Body Count – “Merciless” (2024)
Desde seu retorno há mais de 15 anos, o Body Count tem construído uma carreira sólida, deixando para trás a fama de ser apenas “a banda que fez Cop Killer“. Álbum após álbum, o grupo liderado por Ice-T se reinventou, entregando obras cada vez mais pesadas e afiadas. Agora, com o lançamento de “Merciless”, lançado pela Century Media e distribuído pela Shinigami Records, eles atingem um novo ápice de agressividade e maturidade sonora.
Esse novo trabalho pode ser dividido em dois lados distintos: um focado em temas fantasiosos e outro que encara a realidade de frente. O que une essas abordagens é a raiva constante — presente em cada riff, verso e batida. Algumas faixas mergulham no universo do horror, como a própria “Merciless”, mas é quando a banda reflete a brutalidade do mundo real que o impacto se torna ainda maior. Combinando crítica social com uma execução poderosa, o álbum consegue ser atual, feroz e necessário.
Logo de cara, “The Purge” se destaca ao traduzir com precisão a tensão e o caos do conceito que a inspirou. Já “World War” e “Comfortably Numb” funcionam quase como comentários musicais sobre o que tem sido o ano de 2024. A releitura da clássica canção do Pink Floyd é, inclusive, um dos pontos mais surpreendentes do álbum — transformada em algo mais sombrio, niilista e inquietante, sem perder sua essência.
Uma das marcas registradas do Body Count são as colaborações, e aqui elas se mostram mais eficazes do que nunca. A participação de Max Cavalera em “Drug Lords” injeta uma energia punk intensa e direta, enquanto Howard Jones brilha em “Live Forever”, elevando a faixa a um nível emocional que talvez não fosse alcançado sem sua presença. E sim, há o momento inusitado — e impressionante — em que Ice-T divide espaço com David Gilmour em uma das faixas, provando que o improvável, quando bem feito, pode ser extraordinário.
Nas letras, Ice-T continua afiado, mesclando crítica social e sarcasmo com sua habilidade única de contar verdades duras. Em “Fuck What You Heard”, termos como “Repbludicans” e “Democrips” mostram um jogo de palavras provocativo e inteligente, ainda que por vezes beire o exagero. Já em “Comfortably Numb”, ele mergulha fundo no pessimismo existencial, entregando uma performance desconcertante.
Apesar de ser, talvez, o disco mais coeso do grupo desde sua estreia, nem tudo é perfeito. Faixas como “Do Or Die” e “Lying Motherfuka” parecem menos inspiradas e acabam soando como meros preenchimentos, destoando do impacto geral das outras músicas.
Mesmo assim, o saldo é extremamente positivo. Com “Merciless”, o Body Count entrega uma obra potente, violenta e, acima de tudo, relevante. Em um mundo em colapso, eles fornecem uma trilha sonora brutal — e brilhantemente honesta — para acompanhar a decadência.
NOTA: 7
Aquele cover do Slayer não sai da minha cabeça, muito bom…impecável!!!! Valeu!!!!