City and Colour faz show que toca corações inteiros e partidos no Tokio Marine Hall em São Paulo

Vídeo por: Tiago Pereira

Dallas Green (Alexisonfire), por meio de seu projeto solo, City and Colour, conseguiu tocar o coração de todos os fãs, apaixonados ou não, presentes no lotado Tokio Marine Hall, na Zona Sul de São Paulo, no dia 16 de junho. A apresentação, organizada pela Time For Fun (T4F), sucedeu o show realizado dois dias antes, no Rio de Janeiro e marcou sua volta ao Brasil após oito anos por meio da turnê de divulgação de seu último álbum, intitulado “The Love Still Held Me Near” e lançado em março de 2023.

O setlist de 22 faixas – cinco delas após o encore – abordou todos os sete álbuns de estúdio lançados por Dallas desde 2005, além de incrementar um cover de “Nutshell”, do Alice In Chains. Foram sucessos e outras faixas certeiras que levaram os presentes a cantar quase sem parar por uma faixa sequer, com momentos mais calorosos e outros mais tímidos, mas tocando nos pontos emocionais de cada um, independentemente de estarem solteiros, namorando ou casados, mas ainda em um contexto de Dia dos Namorados, mesmo quatro dias após a data em questão.

Momentos antes do show

Esta foi a primeira vez que eu, na função de cobrir shows, vi uma fila muito grande no entorno do Tokio Marine Hall. Para se ter ideia, ela conseguiu quebrar o quarteirão e pegar a parte escura da Rua Castro Verde, que fica atrás da fachada da casa de eventos. Ali já percebi que a promessa era de casa lotada em plena noite de domingo.

O Hall do Tokio Marine já estava muito ocupado. Mesmo sem uma apresentação de entrada na região – como é comum em outros shows -, o que chamou a atenção foi a extensa fila do merchandising, com muitas pessoas a comprar camisas do City and Colour. E do lado de fora do local não foi diferente.

Ao me direcionar para a pista, veio outra surpresa: uma pista premium muito maior que a pista comum, que ficou na área coberta. Talvez isso justifique a fila no lado de fora do Tokio Marine Hall.

De todo modo, assistir a apresentação da pista premium foi algo tranquilo, principalmente por chegar pouco após a abertura dos portões e ficar perto do palco. A lotação da casa se deu em um intervalo pequeno, após as 19h: se nesse momento, metade da pista premium já estava ocupada, às 19h30 era possível dizer que as pistas e o mezanino estavam quase que totalmente ocupados. Nesse meio tempo, os telões laterais do Tokio Marine mostraram, repetidamente, os anúncios dos próximos shows, enquanto o palco foi iluminado por luzes azuis em meio aos últimos testes dos roadies. Um deles, inclusive, se parece muito com o Dallas Green, o que gerou uma piadinha de comparação de algumas pessoas próximas de onde eu estava: “Esse é o Dallas cover!”.

Às 19h55, o terceiro sinal do Tokio Marine Hall veio seguido das orientações sobre o local. Dois minutos depois, em meio aos gritos calorosos da plateia de “Dallas Green” e com a introdução do começo de “Into Something (Can’t Shake Loose)”, de O.V. Wright (1939 – 1980), Dallas Green e os membros de apoio – Matt Kelly (guitarra e teclado), John Sponarski (guitarrra), Leon Power (bateria) e Erik Nielsen (baixo)- entraram no palco para logo iniciar a faixa “Meant to Be”, que também abre o mais recente álbum de estúdio do projeto, “The Love Still Held Me Near” (2023). As imagens abstratas do telão principal viraram mero detalhe perto do coro que o público fez para acompanhar a bela voz de Dallas Green durante a música em questão.

Dallas cantou e se mostrou mais solto no palco ao dançar em “Living in Lightning”, primeira faixa a representar o álbum “A Pill for Loneliness” (2019) na noite. O jogo de luzes azuis e vermelhas também foi um destaque para a performance.

Na troca do violão para a guitarra, foi a vez do também membro do Alexisonfire tocar uma sequência de faixas que, junto à anterior, voltou no tempo a cada obra, com “Northern Blues” – onde se via os membros de apoio mais dançantes, além de ótimos solos de guitarra -, do álbum “If I Should Go Before You” (2015); “Thirst”, do disco “The Hurry and the Harm” (2013); e retomando ao repertório mais atual “The Love Still Held Me Near”, do álbum de mesmo nome. Este bloco de músicas teve momentos lentos, dançantes e agitados – tanto que, em “Thirst”, algumas pessoas da pista chegaram a pular durante o refrão.

Durante “The Love Still Held Me Near”, um fã possivelmente alterado chegou ao ponto onde acompanhei o show e, infelizmente, estragou momentaneamente a experiência das pessoas em volta – e muito provavelmente de pessoas que estavam mais atrás, na pista -, pois começou a cantar e dançar de forma que esbarrava em todos que estavam à sua volta. Isso causou discussões das pessoas em volta contra ele, algo que perdurou durante outras músicas até o momento em que ele passou a se comportar melhor, apenas a gritar em situações esporádicas. Foi o único ponto negativo daquela noite.

Dallas ainda tocou “Two Coins” antes de discursar por um tempo maior, porém ainda breve, perguntando inclusive como que o público estava naquela noite. Em seguida, ele deu início à clássica balada “We Found Each Other in the Dark”, do álbum “Little Hell” (2011), em que o verso “I heard the church bells from afar” foi o suficiente para mais um coro dedicado da plateia. Os mosaicos no telão principal deram um charme ao palco, enquanto Dallas, por meio da música em questão, passou sua mensagem de esperança e superação.

“Weightless” foi outra música muito comemorada no Tokio Marine. Ela, que está no mesmo álbum da faixa anterior, teve bons destaques por parte dos músicos de apoio, seja por meio de pequenos solos de guitarra, seja pelas linhas de teclado e bateria. Os aplausos ao final da faixa logo foram trocados pelas ovações para “Underground”, em meio a vídeos semelhantes ao videoclipe do single do último álbum da banda.

Dallas Green fez seu primeiro solo de guitarra na noite na faixa “Astronaut”, que contou com imagens da Terra, estrelas e outros fenômenos do Universo no telão e que apareceram depois de uma bela introdução do tecladista, feita nos efeitos de sopro de um órgão. Dallas, além de recitar uma letra sobre o distanciamento e isolamento em busca de um significado, também foi mais agitado no palco, na reta final, assim como o instrumental da música, ao se juntar com os demais membros da banda para interagir e dançar.

A apresentação chegou a um tom mais Folk com a música “The Grand Optimist”. Nela, o violão de Dallas é o instrumental na maior parte da faixa, acompanhada de batidas do bumbo e chocalhos de um pandeiro meia-lua no final.

Dallas Green anunciou a faixa seguinte como uma das favoritas de sua vida. E foi assim que iniciou os primeiros acordes de “Nutshell”, um cover da banda Alice in Chains, em que a faixa se torna mais “doce” pela adaptação à voz de Dallas – apesar de todo o teor melancólico da letra seguir o mesmo – e numa versão reduzida, cortando repetições das linhas de violão. O público, mesmo num tom mais baixo do que em outras músicas do setlist, cantou toda a música.

O show prosseguiu com “Little Hell”, faixa que leva o nome do álbum de 2011 e que retomou a carga folk do show, com a mesma pegada de “The Grand Optimist”. Com o fim da faixa, Dallas ficou surpreso ao receber, de presente, um quadro pintado a mão que o mostrava tocando violão. A pintura partiu de uma fã que estava em uma das laterais do palco e, de mão em mão, chegou à grade e, por fim, ao vocalista. Os aplausos foram calorosos, claro, devido à dedicatória e à beleza da arte presenteada.

Após o presente, Dallas e seus companheiros de apresentação tocaram “Waiting…”, primeira faixa da noite que representou o segundo do City and Colour, “Bring Me Your Love” (2008) e que contou com forte iluminação amarela. Foi nela que o público por um todo trouxe o balançar dos braços como uma interação bonita, junto a mais um momento de canto alto por parte dos presentes.

Na apresentação dos membros, duas surpresas: John Sponarski, um dos guitarristas, fez sua estreia no Brasil – logo, foi a primeira vez dele em São Paulo; e o baterista, Leon, em sua primeira apresentação como pai em um dia dos pais – nos Estados Unidos, a data é comemorada em todo terceiro domingo de junho.

O conjunto tocou mais três grandes faixas antes do bis. A primeira, “Hard, Hard Time”, trouxe uma pegada mais country ao show, assim como trouxe momentos de danças mais despojadas de Dallas Green no palco e um solo poderoso de John Sponarski, além de palmas rítmicas do público na metade da faixa.

Depois, veio “Hello, I’m In Delaware”, uma das faixas mais conhecidas e cantadas da noite e, também, a primeira de duas músicas do primeiro disco de Dallas, “Sometimes” (2005) no show. As linhas iniciais de violão se tornam marcantes junto a uma letra que fala sobre os desafios da superação, seja de um trauma, seja de uma relação encerrada.

Os gritos em nome de Dallas e aplausos logo viraram para o início de “Bown Down to Love”, penúltima faixa do disco mais recente do City and Colour e que finalizou esta grande “primeira parte” do show. As camadas da faixa envolveram desde um trecho só de violão a um rock mais lento e, por fim, um ritmo mais parecido com o rock alternativo que levou Dallas e os instrumentistas de cordas a finalizar a faixa ao centro do palco, próximos ao baterista e m círculos, balançando as cabeças enquanto tocavam.

Durante o encore, os roadies voltaram para testes finais, enquanto o público batia palmas num ritmo 1-1-3. No retorno ao palco, Dallas foi muito aplaudido enquanto se direcionava para as quatro últimas músicas.

A apaixonante e também melancólica “Northern Wind” abriu a reta final da apresentação, tendo apenas Dallas ao centro do palco, com seu violão. Além disso, Dallas também tocou uma versão reduzida da apaixonante faixa folk “The Girl”, que muito provavelmente foi o ponto perfeito para os beijos de casais em toda a casa de eventos.

 Em seguida, foi a vez Matt Kelly voltar ao palco, com sua guitarra, para auxiliar na execução de um “medley” entre as faixas “Comin’ Home”, do primeiro disco do City and Colour, e de uma versão acústica do refrão da clássica “This Could Be Anywhere in the World”, do Alexisonfire, o que levou o público ao delírio vocal.

Em seguida, o coro do público voltou com tudo – e talvez tenha atingido seu maior ápice – na música “Lover Come Back”, que fala sobre o arrependimento e a vontade de ter uma reconciliação com o amor perdido. O Country dançante da faixa também foi pivô para mais um balançar de mãos coletivo do público, na reta final.

Por fim, Dallas encerrou a noite não somente com os discursos de agradecimento, desejando uma volta segura ao público e que cuidem uns dos outros, como finalizou com a melancólica “Sleeping Sickness”, que também é do segundo álbum do projeto e que fala sobre sensações como a angústia e as preocupações dos problemas de insônia causados por um medo de dormir e ter pesadelos com os acontecimentos ruins de sua vida. O refrão, claro, foi coletivamente cantado e chegou a ficar mais alto que a percepção da voz de Dallas Green. Uma bela finalização, apesar da letra da faixa final, de um show que agradou a todos os corações que batiam no Tokio Marine Hall e que se mantiveram até por mais tempo no local. Isso porque a lotação foi tamanha a ponto de congestionar as saídas do local.

Veja o Setlist: 

Intro: Into Something (Can’t Shake Loose), de O.V. Wright

  1. Meant to Be
  2. Living in Lightning
  3. Northern Blues
  4. Thirst
  5. The Love Still Held Me Near
  6. Two Coins
  7. We Found Each Other in the Dark
  8. Weightless
  9. Underground
  10. Astronaut
  11. The Grand Optimist
  12. Nutshell (cover de Alice In Chains em versão reduzida)
  13. Little Hell
  14. Waiting…
  15. Hard, Hard Time
  16. Hello, I’m in Delaware
  17. Bow Down to Love

Encore

  1. Northern Wind
  2. The Girl (versão reduzida)
  3. Comin’ Home / This Could Be Anywhere in the World (a segunda como um cover acústico do Alexisonfire)
  4. Lover Come Back
  5. Sleeping Sickness

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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