Angra: há 26 anos, banda lançava o controverso álbum “Fireworks”
Há 26 anos, em 14 de julho de 1998, o Angra lançava o seu terceiro álbum. E “Fireworks” mostra uma sutil, mas importantíssima mudança no seu direcionamento musical. Esse é mais um álbum do qual iremos bater um papo neste domingo.
A banda vinha de um segundo álbum riquíssimo, em que toda a brasilidade musical fora explorada, em conjunto com o Heavy Metal que a banda sempre fez com qualidade acima da média e honestidade. E quem esperava uma continuação de “Holy Land”, acabou surpreendendo-se.
A banda já atravessava alguns problemas internos, tendo inclusive, o vocalista André Matos se desligado da banda antes mesmo do início das gravações de “Fireworks”, Porém, após uma conversa entre o saudoso vocalista e o guitarrista Kiko Loureiro, ele acabou demovido da ideia, mesmo que o futuro nos mostrasse que essa seria uma breve decisão. Edu Falaschi chegou a ensaiar como vocalista e estava pronto para gravar, quando Andre foi convencido por Kiko a retornar. Edu assumiria de vez o posto de frontman no ano de 2000.
Resolvido esse impasse, todos voaram para Londres, e se juntaram no “Metropolis and Rainmaker Studios” ao lado do saudoso produtor Chris Tsagarindes e de lá saíram com essa pérola, a qual iremos destrinchar cada uma das dez faixas contidas aqui.
Ainda em que as raízes brasileiras não estejam tão presentes, em “Wings of Reality” temos influências do Baião, misturados ao Heavy Metal, com direito a uma abertura épica. A quebra de ritmo no meio da música, com Andre Matos brilhando sozinho nos vocais e nos teclados, recebendo a ajuda dos parceiros Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt, além do bumbo duplo de Ricardo Confessori, dão a essa música uma expressão única.
“Petrified Eyes” tem na sua intro um solo bem gostoso de se escutar e até mesmo quem não é fã de música pesada irá gostar de escutar aqueles acordes, mas logo Andre Matos aparece com sua voz forte e temos aqui uma música onde o flerte com o Metal Progressivo é muito intenso. E o clima criado durante toda a música prende a atenção do ouvinte. Perfeita!
“Lisbon” é uma música bem calminha, embora as guitarras não sejam deixadas de lado. Andre Matos contou em entrevista à extinta revista “Planet Metal” que se inspirou na capital portuguesa quando viu uma moradora de rua a cantarolar trechos de uma música, que ele adaptou e a música é um hino, que inclusive, era executada pelo Shaman. Foi uma das músicas que o próprio Shaman tocou em homenagem ao Andre Matos, na apresentação no Summer Breeze Brasil, em abril do ano passado.
“Metal Icarus” é uma das minhas favoritas, onde as guitarras falam mais alto e a performance do baterista Ricardo Confessori (que na época não era apoiador de político golpista, não ofendia os fãs em redes sociais – que nem existiam naquela epoca – e não utilizava a alcunha ridícula de “redpill”) é a melhor neste play. Temos aqui o Metal Melódico com o selo de qualidade que o Angra sempre ofereceu.
“Paradise” é outra que me encanta com seu peso, sua densidade. O solo é o ponto alto desta música linda, que Andre Matos brilha com seu vocal.
“Mystery Machine” traz todo o virtuosismo de todos na banda, uma música bem legal, onde temos toques do bom Heavy Metal Melódico com partes mais Progressivas. E embora as guitarras não estejam dando os rumos na música, elas estão sempre por ali, sobretudo nos solos.
A faixa título é digamos, uma balada. Uma letra bem legal onde Andre Matos narra sob a sua perspectiva, a queima de fogos na virada do ano. Particularmente eu adoro essa música, mesmo não sendo ela uma canção de Heavy Metal em si, muito embora lá no final o Metal se mostre presente.
Até agora nada a reclamar do disco, e as coisas seguem assim com “Extreme Dreams”, uma música que podemos colocar no seu rótulo como sendo mais um Hard Rock. Interessante.
A brasilidade volta com tudo em “Gentle Change“, uma música linda, bem tocada, com tudo de bom que a música brasileira genuína pode nos proporcionar e mostrando que as bandas de Metal são capazes de voos bem mais altos do que simplesmente fazer solos à velocidade da luz ou bumbos igualmente velozes. Essa faixa poderia perfeitamente fazer parte de “Holy Land“.
Fechando o disco com chave de ouro, a minha preferida: “Speed”. Os riffs da dupla Kiko e Rafael são perfeitos e a banda aposta em um clima mais Prog neste som. A quebradeira no solo e a bateria ao final encerram de forma tão épica quanto o início do play.
Chegamos ao final desta bolacha, que em menos de 58 minutos de duração conseguiria, enfim, angariar mais um fã para a banda: este que vos escreve. E muito provavelmente outras pessoas se tornaram fãs em virtude de “Fireworks“. Lembrando que a música “Fairy Tale“, que acabou sendo lançada pelo Shaman, fazendo inclusive sucesso na novela “O Beijo do Vampiro”, da TV Globo, fora apresentada por Andre Matos para fazer parte de “Fireworks“, mas os integrantes recusaram a música. Coisas da vida.
O álbum chegou a ocupar a 41ª posição nas paradas da França, país onde o Angra gozava de certo prestígio. França, aliás, foi o país onde a banda fez uma apresentação em 1998 tendo como convidado especial, ninguém menos que Bruce Dickinson, na época no topo de sua carreira solo e divulgando o álbum “The Chemical Wedding”.
Foi durante a turnê que o caldo azedou, principalmente entre três membros da banda e o empresário Antônio Pironi. Recentemente, o assunto foi trazido de volta a tona com o documentário sobre Andre Matos. Rolou inclusive, acusações de que o empresário estaria pirateando cópias dos álbuns do Angra, o que teria irritado o vocalista e feito com que ele saísse. Antes de se juntar novamente com Mariutti e Confessori no Shaman, ele concentrou seus esforços no Virgo, um projeto mais voltado ao Hard Rock, que gravou com seu amigo Sascha Paeth.
Hoje é dia de celebrar esse belíssimo álbum. O Angra já não é nem sombra do que foi nos anos 1990 e da formação original resta apenas o guitarrista Rafael Bittencourt. Houve conversas para que todos se reunissem, mas o destino levou nosso maestro antes que a reunião ocorresse. Em 2016, durante turnê para comemorar os 20 anos de “Holy Land“, o antecessor, Ricardo Confessori e Luis Mariutti chegaram a tocar, mas Andre, ainda muito magoado, não topou. E quem viu o Andre no Angra, pode se orgulhar. E quem não viu, pode ao menos dizer, como eu sempre digo: eu ouço gente morta!
Fireworks – Angra
Data de lançamento – 14/07/1998
Gravadora – Steamhammer/ Paradoxx
Faixas:
01 – Wings of Reality
02 – Petrified Eyes
03 – Lisbon
04 – Metal Icarus
05 – Paradise
06 – Mystery Machine
07 – Fireworks
08 – Extreme Dreams
09 – Gentle Change
10 – Speed
Formação:
Andre Matos – vocal / teclado
Kiko Loureiro – guitarra/ violão
Rafael Bittencourt – guitarra/ violão
Luis Mariutti – baixo
Ricardo Confessori – bateria
Gosto desse disco…tem uma certa maturidade, experimentando algo do Hard Rock e progressivo!!!! Valeu!!!!