Bruno Valverde fala sobre como foi substituir temporariamente Eloy Casagrande no Sepultura

Em 2022, após sofrer uma lesão, Eloy Casagrande, então baterista do Sepultura, ligou para ninguém menos do que Bruno Valverde do Angra e o pediu para que o substituísse enquanto se recuperava.

Durante nova participação no podcast BlahTera, Bruno voltou a lembrar o momento e contou como foi a experiência naquele momento. Ele diz, conforme transcrito pelo Confere Rock:

“Pois é, aí foi também outra das maluquices que a vida vai te apresentando, né? Eu estava em Los Angeles, onde moro desde 2019, num dia qualquer.

Aí o Eloy mandou mensagem: “Tá podendo falar?” Me ligou, né?

E, para explicar um pouco esse meio do caminho, eu pensei: “Bom, eles vão tocar aqui na quarta-feira, era uma segunda. Eu já estava planejando ir ao show, porque eles iam fazer San Diego e depois Los Angeles.” O show de Los Angeles era muito perto de casa, e eu já estava pensando em, sei lá, chegar mais perto da data e mandar uma mensagem: “Ó, tô indo aí ver o Sepultura.”

Quando ele mandou mensagem, eu imaginei: cara, eles estavam no final da turnê. Você sabe como o Eloy toca, né? Então pensei: de repente a logística do equipamento dele deu algum problema, quebrou prato, pedal, não conseguiu suporte suficiente para o final da tour. Achei que fosse isso. Então já fui preparado: “Sei lá, se precisar, a gente dá um jeito.”

Bruno então fala como foi surpreendido pelo real motivo da ligação:

“Aí ele começa a conversa assim: “Cara, quebrei a perna.”

Eu falei: “Não, pera aí, bicho, calma! Vamos com calma, né?” Na hora, eu pensei: “Não, ferrou! Se fosse eu, ia acabar minha vida.” Eu me coloquei no lugar dele, talvez de uma forma até egoísta, mas sincera. Pensei no que eu estaria sentindo naquele momento. O cara tinha quebrado a perna, podia ferrar o sonho, tudo.

Mas ele disse: “Não, calma. Vamos voltar um pouco. Eu só preciso de uma coisa: você tem como fazer esse show aí? Depois a gente vai pra parte mais dramática. Agora eu tô chorando aqui, com dor, mas o show precisa acontecer.”

Não sei se ele já tinha pensado em outras pessoas antes, mas calhou que o Ratum, o Gabriel Ratum — meu drumtech no Angra — estava na turnê com eles nos Estados Unidos, porque o Angra estava em pausa. Acho que conversaram e alguém disse: “Pô, o Bruno tá aqui já.” Foi aquela coisa de estar no lugar certo, preparado.

Por sorte, eu estava numa semana muito no pique da batera, gravando parte de um curso e me preparando para tocar com o Felipe, músicas bem difíceis. Então eu estava afiado, em dia com a técnica. Se eu tivesse viajado no fim de semana, não conseguiria tocar aquelas músicas nem a pau.”

Ele continua:

Eu disse: “Cara, preciso pensar. Não é só ‘vou fazer’. Me passa o setlist, deixa eu ver do que se trata.”

Comecei a ouvir. Conversei com a minha esposa: “E aí, será que eu faço? Tô ferrado, cara.” Até tentei ligar para outros amigos que já estavam acostumados com o set do Sepultura, porque eu não sabia tocar nada. Nunca tinha tirado as músicas, nem mesmo “Roots”. Eu ouvia, mas nunca tinha tocado.

Eram 15 músicas para aprender. Pensei: “Putz, vou ter que tirar todas.” E, claro, não dá pra subir no palco com o Sepultura e fazer qualquer coisa. É a banda Sepultura! Além disso, eu também tinha meu nome a zelar. Então era uma pressão grande.

Decidi encarar. Tive um dia e meio para aprender o set. Passei quase sem dormir. Escrevi tudo no iPad — estrutura, viradas, partes do Igor, que sempre muda groove, dobra tempos… umas pegadinhas geniais. Ouvindo parece simples, mas para tocar é complexo. Tem a pulsação e o respiro dele, muito característicos.

Enfim, aprendi as músicas, passei o som com a banda e rolou. Fizemos três shows, incluindo o de Los Angeles, que era o mais importante, final da turnê.

O Ratum me ajudou muito, já conhecia meu set, deixou tudo pronto. O Dante, hold de guitarra, também sabia tudo. Eu estava com o iPad, com o Ratum de um lado e o Dante do outro. Então, qualquer coisa, eu olhava e tinha alguém me guiando. Foi fundamental.

Bruno ainda fala sobre momentos que foram mais drásticos e que foi convidado a seguir por mais algum tempo com a banda:

“Claro, teve momento de tensão: comecei uma música errado e tive que parar, porque não dava para continuar. O André olhou e disse: “Não é isso, não.” E a gente recomeçou. Mas o público entendeu totalmente a situação e foi super receptivo.

Até me chamaram para seguir para a turnê no México, mas eu já tinha compromissos que não dava para largar. Então, essa parte foi cancelada até o Eloy se recuperar e voltar.”

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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