Dope e Static-X fazem estreia em solo brasileiro com shows enérgicos, público eufórico e homenagens a Wayne Static
Texto: Tiago Pereira
Fotos: André Tedim
Quis o destino que o Static-X pudesse estrear em solo brasileiro neste ano. Coincidentemente, na semana que marcou o aniversário de dez anos da partida de Wayne Static, fundador da banda, e no trigésimo ano desde a fundação da banda. Tais situações contribuíram para um show fenomenal no Terra SP, localizado na Zona Sul de São Paulo, no último dia 7 de novembro, que contou também com a abertura e estreia da também banda estadunidense Dope, concretizando assim um evento de duas grandes bandas tanto do Nu Metal, quanto do Metal Industrial. Tudo isso, claro, sob a organização da Rider2 Brasil.
Fora a estreia das bandas, a noite chuvosa também sacramentou a versatilidade vocal de Edsel Dope, fundador da banda que leva seu sobrenome e que, no Static-X, atua sob o pseudônimo Xer0, em um tributo ao amigo Wayne. As semelhanças vocais facilitam sua atuação na banda californiana e seu potencial vocal ajuda a atingir os gritos estridentes dele, característica que era destaque nos trabalhos do vocalista, falecido em 2014.
Apesar de a casa de eventos não lotar por completo – uma parte do fundo da pista não ficou totalmente ocupada -, a energia do público presente foi suficiente para agitar as apresentações das duas bandas. O Dope, por exemplo, pegou um Terra consideravelmente vazio, com pouco mais de um terço da pista preenchida que, no entanto, valeu por uma casa completa devido a entrega absurda dos membros da banda e aos pulos e cantos das letras por parte dos presentes, em uma apresentação consideravelmente curta, mas compreensível pelo fator Edsel, que se apresentaria com a banda seguinte.
Já no Static-X, com um público mais encorpado, as 14 músicas tocadas, com foco no álbum de estreia “Wisconsin Death Trip” (1999), os fãs tiveram uma verdadeira imersão que envolveu os sentimentos de nostalgia, euforia pela estreia da banda e emoção com as homenagens feitas para Wayne Static, seja por meio dos discursos de Edsel (Xer0) e do baixista Tony Campos, seja pelas imagens que apareceram durante o refrão e a reta final do single “Cold”, de 2001.
Momentos antes de Dope
Houve uma pequena demora para que a casa começasse a encher nas devidas proporções da apresentação inicial. Isso muito provavelmente ocorreu por conta dos impactos da chuva que, ao longo daquele dia, foi relativamente constante – ora fraca ou sem chuva, ora mais forte – e provavelmente causou certo atraso de parte do público. Ainda assim, os que entravam no Terra aguardavam com uma série de covers de músicas pop internacionais, em versões de Metal principalmente concentradas no Metalcore. Assim, sucessos de Adele, Pharrell Williams, Taio Cruz, Miley Cyrus, Lady Gaga e Katy Perry, Rihanna e outros artistas do segmento tinham versões Metal reproduzidas nas caixas de som.
A expectativa, claro, era grande, ainda mais com um local em que praticamente todos os espaços permitem uma visão nítida do palco.
Dope
Edsel Dope abriu a noite com a banda que fundou em 1997. Ele, junto a Andre “Virus” Karkos (guitarra), Chris “Chrissy” Warner (bateria) e Daniel Fox (baixo) – notou-se a ausência de Acey Slade -, abriram a noite de forma enérgica, num verdadeiro esquenta para o show principal e em um setlist relativamente curto, com uma intro e seis faixas, uma delas sendo um verdadeiro medley de sucessos da banda nova iorquina.
Os dez minutos de atraso, possivelmente causados por uma passagem de som em cima da hora e alguns ajustes importantes no som, não foram motivo de impaciência ao público. Ainda assim, houve “cobranças” de alguns fãs, na língua portuguesa e em tom de brincadeira, pedindo o início porque trabalhavam no dia seguinte.
Assim, às 21h10, os membros do Dope entraram no palco. Ovacionados e após a introdução reproduzida, o quarteto iniciou com a poderosa “Blood Money”, que também abre o álbum “Blood Money Part 1” (2016), seguida de “Bring It On”, do disco “Group Therapy” (2003). A energia dos membros era perceptível, a destacar os movimentos intensos de Daniel Fox e seu baixo e as batidas e pedaladas sinceras de Chrissy. Consequentemente, o público veio junto, às ordens de Edsel Dope, chegando a pular energicamente na segunda faixa citada.
No entanto, o poderio do par de bumbos da bateria tornou a sonoridade um pouco mais complicada de se ouvir, para quem estava nas primeiras filas da pista, sendo difícil de identificar voz e guitarra. A situação melhorou nas faixas seguintes.
“Bitch”, outra faixa a representar o “Group Therapy”, deu sequência ao show após o breve discurso de Edsel Dope e fez a dobradinha com a faixa anterior. A animação tanto do público, quanto da banda, prosseguiu em um Terra SP que ainda não estava consideravelmente ocupado e que, no entanto, pulsava freneticamente. Já “Debonaire” foi “uma volta a 1999”, como reforçou o frontman, faixa esta que esteve na trilha do primeiro Velozes e Furiosos. Tal música foi a única do disco “Felons and Revolutionaires” e manteve o ritmo da casa no alto.
Chegada a reta final da breve abertura da noite, os membros do Dope tocaram um medley de grandes sucessos da banda. Esse momento é representado pela faixa “Die, boom, Bang, Burn, Fuck”, do disco “ No Regrets” (2009), que representa os singles “Die MF Die”, “I’m Black”, “Sick” e “Burn” e o cover de “Fuck da Police”, do N.W.A.. Dessas, apenas o cover citado não foi tocado no show do Terra SP. E foi justamente na parte de “Die MF Die” que o público mais acompanhou a letra, junto a Edsel Dope, em um dos grandes picos enérgicos da noite.
O Dope finalizou a noite com o cover de “You Spin Me Round (Like a Record)”, do grupo Dead or Alive, e que Edsel denominou como “a música mais estúpida de todas”. Foram os últimos momentos de uma performance esplêndida do quarteto, apesar dos problemas que envolveram os graves dos bumbos da bateria, nas caixas de som da frente do palco. Importante foi a gratidão da banda após o show e mesmo tendo que sair rápido para os preparativos do Static-X – principalmente de Xer0…
Momentos antes do Static-X
Boa parte dos minutos iniciais de preparo do palco envolveram o público da grade. Eles, que disputaram por palhetas e baquetas, ainda conseguiram identificar duas palhetas do baixista Daniel Fox, que caíram durante a apresentação. Claro que isso não atrapalhou o trabalho dos roadies, mas se tornou um ponto interessante por conta da breve atenção que eles deram ao público.
Fora isso, os testes da banda – também atrasados – indicaram uma melhora no som. O atraso, de mais dez minutos, foi necessário para garantir que tudo estava OK. Em todo este tempo, a playlist que tocou antes da primeira apresentação voltou, na mesma ordem, mas sem entediar o ansioso público.
O início do show, de fato, se deu às 22h20, pouco após a reprodução de “Walk”, do Pantera, e de “Time Warp”, do músico Richard O’Brien, nas caixas de som – ambas contadas como músicas introdutórias.
Static-X
O segundo ato de Edsel Dope, agora como Xer0 – inclusive, vale identificá-lo assim, daqui em diante -, veio com os membros que, junto a Wayne Static, foram a formação clássica da banda. Tony Campos (baixo), Koichi Fukuda (guitarra) e Ken Jay (bateria) entraram no palco ovacionado e, por fim, Xer0 (guitarra e vocal), trajado com máscara e roupas que lembram o aspecto robótico, além de iluminação vermelha nos olhos e um topete digno de, assim como os demais aspectos, relembraram Wayne Static e simbolizaram o tributo da melhor forma.
O setlist de 14 músicas teve um foco no disco “Wisconsin Death Trip”, de 1999, além faixas que passaram pelos álbuns “Machine” (2001) e pelos lançamentos feitos após o retorno do grupo, em 2018 (com Xer0), como “Project: Revolution Vol. 1” (2020) e “Project: Revolution Vol. 2” (2024).
“Hollow”, do disco de 2020, abriu a noite com tudo. Mas é em “Terminator Oscillator”, que formou a dobradinha com a anterior, que o público usou a voz para cantar e soltou as energias pela primeira vez, nesta apresentação, a contar os pulos da plateia e a primeira aparição, no palco, de um homem de paletó e calça brancas, portando uma grande cabeça em formato de um dos logos da banda – um X envolto de um círculo e com raios na parte superior.
Sozinho, Ken Jay pediu por palmas do público – muito bem atendidas, inclusive -, ao introduzir “Love Dump”, primeira faixa de “Wisconsin Death Trip” da noite. Os demais membros voltaram logo depois e dão prosseguimento a mais uma música com muito peso sonoro e características claras do Metal Industrial. Xer0, inclusive, chegou a girar em círculos no palco enquanto tocava uma parte da música. Na sequência, “Sweat of The Bud” destacou poderosas linhas de baixo de Tony Campos.
Foi em “Wisconsin Death Trip”, faixa-título do álbum de estreia, de 1999, que o público entrou em um forte pico de energia, seja acompanhando a letra, seja pulando e, também, participando do pequeno – mas intenso – mosh mais ao fundo da pista. Xer0 foi um verdadeiro frontman ao guiar o público em todos esses aspectos e se dedicar muito bem aos refrões da faixa, seja na voz, seja na guitarra.
“Fix” e “Bled for Days” deram sequência ao repertório do álbum de estreia do Static-X. Ambas também tiveram o carinho especial do público, que acompanhou as letras da melhor forma possível. “Black and White” foi a próxima, como a primeira música representante do álbum “Machine” (2001). Já em “Z0mbie”, única música do álbum “Project: Revolution Vol. 2” a entrar no setlist daquela noite, o refrão contagiante teve o apoio das imagens do telão, que não somente mostrou a letra desta parte, como também imagens de zumbis e alguns personagens zumbis famosos, a exemplo de Frankenstein.
Tony Campos aproveitou da pequena pausa da banda para discursar, agradecer e saudar o público insano presente no Terra SP. Tudo isso segurando uma garrafa de cerveja e demonstrando muito ânimo com a energia que o público demonstrou até ali. “Get to The Gone” deu sequência à apresentação, animada pela roda aberta pelo público a pedido do baixista. A energia do público se manteve constante, também, em “I Am” que, assim como na música anterior, contou com trechos da letra num telão muito bem animado.
Até esse momento o público se mostrou enérgico. Mas foi em “Cold”, um dos maiores sucessos do Static-X e presente no álbum “Machine”. Não somente o sentimento de nostalgia pelos anos 2000 bateu por conta de tal música, como as imagens de Wayne Static apareceram durante os refrões, o que atenuou ainda mais o coro potente do público. Mas o pico emocional maior ocorreu perto do final da faixa, pois imagens variadas do saudoso vocalista e guitarrista, em diversos momentos de sua vida, vieram em sequência no telão. Elas se finalizaram com uma única foto de Wayne acompanhada da frase “Forever With Us” e dos anos de nascimento e morte do vocalista (1965-2014). Algo incrível e que arrancou aplausos – e até lágrimas – do público presente no Terra.
O primeiro grande bloco do show do Static-X terminou com “I’m With Stupid”, outro sucesso presente no álbum “Wisconsin Death Trip” e que elevou novamente a euforia dos fãs. Moshes, pulos e coros vieram a todo o vapor e conduziram o primor musical da faixa em questão, que também contou diversas bolas jogadas pelos roadies e que transformaram o palco em uma verdadeira festa de celebração.
O Encore foi rápido para Tony Campos. Sozinho no palco, ele discursou novamente aos fãs da banda, agradecendo e muito pela presença, celebrando a vida e memória de Wayne Static e, pouco depois, contando com a ajuda de Xer0 para apresentar os membros. O público, infelizmente, não foi atendido após incessantes pedidos por “The Only”, principal faixa do disco “Shadow Zone” (2003) e icônica trilha do jogo Need For Speed: Underground.
O fim do show chegou com “Push It”, em um último pico de energia da banda e do público. Não somente a reprodução foi perfeita, como o coro do público novamente fez diferença com coros, gritos e muitas ovações ao final da faixa – e da apresentação.
A retribuição da banda, claro, veio com muitos gestos de agradecimento, que passaram pelos agradecimentos aos aplausos, cumprimentos ao público da grade, jogadas de palhetas, a tradicional foto, outro discurso de Tony Campos e mais gestos de gratidão para todos os cantos e setores do Terra SP. Um debut em dose dupla que, mesmo com os devidos problemas com o grave em determinados momentos dos shows, provou que Dope e Static-X têm uma base que pode, com certeza, se mostrar maior com a possibilidade de ambas as bandas virem mais vezes ao Brasil. Não só para São Paulo, mas expandindo para outras cidades e até participando de festivais. Quanto ao público, o possível misto da expectativa por um show que parecia impossível, a ansiedade por este momento e toda a euforia nos dois shows foram totalmente descarregadas.
E por fim, Edsel Dope merece os aplausos. Tocar por duas bandas numa só noite é para poucos. E a filtragem torna as ocasiões ainda menores se isso ocorre com um vocalista, ainda mais neste caso, em que há drives vocais diferentes para cada banda e que o frontman executou perfeitamente em ambos os casos.
E tudo isso me leva a crer que Wayne Static, em outro plano, com certeza ficou feliz com o que aconteceu no Terra SP!
Setlist Dope
Intro: Confessions of a Felon
- Blood Money
- Bring It On
- Bitch
- Debonaire
- Die, Boom, Bang, Burn (medley das faixas “Die MF Die”, “I’m Back”, “Sick” e “Burn”)
- You Spin Me Round (Like a Record) (cover de Dead or Alive)
Setlist Static-X
Intro 1: Walk (música de Pantera)
Intro 2: Time Warp (música de Richard O’Brien)
Intro 3: Evil Disco
- Hollow
- Terminator Oscillator
- Love Dump
- Sweat of the Bud
- Wisconsin Death Trip
- Fix
- Bled For Days
- Black and White
- Z0mbie
- Get to the Gone
- I Am
- Cold (dedicado e com homenagens a Wayne Static no telão)
- I’m With Stupid
Encore
- Push It
Outro: Machine