Crypta: 4 anos de “Echoes of the Soul”

Há 4 anos, em 11 de junho de 2021, a Crypta lançava “Echoes of the Soul”, o álbum de estreia da banda feminina brasileira mais bem-sucedida do Heavy Metal, e que é tema do nosso bate-papo desta quarta-feira, véspera do dia dos namorados, comemorado somente em terras tupiniquins.

A Crypta foi formada ainda no ano de 2019, quando Fernanda Lira e Luana Dametto ainda estavam fazendo parte da Nervosa. Em 2020, o mundo ficou boquiaberto com o anúncio das duas, pois a Nervosa atravessava um ótimo momento, tendo sido uma das atrações do Rock in Rio de 2019, quando tocaram no Palco Sunset, ao lado de nomes como Claustrofobia, Torture Squad, Anthrax e Slayer. A banda estava escalada para tocar no icônico Wacken Open Air do ano de 2020, mas a pandemia de COVID-19 acabou adiando os planos. Foi então que ambas aproveitaram que o relacionamento dentro da Nervosa não estava bom e anunciaram a nova banda.

Elas recrutaram uma dupla de guitarristas: a neerlandesa Sonia Anubis, que tinha uma passagem marcante pela banda Burning Witches e também a mineira Tainá Bergamaschi, que havia tocado na Hagbard. Então tínhamos uma banda de Death Metal 100% feminina, o que não era uma novidade, a não ser pelo fato de ser uma banda internacional, porém, com sede no Brasil.

No anúncio, Fernanda e Luana disseram que a nova banda teria uma pegada mais Death Metal, estilo com o qual ambas eram mais identificadas, e que a Crypta, por ser uma banda primordialmente de Thrash Metal, era praticamente inviável. Em 16 de junho de 2020, a banda anuncia um contrato com a Napalm Records, e no mesmo ano, a banda lança o primeiro single: a música “From the Ashes“, que conta a história de Fênix, da mitologia grega. Deu tão certo que a música se tornou um clássico da banda e a música é sempre a última a ser tocada nas apresentações ao vivo.

O próximo passo era entrar no estúdio para gravar o álbum de estreia: isso aconteceu no mês de janeiro de 2021, quando as quatro foram para o Family Mob Studio, de propriedade do ex-baterista do Sepultura, Jean Dolabella e do ex-guitarrista do Desalmado, Estevam Romera. A produção ficou sob responsabilidade de Thiago Vakka, enquanto que a masterização foi feita pelo renomado Jens Borgen. A arte de capa foi assinada por Wes Benscoter, que já havia trabalhado em álbuns do Slayer, Kreator e Black Sabbath.

Bolacha rolando, as meninas nos presentearam com um excelente álbum de Death Metal. São dez faixas, cada uma mais poderosa que a outra, e a duração do play é de 41 minutos. Os destaques ficam para a já citada “From the Ashes“, “Starvation“, “Death Arcana” (que na primeira turnê, era a música que abria as apresentações da banda), “Under the Black Wings“, “Kali” e “Blood Stained Heritage“, sem desmerecer as que não foram citadas. É uma estreia com o pé na porta.

E melhor do que a sonoridade da banda, é o posicionamento delas, o que mostra que elas aprenderam a aula principal do Rock, que é a de contestar, ainda incomoda aquela turma que defende aqueles que não respeitam o resultado das eleições e tenta aplicar um golpe de Estado. Mas como a Fernanda Lira já confessou em entrevista para este redator que vos escreve, os haters são ótimos para o algoritmo das redes sociais. E ela utiliza bem a internet para divulgar seu belo trabalho.

Como o álbum foi lançado no meio da Pandemia, e estávamos ainda em lockdown, precisamos aguardar a flexibilização do distanciamento social, embora o governo anterior fizesse pouco caso, ignorasse que era um problema que todo o planeta enfrentava, e até mesmo fazia piadas, ridicularizando aqueles que morriam sem ar. Mas tão logo a vida foi voltando ao normal (N. do R: graças à vacina), todos nós pudemos ver as meninas em ação. Foram diversos shows dentro e fora do Brasil, com destaque para as participações em Wacken e no Rock in Rio (2022), Summer Breeze Brasil (2023) e elas também foram a banda de abertura do Incantation, durante sua turnê pelo Brasil, também em 2023.

Infelizmente, em 2022, a guitarrista Sonia Anubis anunciou que estava saindo de forma amigável da banda. Ela ficaria com a Cobra Spell, banda que ela formou nos Países Baixos. Para o seu lugar, foi recrutada a guitarrista Jéssica Di Falchi, que gravou o álbum posterior, “Shades of Sorrow“, mas acabou anunciando a saída neste ano. Atualmente, o posto de segunda guitarrista está sendo ocupado por Helena Nagagata. Não há informações se ela será efetivada ou não.

Era só o começo de uma bela caminhada de uma banda que faria história. E a prova de que sim, as mulheres também podem ter espaço em um meio tão machista como o Rock/ Metal. Claro que existem aqueles que desdenham das meninas por puro sadismo, só porque, no entender destes, elas teriam que ser contra as minorias, apoiar dublê de humorista que acha legal fazer piada com alguém pela cor de sua pele ou pela deficiência física. Elas não concordam com isso e embora não abordem estes temas em suas letras, elas são muito politizadas. E claro, estão do lado certo da história.

Hoje é dia de comemorar esse grande álbum. O fã que fala mal das meninas por má vontade, deveria sentir orgulho dobrado, primeiro por ser uma banda brasileira, depois por serem mulheres, buscando o seu espaço na cena. E o Metal fica muito mais bonito com as mulheres em ação, não é mesmo, caro leitor? “Echoes of the Soul” envelhece muito bem, obrigado. E tem o selo de Made in Brazil. Goste você ou não.

Echoes of the Soul – Crypta
Data de lançamento – 11/06/2021
Gravadora – Napalm Records

Faixas:
01 – Awakening
02 – Starvation
03 – Possessed
04 – Death Arcana
05 – Shadow Within
06 – Under the Black Wings
07 – Kali
08 – Blood Stained Heritage
09 – Dark Night of the Soul
10 – From the Ashes

Formação:
Fernanda Lira – baixo/ vocal
Luana Dametto – bateria
Sonia Anubis – guitarra
Tainá Bergamaschi – guitarra

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

2 thoughts on “Crypta: 4 anos de “Echoes of the Soul”

  • junho 12, 2025 em 9:07 pm
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    Tempo passa rápido demais. Sou fã das meninas do Crypta, album impecável e com ótimas melodias brutálicas. Luana Dametto toca muito e com técnica magistral, sem erros e suor. Tá melhor do que muito banda com homens por aí, abraços.

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  • junho 12, 2025 em 11:37 pm
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    Realmente o tempo passa rápido!!!! Bons tempos de “Echoes of the Soul”…gosto muito desse album, valeu!!!!

    Resposta

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