Best of Blues and Rock finaliza edição 2024 com noite de casa cheia em BH

Texto: Leonardo Klink
Foto: Juliano Fonseca

E foi nesta última terça-feira à noite que o Festival Best of Blues and Rock chegou ao fim, neste caso, encerrando com duas apresentações na capital mineira. Além dos shows de maiores proporções, como o já tradicional ocorrido em terras paulistas (22/06), este ano o festival optou por versões “pockets” (pequeno porte) bem válidas que espalharam-se por outras capitais, como o Rio de Janeiro (20 e 21/06), Curitiba (23 e 24/06) e por fim, Belo Horizonte (25/06). Esta última, com número reduzido de apresentações e de dias em comparação às demais.

Os shows que estavam programados para ocorrer na Arena Hall, transferiram-se sem maiores explicações ao já consagrado Mister Rock Bar. Em um primeiro e último momento, não há como descartar que esta mudança repentina tenha acontecido por uma baixa venda de ingressos. Na porta, inúmeros cambistas e mesmo compradores com ingressos de desistentes tentavam “empurrar” um ingresso com a clássica frase de desespero minutos antes do início do festival: “E aí, beleza? Não conhece ninguém não que tá querendo ingresso? Tenho dois”. Os valores variavam de dois por trezentos, um por cento e trinta e até mesmo por cem reais a unidade.

Se a baixa busca pela compra de ingressos realmente foi um fator determinante para a mudanças de casas de show, duas hipótese podem ser levantadas: será que a capital mineira, caracterizada por ter sido berço de inúmeras bandas e vertentes do rock e metal entre os anos oitenta e noventa, está cada vez mais aderindo o interesse em outros gêneros musicais, ou, os apreciadores destes estilos estão ficando cada vez mais exigentes e críticos em relação aos valores dos ingressos referentes às bandas que irão atracar nas Minas Gerais em meio às semanas tão corridas? Nesta ocasião, as atrações foram Zakk Sabbath e a banda nacional de Yohan Kisser, abrindo a noite.

Às 20:40 a casa ainda estava bem vazia, preenchida com vãos e não com o público, diferente de como é de se esperar em uma noite de um festival já em sua 11ª edição. Pontualmente às 21:00, o acanhado Yohan sobe ao palco com sua guitarra e acompanhado de outros dois músicos. Diferente da segunda atração, que trazia uma série de clássicos setentistas do Sabbath em seu repertório as quais já conhecia, a banda de abertura não me era familiar em nada. Talvez, a melhor experiência possível nesta situação específica, algo que também fugia à minha escolha, pois o setlist voltou-se principalmente para músicas que ainda nem foram lançadas.

Algo que pôde ser notado foi que o Mister Rock não preencheu-se totalmente até meados da metade desta apresentação. Até então, a pista VIP (mais à frente do palco) permaneceu com menos da metade de sua lotação, algo que não influenciou ou impactou visivelmente na energia do power trio, formado por Yohan Kisser na guitarra, no vocal e no teclado/sintetizador, por Willian Paiva na bateria e por Augusto Passos no baixo.

Uma pena, pois muita gente perdeu uma baita performance, que soou particularmente em muitas das letras e levadas das canções como uma espécie de Secos e Molhados com mais… “pegada”, e isso é um mérito.

O destaque também foi a regulagem de som da banda, a qual proporcionou uma audição limpa e equilibrada de todos os instrumentos musicais e das canções majoritariamente inéditas e sem resquícios de gravações e, ótimas versões, como “Roundabout” (Yes) e “My Guitar Wants do Kill Your Mama” (The Mothers of Invention/Frank Zappa).

SETLIST

ROSA FÚCSIA

AMOR (FALA) OBRA

A TÁBUA E O METRO

TALL BEEING

TENTO

LOAN SHARK

RIVALS

OS SUPERFLUOS E A SUPERNOVA

ROUNDABOUT (YES COVER)

MY GUITAR WANTS TO KILL YOUR MAMA (ZAPPA COVER)

Após um curto período que os técnicos e rodies tiveram para trocar e organizar os equipamentos da banda, o grande Zakk Wylde (Ozzy Osbourne, Black Label Society, Pantera, Pride & Glory) sobe ao palco às 22:35 empunhando sua guitarra signature. O projeto Zakk Sabbath conta também com as contribuições e excelente entrosamento de Joey Castillo na bateria (ex-Queens of the Stone Age e ex-Danzig) e John DeServio no baixo (Black Label Society e Cycle of Pain). As doze canções tributos (ou seriam covers?) selecionadas para esta turnê compõem os primórdios do Sabbath em estúdio, através de álbuns como: “Black Sabbath” (1970), “Paranoid” (1970), “Master of Reality” (1971) e “Vol. 4” (1972).

 
     

Neste momento do Best of Blues a casa já se apresentava bem próxima de sua capacidade de lotação, quem estava mais ao fundo chegou mais para frente, quem estava fora entrou. Logo nos primeiros instantes da banda subir no palco que nos damos conta de como Zakk é um monstro, seja no tamanho do cara quanto na energia e maneira de tirar um ótimo som e notas certeiras de sua guitarra.

 

Fritação por palhetadas rápidas, solos com os dentes e com a guitarra atrás da cabeça e um bom repertório em uma voz bem próxima do vocal de Ozzy Osbourne nos anos setenta foram algumas das performances e escolhas que fizeram o público vibrar. Aliadas da pouca interação verbal – com exceção nas músicas e nos levantes das palmas e dos “ôôô” –, foram utilizadas como sábios recursos de interação com o público.

 

Muito provavelmente o virtuosismo de Wylde em solos exagerados tenha feito muitos repudiadores dos solos “sem feeling” torcerem o nariz, algo que em alguns momentos realmente tornou a experiência um pouco quanto exaustiva. Vale citar também que além da ótima distorção já característica e influente do músico, talvez o forte destaque e a presença das seis cordas tenha sido ainda mais viabilizada pela péssima mixagem do baixo, instrumento literalmente… baixo e embolado, situação que pode ter prejudicado – ou até mesmo impedido – alguns dos fãs mais audiófilos de reconhecer algumas das passagens tão trabalhadas pelo mais que competente DeServio nas quatro cordas.


Ademais, a seleção e a combinação de músicas lado A com lado B do Sabbath na compilação do dia 26/06 foram estrategicamente feitas baseadas respeitando os timbres que poderiam ser alcançados por Zakk e, também o andamento do show e das emoções que dele geravam, principalmente em ápices com composições e riffs conhecidos até entre os mais leigos, como em Snowblind, Into the Void, Children of the Grave, N.I.B. e War Pigs. Por fim, um espetáculo de muito peso, energia e entrosamento que pôde ter valido cada centavo até mesmo para quem pagou os valores mais caros de ingressos do fest, que margeavam os trezentos e tantos reais.

SETLIST

SUPERNAUT

SNOWBLIND

UNDER THE SUN

TOMORROWS DREAM

WICKED WORLD

FAIRIES WEAR BOOTS

INTO THE VOID

CHILDREN OF THE GRAVE

LORD OF THIS WORLD

HAND OF DOOM/WALL OF SLEEP

N.I.B.

WAR PIGS

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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