Crítica: Desastre Total – Woodstock 99

Que o Woodstock de 99 foi um desastre fatídico e imaginável, não é segredo para ninguém. Diferente de 69, a terceira edição do festival ficou conhecida principalmente pelo oposto da sua versão original. Sai o amor, a vibe de flores e energias positivas, e entra o ódio, a raiva e a frustração!

A Netlifx, em 2022, contou essa história em uma série de três capítulos, intitulada “Desastre Total: Woodstock 99″. 

Um ano antes, uma produção já havia dado um panorama do evento, mas em outra casa, a HBO. Porém a abordagem do novo trabalho parece ser mais “amansada”, já que o documentário da atual Max, chafurdava mais na lama que foi todo aquele caos em forma de música.

Voltando a série da Netflix, ela retrata os dias de planejamento (se é que houve um) até a sua execução, e onde as coisas já vinham mostrando que iriam sair de controle a partir do enraivecido show do Korn. Aquela época, eles eram nada menos do que uma das maiores bandas do planeta, prestes a explodir com seu quarto álbum, “Issues” e uma atuação inflamada regendo, literalmente, um mar de pessoas. Desse ponto em diante, as emoções tomaram conta do lugar, numa mistura de calor de mais de 35°, preços abusivos de alimentos e água, segurança mínima e saneamento quase nenhum.

Junta-se isso à um Fred Durst no meio da plateia “sendo Fred Dusrt”, e eis uma bomba relógio em contagem regressiva veloz e que todos sabem que irá explodir. O que essa explosão vai atingir, ninguém pode prever ou mensurar.

Mas em meio a uma contextualização, que a série peca em retratar, e que é um contraponto do filme da HBO, que o faz de melhor forma, Durst não é culpado, ele é só um catalisador. Quem acendeu esse pavio foi alguém lá de cima, “lucrem ao máximo e joguem farelos aos porcos”. Essa é a sensação que temos a ver as duas produções mostrando a equipe do festival cortar gastos com o que seria básico para qualquer evento desse porte funcionar corretamente e, fazendo vista grossa a calamidade iminente.

A série ainda abranda ao não aprofundar as consequências, tendo tempo suficiente por seu formato e omitindo até mesmo mortes que aconteceram durante os três dias do festival, que foram entre 23 e 25 de julho, relatos de doenças posteriores devido ao banho de merda que muitos ali, após banheiros literalmente explodirem e o esgoto deles virar uma fonte a céu aberto, insolação, água insalubre, ferimentos graves, fraturas, custos com a faxina e perda de equipamentos, etc.

Mas no fim, será que foi de fato um desastre? Desastres em sua maioria são eventos não calculados, não são possíveis de se conter, e deixam um rastro de quebradeira em qualquer sentido. Sim, houve a quebradeira, porém, até hoje, onde se completam 25 anos desde aquelas noites, a edição rende grana a “seus cabeças”. Só em vídeo, foram duas produções em dois anos, além de CDs, DVDs e outros produtos licenciados.

Portanto, a tragédia foi mesmo sentida ou um maior lucro é o que importava, mesmo após tudo o que aconteceu? Michael Lang, caminhando desolado após o ataque do terceiro dia entre escombros e cinzas…da vila do comércio, talvez seja a resposta.

 

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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