas faixas, conseguiram encaixar músicas tão queridas quanto essas percorrendo toda a sua discografia.

“Travelers of Time” do “Ømni” funciona muito bem ao vivo e foi muito bem recebida. Sem receio nenhum e após assistir várias vezes o Angra ao vivo, é com muita segurança que digo que “Ego Painted Grey” fica muito melhor executada com o Lione nos vocais. É inegável a qualidade do vocalista e a sua capacidade de adaptar a sua voz a qualquer música do Angra de qualquer uma das fases. As músicas da fase do maestro Andre Matos pegam pela emoção, mas ainda assim são impossíveis de serem reproduzidas por qualquer outro cantor. Já algumas da fase Edu Falaschi ganham um tempero italiano especial e soam um pouco melhor. O final de “Winds of Destination” com Fabio cantando a plenos pulmões de forma operística chega a causar arrepios.

“Late Redemption” causou emoção dos fãs mais antigos e recebeu uma versão muito boa, com Lione dividindo os vocais com Rafael, inclusive nas partes cantadas em português. Rafael ainda enalteceu a música mineira e ao Clube da Esquina, uma vez que o Angra contou com a participação do Milton Nascimento nessa música do “Temple of Shadows”. Em “Lease of Life”, Bruno deu um show à parte na bateria.

O show correu sem problemas no som, porém vale ressaltar que o volume estava muito alto, acima do que esperamos de uma apresentação em uma casa do tamanho da Autêntica. A altura do som estava incomodando muitas pessoas, que em alguns momentos levavam as mãos aos ouvidos com uma expressão não muito boa. Confesso que também tive problemas com a altura do som, e no dia seguinte o zumbido no ouvido foi algo fora do normal. Gostaria de deixar isso como um ponto de atenção para os responsáveis.

Voltando ao show, uma das partes mais bonitas foi o pequeno set acústico que contou com a “Reaching Horizons”, executada e cantada pelo Rafael (juntamente com todos os presentes) e “Make Believe”. Antes de executar esta última, que contou com Lione no vocal, Rafael falou um pouco o quanto sente a falta do Andre Matos e que ele se lembrava com orgulho dos momentos que sentavam juntos para compor. Neste momento todos gritaram o nome do maestro a plenos pulmões, uma bela homenagem.

Já caminhando para o final da apresentação, “Bleeding Heart” fez todos ligarem as luzes de seus celulares. Antes do bis, “Magic Mirror” foi outra grata surpresa no set, esta que certamente está entre as melhores faixas do último álbum de estúdio.

Para encerrar, o já tradicional medley de “Carry On” e “Nova Era”, que além de levar todos a loucura, fez com que uma grande roda de mosh fosse formada. A alegria ficou estampada no rosto de cada um dos que estavam presentes. Foi uma apresentação irretocável da banda, mesmo sabendo do cansaço físico, principalmente do Rafael e Felipe que horas antes, estavam em São Paulo se apresentando juntamente com o Viper e Shaman no Summer Breeze na bela homenagem que foi feita ao Andre Matos.

Agradecemos aos produtores e ao Emmerson Ferreira pelo credenciamento da equipe do Confere Rock por tornar possível mais uma cobertura de uma das grandes bandas do Brasil que, junto da Electric Gipsy, fizeram um show espetacular. Vida longa ao Angra.

Setlist

Electric Gipsy

  1. Hit and Run
  2. More Than Meets The Eye
  3. I’m Down (For Her)
  4. Hot For Teacher – Van Halen
  5. Right On
  6. Nine Lives
  7. Heads or Tails
  8. Heaven and Hell – Black Sabbath
  9. The Devil Made Me Do It
  10. Shoot’em Down

Angra

  1. Newborn Me
  2. Nothing to Say
  3. Angels Cry
  4. Travelers of Time
  5. Lisbon
  6. Ego Painted Grey
  7. Late Redemption
  8. Rebirth
  9. Winds of Destination
  10. Lease of Life
  11. Black Widow’s Web
  12. Reaching Horizons (acústico)
  13. Make Believe (acústico)
  14. Waiting Silence
  15. Bleeding Heart
  16. Magic Mirror
  17. Unfinished Allegro / Carry On
  18. Nova Era

Renan Castro

Um engenheiro que se divide entre realizar cálculos complexos e a escrever sobre música. Mineiro de Belo Horizonte, berço de grandes nomes do metal como o Sepultura e Overdose, fui apresentado ao som pesado aos 12 anos de idade. Sempre tive o sonho de escrever resenhas de álbuns de Heavy Metal e poder divulgá-las para os apreciadores do estilo, por isso criei a página Nerd Banger no Instagram. Com grande foco no cenário nacional, faço o que posso para apoiar os artistas do nosso Brasil!

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