Mudhoney mata a saudade de paulistanos com “aula magna” de grunge e público efervescente no Cine Joia
Texto: Tiago Silva
São Paulo viveu uma verdadeira noite Grunge no Cine Joia, no Centro de São Paulo, no último dia 21 de março, com a volta da banda de Seattle Mudhoney à capital paulista após pouco mais de dez anos. O evento, organizado pela Maraty Produções, também contou com a abertura do paraense Elder Effe e sua banda, além dos santistas do Apnea.
O quarteto estadunidense, considerado um dos pioneiros do Grunge, trouxe um setlist de 29 músicas que passou por praticamente todo o repertório de álbuns de estúdio da banda, com exceção dos discos “Since We’ve Become Translucent”, de 2002, e “Under a Billion Suns”, de 2006, mas com a inclusão de uma faixa do EP “Morning in America”, de 2019. As faixas foram uma mistura entre músicas de álbuns mais recentes, a destacar o último lançamento do quarteto, “Plastic Eternity” (2023), com clássicos do repertório de álbuns do final dos anos 1980 com os anos 1990. Junto a isso, um público que matou completamente a saudade de um show da banda em solo paulistano, promovendo bate-cabeças intensos e nostálgicos nas faixas mais clássicas e enérgicas, levando o Cine Joia, lotado no show principal, a uma verdadeira viagem no tempo, como se todos ali estivessem nos anos 1990.
Já as bandas de abertura trouxeram shows de alta qualidade. Elder Effe e banda vieram com um repertório de singles lançados recentemente e nos últimos anos, contando também com a participação de João Lemos, da banda Molho Negro, em duas faixas, além de letras e discursos com forte carga crítica, a destacar as críticas ao momento do estado do Pará e da Amazônia, durante a execução de Rato City, e a homenagem feita com João para Mestre Laurentino (1926-2024), considerado “o roqueiro mais antigo do Brasil). Já o Apnea veio com uma poderosa sonoridade Grunge mesclada com elementos do Stoner Rock e do Metal dos anos 1970, com uma das faixas em destaque por suas inspirações nos primórdios do Silverchair.
Elder Effe e uma imersão ao rock paraense
O músico Elder Effe, nascido em Castanhal, interior do Pará, fez as honras de abrir o evento junto a sua banda, composta por Bruno Cruz (guitarra), Inesita (baixo) e Augusto Oliveira (bateria). O músico e companheiros tocaram um setlist com oito faixas carregadas de temas importantes que envolvem o estado paraense, como críticas à política local e os ataques ao bioma da Amazônia, além de críticas sociais e homenagens a figuras locais, como o falecido Mestre Laurentino.
Às 20h28, Elder e banda entraram no palco quase que de surpresa, mas com uma saudação breve: “São Paulo, chegou a hora!”. Havia bandeiras do Pará em cada caixa de retorno, numa evidência ainda maior do possível orgulho dos músicos pelo estado de origem.
O cartão de boas vindas da sonoridade do grupo veio com “Ego”, single de agosto de 2024, com ótimas linhas de bateria e guitarra e uma letra crítica às formas de bajulação. Logo ao fim, Effe fez questão de explicitar a felicidade em abrir o evento: “(…) era um sonho de criança estar num show do Mudhoney. Imagine abrir para eles!”. “Na Pressão”, single de 2022, é outra faixa que engloba uma boa variação Grunge e de Rock Alternativo, numa sonoridade muito bem dedicada ao vivo.
Já “Motim” trouxe uma linhagem Grunge poderosa, que levou a pequenas lembranças da sonoridade do Nirvana, mas com a originalidade do músico e banda sobressaindo a isso e, claro, casando muito bem com o nome e o tema da faixa em questão. Foi durante esta música que Elder Effe fez questão de relembrar um momento importante do Pará, a Revolta da Cabanagem, de cunho popular, que aconteceu no Pará – à época, ainda como a província do Grão-Pará – entre os anos de 1835 a 1840 e que gerou conflitos violentos contra as autoridades imperiais devido às condições socioeconômicas precárias que a população da região, principalmente os indígenas e mais pobres, viveram. Em meio ao discurso importante, Effe segurou a bandeira do Pará e foi aplaudido pelo público presente, tendo ainda um tempo para que ele e Bruno, em meio ao instrumental final da banda, pudessem colocar ainda mais peso sonoro em suas guitarras.
Veio então a música “Monstro”, lançada por Elder em fevereiro deste ano, e cujo músico dedicou como “um ode aos esquisitos como nós”. E ainda saudou: “Viva os esquisitos!”. Numa sonoridade ora mais tranquila, ora mais pesada, a letra era uma verdadeira crítica aos preconceitos e intolerâncias, se colocando como um “monstro” para uma sociedade julgadora a qualquer coisa fora do padrão social. Em seguida, “Fantasma” trouxe ótimas linhas de guitarra e baixo dos músicos da banda.
João Lemos, da banda Molho Negro, foi o convidado de Elder Effe naquela noite. o músico subiu ao palco e virou o terceiro guitarrista para as duas músicas seguintes, sendo a primeira delas “Laurentino”, uma homenagem a Mestre Laurentino (1926-2024), considerado como “o roqueiro mais velho do Brasil”. Elder, levantou uma bandeira com o rosto de Laurentino e o relembrou em seu discurso de homenagem, no meio da faixa em questão: “Essa música é uma homenagem ao nosso querido Mestre Laurentino. Mestre Laurentino nos deixou no final do ano passado, com 98 anos de idade. Assim como na Ilha de Marajó, ele era conhecido como ‘o roqueiro mais antigo do Brasil’. Salve, Mestre Laurentino!”. Logo na sequência, Bruno Cruz trouxe um ótimo solo de guitarra, em meio ao constante e rápido ritmo da banda.
Elder, banda e João Lemos também trouxeram ao palco a faixa “Derretendo”, da banda brasileira The Sinks, com participação de Effe na versão de estúdio. Além de uma sonoridade bem cadenciada pelos músicos, ainda houve uma pequena brincadeira em que Elder cita o Cine Joia em meio a letra da música: “O Cine Joia também está derretendo”.
O encerramento da apresentação de abertura se deu com “Rato City”, música com uma carga crítica enorme ao apontar problemas evidentes das grandes cidades, como violência, poluição e os impactos do aquecimento global. Além de uma sonoridade pesada por todos os músicos, os projetores de fundo também mostraram manchas que se movimentam aleatoriamente. Elder Effe, no meio da música, trouxe o último discurso da noite, numa explicação bem precisa ao conteúdo apresentado e às visões da banda: “Isso é uma música de protesto, porque o Rock é sobre isso, não é mesmo? Nossa música não é trilha sonora (…). Somos completamente contrários à homofobia, sexismo, xenofobia”.
Effe aproveitou, também, para denunciar as atitudes do governo estadual do Pará, em relação ao COP30, conferência da ONU que acontecerá em novembro deste ano: “E tem mais: nesse momento, em Belém do Pará, o governo do estado tá fazendo um enorme pão e circo com uma coisa chamada COP30. Repúdio total ao uso da Amazônia como moeda de enriquecimento de família de políticos. Repúdio total aos Barbalhos. A gente não quer Coldplay tocando em Belém, a gente não quer Mariah Carey! A gente quer nossos mestres e mestras fortes, nossos professores fortes! Queremos nossos artistas locais fortes, nossa cultura viva! Principalmente a Amazônia protegida, e não sendo usada como penduricado para mineradoras. Beleza? Repúdio total!”.
O público presente no Cine Joia, ainda que timidamente, repetiu o verso “Calor infernal / o lixo tá aumentando e eu vou passar mal” até o retorno total do instrumental, que seguiu poderoso até o fim e com as adições de um ótimo solo de guitarra de Bruno Cruz e viradas de bateria de Augusto Oliveira. Por um todo, uma apresentação poderosa tanto na sonoridade e nas letras, quanto nas manifestações e críticas precisas e homenagens de Elder Effe e banda.
APNEA
Os santistas liderados pelo baterista Boka (Ratos de Porão) foram a segunda banda de abertura da noite, num setlist de sete músicas que, além do Grunge, também abraçaram sonoridades pautadas no Stoner Rock e variações do Metal dos anos 1970.
Além de Boka, Marcus Vinícius (vocal, guitarra), Nando Zambelli (guitarra) e Gabriel Imawaka (baixo) iniciaram a apresentação às 21h24, após uma extensa – porém dentro do tempo – passagem de som. Marcus, logo após a saudação, agradeceu, em nome do APNEA, ao grupo de Elder Effe, principalmente à Inesita, pelo empréstimo do baixo para a apresentação, uma vez que o kit de Imawaka aparentemente apresentou problemas antes do show.
“Paper Cup”, single de abril de 2024, abriu o show já com o peso da mistura entre Grunge e Stoner Rock de uma das propostas, somados a uma ótima projeção de manchas pretas, no telão do teto, que se movimentavam freneticamente como no show anterior. Destaque, também, para o solo de Zambelli no meio da faixa.
Em seguida, veio “Undertow”, single mais recente do grupo (setembro de 2024), com a predominância Stoner somada com linhas que lembram momentaneamente a sonoridade do Black Sabbath nos anos 1970 e o ótimo riff dos guitarristas. Zambelli, inclusive, se mostrou um dos mais animados na noite a partir desta faixa, quando tocou em volta de seu posto original, ora se aproximando do público e ora mais atrás. Durante a faixa, há um pequeno e rápido momento de falha no microfone de Marcus. Nada que atrapalhasse a apresentação por um todo.
“Peacefully”, faixa presente no primeiro álbum do Apnea, “Sea Sound” (2022), trouxe de volta ao show o peso Grunge, com fortes linhas e viradas de bateria de Boka e um riff absurdo de Marcus e Nando – que também arriscou o primeiro de mais alguns pulos no palco, em ótima performance. Já na bela “Deepness”, a banda mostra uma sonoridade inspirada na fase Frogstomp do trio Silverchair: momentos mais calmos, guiados por linhas calmas dos guitarristas e pratos do baterista e com o destaque vocal, seguidos de um momento mais pesado no refrão. Tudo isso cadenciado de forma espetacular e aclamado pelo público ao final – principalmente após as últimas viradas de Boka.
O grupo seguiu com “Death Race”, numa ótima cadência da banda. Depois, “Hope Springs Eternal” trouxe um ritmo inicialmente mais lento, mas muito bem cadenciado vocal e instrumentalmente pela banda, a ter como maior destaque, na “segunda fase” da faixa, um bom solo de Zambelli, com distorções e feeling performático.
Já a última faixa da apresentação do Apnea foi “In Search of Peace”, segundo single que a banda lançou na carreira, em novembro de 2020, com uma ótima sonoridade Stoner Rock desde o começo e nuances de Metal ao longo da faixa que incrementaram a sonoridade muito bem. Nando Zambelli, inclusive, voltou a dar saltos no palco, num complemento à uma ótima execução sonora que a banda apresentou ao longo do show e que alimentou ainda mais o aquecimento para o que viria a seguir.
Momentos antes do Mudhoney
Com o fim do Apnea, virei para trás no intuito de recuar para ver o Mudhoney mais de longe, prevendo que a parte plana da pista estivesse caótica. Foi quando percebi que o Cine Joia estava mais cheio do que no começo do evento.E o local encheu cada vez mais, conforme chegava o horário para o show principal.
Ao longo desse tempo, o PA reproduziu uma playlist com clássicos do Punk Rock que levaram parcelas do público a cantar conforme seus gostos, como “1969”, do Stooges, “Surfin’ Bird”, na versão do Ramones – originalmente, ela é do grupo The Trashmen -, e “Even Fallen in Love”, do Buzzcocks. Porém, as que puxaram um coro massivo do público em espera foram “California Über Alles”, do Dead Kennedys, “Frances Farmer Will Have Her Revenge on Seattle”, do Nirvana, e principalmente “Pretend You’re Dead”, da banda L7, que coincidentemente se apresentou em São Paulo no dia seguinte, no Terra SP.
Ao longo desse período de músicas, um roadie testou todos os instrumentos, de modo que garantisse o funcionamento de todo o kit e dos sistemas de som. E desse modo, com tudo nos conformes, o Cine Joia poderia voltar aos anos 90 por, ao menos, uma hora e meia.
A aula magna de Grunge do Mudhoney
Eram 22h34 quando os membros do Mudhoney subiram em meio ao final de “Pretend You’re Dead”, do L7 – apesar de não ser uma introdução, o coração dos fãs considerou que fosse, por todo o contexto anteriormente mencionado -. Mark Arm (vocal e guitarra rítmica), Dan Peters (bateria), Steve Turner (guitarra principal) e Guy Maddison (baixo) subiram as escadas de acesso ao palco do Cine Joia e, ovacionados, tiraram um pequeno tempo para testar os instrumentos por uma última vez.
Ainda assim, daria pra se dizer que o show começou antes mesmo que alguma nota da primeira música das 29 presentes no setlist fosse tocada: Mark Arm voltou para o backstage, pois teria esquecido algo e, na volta, foi amplamente aplaudido por retornar ao palco rindo, com os setlists impressos em mãos. Ele fez questão de colocá-los nos postos de cada membro da banda para, aí sim, iniciar a apresentação.
A primeira faixa da noite foi “If I Think”, do primeiro álbum de estúdio da banda, “Superfuzz Bigmuff” (1988). Os primeiros coros, ainda tímidos, vieram nas primeiras aparições do verso “If I Think I think of You”, prosseguindo pelas fases mais agitadas e bem conduzidas da faixa, a incluir um ótimo solo por parte de Steve Turner. As ovações ao final da faixa levaram Mark a soltar um “obrigado” em português.
“Move Under” foi a segunda faixa e levou o público pela primeira vez ao repertório do mais recente álbum de estúdio do Mudhoney, “Plastic Eternity” (2023). Dan, Guy e Steve fizeram um ótimo início cadenciado, complementado por Mark e sua voz.
Mas é em “Get Into Yours” que o público “explode” pela primeira vez. O clássico, presente no segundo disco da banda, “Mudhoney” (1989), levantou os fãs para o primeiro grande bate-cabeça da pista do Cine Joia naquela noite, iniciado logo após o primeiro verso da faixa, “I’m crawling out of my skin” e inflamado pelos pequenos refrões e, principalmente, pelo solo de Steve Turner na segunda parte da música. Foi a partir dali que o público pôde, em alusão ao termo “aula magna” dito anteriormente, replicar os ensinamentos da banda.
“Nerve Attack”, do álbum “Digital Garbage” (2018), serviu quase que como um “descanso” em maio ao primeiro pico de agito do público, já que o ritmo era mais tranquilo, apesar de uma letra pautada em algo que tenha causado um momento de fúria ao eu lírico. O clima positivamente caótico da pista voltou com “Into the Drink”, com uma roda ainda maior e que cobria praticamente toda a faixa do meio da pista até a mesa de som, além de muitas pessoas tentando ser carregadas pela multidão no alto. Os coros do público também voltaram nos refrões, acompanhando Mark Arm em “But I don’t got what you want / And I don’t are what you think / Better back off, back off, back off, baby / You’ll get dumped in the drink / Intro the drink”.
A faixa seguinte foi “Almost Everything!”, num início bem tocado por Dan Peters e que foi constante por boa parte da faixa. Os moshes, apesar de menores nesse momento, seguiram intensos, inspirados na verdadeira “viagem” que foi o ritmo da faixa e a letra dela.
Já a clássica “Good Enough” elevou a intensidade de um público já ensandecido. Quem descansou, voltou com tudo e quem se manteve na roda teve que aumentar sua intensidade, pois pulos também foram incrementados pelos fãs. A faixa, que assim como “Into the drink”, compõe o terceiro álbum de estúdio do Mudhoney, “Every Good Boy Deserves Fudge” (1991) e trouxe a aceitação das imperfeições como tema, em meio a linhas simples e constantes que, ainda assim, inflamaram e muito o público. O que já era frenético ficou ainda mais com “Judgement, Rage, Retribution and Thyme”, do álbum “My Brother the Cow”, a ponto de o mosh chegar brevemente ao começo da ladeira da pista, com um público totalmente entregue a sonoridade Grunge em seu estado mais primoroso.
É até comum pensar que a situação se acalmou após duas pedradas, mas não. O quarteto de Seattle trouxe “Let It Slide” para o palco, mantendo a insanidade da maior parte do público que batia a cabeça, cantava no meio da pista e indiretamente incentivava mais pessoas das partes de cima da pista a descer para aquele cenário. Da mesma forma, alguns fãs que estavam mais à frente do palco começaram a subir, provavelmente sentindo o impacto da energia massiva da maior parte do público.
A parcela vocal do público foi destacada quando começou a tocar “Sweet Young Thing Ain’t Sweet No More”, com um coro constante e que disputava com Mark, enquanto a banda soltava uma ótima sonoridade do início ao fim. O resultado foi a aclamação geral com aplausos e gritos.
Para abrir a segunda dezena de músicas e formar a dobradinha de músicas da era Superfuzz Bigmuff com a faixa anterior, os membros do Mudhoney tocaram a poderosa “Touch Me I’m Sick”. Os primeiros acordes de Mark levaram o público ao êxtase novamente, tornando o bate-cabeça gigante na pista e tendo o canto da faixa como acompanhamento, a destacar o verso que leva o nome da faixa e a repetição de “If You don’t come” na reta final. Além disso, outros elementos que podem me levar a dizer que este foi o momento mais apoteótico da noite foram o aumento de pessoas carregadas no alto e até mesmo um fã que conseguiu subir no palco, ficar alguns segundos dançando e voltar na wave, para a admiração dos membros da banda.
O quarteto prosseguiu com “Little Dogs”, música que encerra o último álbum de estúdio da banda e que trouxe um ritmo mais tranquilo ao público, que acompanhou com palmas no alto. Depois, “Real Low Vibe”, do álbum “Tomorrow Hit Today” (1998), estendeu o clima calmo e fez jus ao nome da faixa. O destaque se deu nas linhas distorcidas da guitarra de Steve Turner que, junto com o ritmo de Dan Peters na bateria, ditaram o ritmo da faixa.
A energia do público voltou em “You Got It”, do álbum homônimo do quarteto, porém focada num coro poderoso que acompanhou Mark Arm por toda a música e teve seu ápice na repetição do verso “Keep It outta my face”, na reta final. Já o retorno dos moshes caóticos se deu em “Suck You Dry”, única faixa a representar o disco “Piece of Cake” (1992), repetindo boa parte do que aconteceu cinco músicas antes, numa intensidade semelhante.
Os membros do Mudhoney voltaram ao repertório mais recente com “Souvenir of My Trip”, que quebrou novamente o ritmo absurdo dos fãs na pista, porém manteve a qualidade sonora constantemente no topo, a incluir nuances de sintetizadores que davam um ar de uma viagem espacial. Logo depois, “Tom Hernan’s Hermits”, do mesmo álbum de 2023, veio como uma dobradinha de tal lançamento e já emendada na faixa anterior, seguindo o ritmo mais calmo – apesar das poderosas batidas de Dan Peters. Logo depois, veio a rápida, porém impactante, “F.D.K. (Fearless Doctor Killers)”, que trouxe ao show, pela primeira vez, uma predominância da sonoridade Garage Punk da banda.
“Oh Yeah” foi a segunda faixa da noite a representar o disco “Digital Garbage” e retomou a energia dos fãs na pista, com mais um bate-cabeça insano. No palco, Mark Arm se dedicou a fazer os gritos de “Oh Yeah” mais intensos que poderia, acertando muito bem no quesito.
A vigésima música da noite, “Next Time”, do álbum “The Lucky Ones” (2008) marcou uma sequência de músicas que Mark Arm apenas cantou, assim deixando a guitarra de lado por um tempo e focando na voz e performance enquanto os demais tocavam. Logo depois, veio “I’m Now”, do mesmo álbum, para formar a dobradinha. Já o rápido e impactante Garage Punk de “Chardonnay”, do disco “Vanishing Point” (2013), retomou o bate-cabeça na pista, permitiu uma performance diferenciada de Mark Arm e ainda deu espaço para um ótimo solo distorcido de Steve Turner.
“Paranoid Core” e “Human Stock Capital” foram músicas que mantiveram a energia do público no alto, além de trazer mais de uma mistura entre Grunge e Garage Punk. Já “21 Century Pharisees”, Dan Peters trouxe mais de suas ótimas linhas rítmicas, somadas com um momento engraçado em que Mark Arm, durante o solo Steve, improvisou uma dancinha que tanto lembrava Michael Jackson em “Thriller”, como também lembrava as performances de Ian Curtis nos tempos de Joy Division.
O fim deste grande primeiro ato do show se deu com “One Bad Actor”, música que compõe o EP “Morning In America” (2019). Nela, os elementos de Garage Rock e até mesmo de Stoner Rock vieram pela primeira vez no show, com ótima sonoridade por parte de todos os membros da banda, complementando com a voz de Mark Arm, durante toda a música. Para finalizar, Arm ainda subiu a um ponto alto da parte frontal da pista para levantar o mic no alto, no que muito pareceu uma sátira à Estátua da Liberdade.
Esse momento foi, particularmente, o fim de show, já que tive que correr para chegar antes do encerramento dos serviços do Metrô. Assim, perdi o bis, que contou com mais três ótimas faixas: “Beneath the Valley of the Underdog”, do disco “Tomorrow Hit Today”, a clássica “Here Comes Sickness”, do álbum homônimo, e “In ‘n’ Out of Grace”, do álbum de estreia do Mudhoney. No entanto, observando vídeos postados após o show, era possível ver Mike Arm de volta à guitarra rítmica, com uma situação mais calma na primeira música citada, um coro forte na segunda, que acompanhou os ótimos solos de Steve e, por fim, uma miscelânea experimental que levou a solos distorcidos e ótimas linhas de bateria em cima de uma faixa clássica, como a última da noite.
Por um todo, presenciar uma apresentação dessas, com pouco mais de uma década após a última passagem, foi impressionante, ainda mais vendo uma energia de um público completamente enérgico nas faixas mais clássicas da banda e que não perdeu a energia a partir de uma faixa mais recente, ou mais lenta e, claro, vendo de perto uma banda que moldou o termo Grunge a partir da sonoridade e da definição do próprio Mike Arm e, consequentemente, é uma pioneira máxima do gênero. Da mesma forma, esse público matou uma saudade enorme, seja de uma década desde sua última passagem, seja de uma vida, por ser a primeira vez que o viram.
Confira os setlists abaixo:
Elder Effe
- Ego
- Na Pressão
- Motim
- Monstro
- Fantasma
- Laurentino (homenagem a Mestre Laurentino e participação de João Lemos, da banda Molho Negro)
- Derretendo (originalmente da banda The Sinks, com participação de Elder. Neste show. Participação de João Lemos neste show)
- Rato City
APNEA
- Paper Cup
- Undertow
- Peacefully
- Deepness
- Death Race
- Hope Springs Eternal
- In Search of Peace
Mudhoney
- If I Think
- Move Under
- Get Into Yours
- Nerve Attack
- Into the Drink
- Almost Everything
- Good Enough
- Judgement, Rage, Retribution and Thyme
- Let It Slide
- Sweet Young Thing (Ain’t Sweet No More)
- Touch Me I’m Sick
- Little Dogs
- Real Low Vibe
- You Got It
- Suck You Dry
- Souvenir of My Trip
- Tom Herman’s Hermits
- F.D.K. (Fearless Doctor Killers)
- Oh Yeah
- Next Time
- I’m Now
- Chardonnay
- Paranoid Core[
- Human Stock Capital
- 21st Century Pharisees
- One Bad Actor
Encore:
- Beneath the Valley of the Underdog
- Here Comes Sickness
- In ‘n’ Out of Grace