Draconian leva atmosfera e emoção com sua nuvem negra a Barra Funda em sábado gelado

FOTOS: GUSTAVO DIAKOV (em cobertura para o site Igor Miranda)

Em meio a problemas técnicos, Draconian faz sua aguardada estreia na América do Sul com apresentação em São Paulo

Come to Brazil!” – E não é que o internacionalmente conhecido mantra do internauta brasileiro em qualquer postagem de suas bandas estrangeiras favoritas nas redes sociais fez efeito? Corroborado pela própria banda no palco da Fabrique Club, no sábado, 26 de agosto, o pedido foi ouvido e enfim os representantes suecos do doom metal, Draconian, estreiam no país, 20 anos após lançarem seu primeiro album. O resultado? Um evento sold-out, fazendo com que uma segunda data fosse aberta no dia seguinte no La Iglesia, para poder dar conta dos fãs que não conseguiram ingresso.

Além da longa espera, outros motivos do show ter formado uma fila que dobrava esquinas na Barra Funda foram a promessa de que a banda faria um setlist especial passando por toda a carreira, e a presença de Lisa Johansson, que retorna à banda após hiato de uma década. Ou seja, as expectativas estavam lá no alto.

Às 17:55h, a maior parte do público já havia entrado e se abarrotado na pista do local, momento flagrado pelo próprio membro formador Johan Ericson, que apareceu brevemente para tirar uma foto dos fãs, que após alguns testes do gelo seco, já estavam todos a postos para a entrada da banda, batendo palmas e clamando Draconian, Draconian!; às 18:15h finalmente se ouvem, ainda que abafadas, as primeiras notas da bateria de Jerry Torstensson para a épica The Sacrificial Flame, do mais recente album, Under a Godless Veil. Os gritos e aplausos mais fortes vêm de fato quando Lisa abre a boca: a voz delicada e angelical da bela sueca contrastando perfeitamente com os guturais de um encapuzado e mal encarado Anders Jacobsson é, de fato, impressionante.

O setlist segue, nessa primeira parte, com o intuito de divulgar o último trabalho, e então, com as primeiras saudações direcionadas ao público e puxando a participação com palmas, vem a etérea Lustrous Heart; e em seguida, podemos ver a empolgação de Daniel Arvidsson (previamente guitarrista e atual baixista da formação), que dedica um brinde de vinho a todos os presentes, antes do início de The Sethian, faixa onde também performa vocais junto a Lisa. Na sequência, a intimista Sleepwalkers faz os casais ali presentes trocarem carícias ao som de sua idolatrada banda.

Um pulo de volta a 2015 com Stellar Tombs, que causa bastante agitação no início (sim, mesmo sendo uma banda de doom, há passagens de maior peso e momentos estrategicamente favoráveis à prática do headbanging), e arranca uma longa salva de palmas para Lisa pela execução da faixa originalmente cantada por Heike Langhans, ao que a cantora retribui com um agradecimento em português, causando ainda mais frisson, ao ponto de Anders brincar que também deveria ter ensaiado algumas palavras em nosso idioma para poder expressar gratidão à receptividade do público. E nesse momento, a imersão que deveria tomar conta do ambiente para início de Sorrow of Sophia dá lugar a um silêncio constrangedor causado pela falha no sampler, denotando a falta que faz a presença de um tecladista ao vivo. Os músicos até tentam quebrar o gelo: “Sophia is coming soon” (Sophia já vem), diz Lisa, que também responde ao berro de um fã apaixonado com “I love you too” (“eu também te amo”), enquanto Daniel  – sempre acompanhado de sua garrafa de vinho –  comenta “vocês já esperaram 20 anos, acho que podem esperar mais dez minutos”, arrancando risos da plateia.

Enfim o problema é resolvido e se encerra a primeira parte do set, para então sermos presenteados com a prometida viagem pela carreira da banda. Elysian Night, de 2011, é certamente um dos momentos de holofote para o solo de Johan, embora o volume de sua guitarra estivesse abaixo do esperado para tal performance; em seguida, temos Seasons Apart, que boa parte do público canta junto; e então somos transportados de volta ao primeiríssimo album com The Cry of Silence, para delírio dos fãs, que também esbanjam conhecimento de repertório batendo palmas de entusiasmo já no playback de chuva que anuncia A Scenery of Loss, do album Arcane Rain Fell, o que parece comover Daniel, que exclama “é, acho que vocês já sabem qual a próxima faixa” e diz que está sendo incrível a participação de todos.

O show segue com mais algumas faixas do album Sovran, lindamente executadas por Lisa em um dueto teatral quase remetendo ao “Fantasma da Ópera” com Anders, e uma faixa que, segundo ele, não tocavam há mais de uma década: The Morningstar. O guitarrista recém adicionado ao line-up, Niklas Nord, embora quase não tenha se comunicado diretamente com o público, estava bastante sorridente e confortável em performances junto a Daniel, que em dado momento puxa o microfone e provoca: “Já estão cansados? Porque nós não estamos”. E realmente, ainda havia muita lenha pra queimar, incluindo mais pérolas do início da carreira, relembrando a entrada de Lisa, em 2002, e o album de demos Dark Oceans We Cry. Uma das mais pesadas faixas do set, The Amaranth, precede a melódica Daylight Misery; e, como se o público do Fabrique naquela noite precisasse da introdução, Anders explica que a faixa que encerraria a apresentação se trata de um poema musicado – quase um réquiem, com seus 15 minutos, a sombria Death, Come Near Me é performada com as luzes da casa propositalmente apagadas de maneira a convidar o público a fazer sua parte com os celulares e isqueiros.

Sem fazer uso de quaisquer adereços de palco nem figurinos meticulosamente planejados, mas com a performance de altíssima qualidade e carisma um tanto quanto inesperado de um grupo sueco de doom metal, os músicos fazem uma passagem inesquecível para os apreciadores do estilo e prometem não demorar mais tanto tempo para voltar.

Setlist:

The Sacrificial Flame

Lustrous Heart

The Sethian

Sleepwalkers

Stellar Tombs

Sorrow of Sophia

Elysian Night

Seasons Apart

The Cry of Silence

A Scenery of Loss

Dishearten

The Morningstar

Pale Tortured Blue

The Amaranth

Daylight Misery

Death, Come Near Me

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *