Entrevista: Grutle Kjellson do Enslaved

Conversamos com Grutle Kjellson, baixista e vocalista do Enslaved. A entrevista foi guiada pela colaboradora Daniela Reigas. Abaixo como foi o bate papo onde ele falou sobre a vinda da banda ao Brasil, novas músicas e mais. Confere aí.

“Olá, olá, olá, olá, boa tarde.
Ou bom dia, eu realmente não sei que hora é. Noite, sim, oh, boa noite.

Olá.

Uhum, meu nome é Daniela. Olá, eu estou falando de São Paulo, Brasil, onde a banda Enslaved vai fazer um show em novembro.

Muito obrigado por atender a ligação Ok, então vamos começar a falar sobre a banda voltando ao Brasil depois de um tempo. A última vez foi em 2019, antes da pandemia de COVID. Então, qual é a sensação de estar de volta a este país, depois de tudo que aconteceu? E qual é o relacionamento com os fãs locais?

“Quero dizer, sim, essa será a terceira vez que estivemos no Brasil.
Hum, e tivemos duas turnês no Brasil antes. A primeira vez foi em 2017, acredito. Ou foi 2018? Não, foi 2017. Sim, sim, sim. Então, essas experiências foram muito legais. Ótimo público, bons shows, comida fantástica. Eu amo churrasco brasileiro!
Há muitas razões pelas quais estamos ansiosos para voltar, e essa será a primeira vez que faremos uma das primeiras viagens através do Atlântico depois da pandemia.
Na verdade, já estivemos nos Estados Unidos algumas vezes, duas em turnês e uma em festival. Então, não temos viajado tanto nessa direção por um bom tempo, e houve dois álbuns lançados entre essas viagens. Estamos ansiosos para ver a recepção que vocês darão às músicas de “Utgard” e “Heimdall”.
Obviamente, isso sempre envolve alguma tensão quando você está apresentando novas músicas ao público pela primeira vez. Mesmo que tenhamos lançado o álbum no ano passado, será de certa forma como tocar essas músicas pela primeira vez, tanto no Brasil quanto na Argentina, Chile, Colômbia e até México. Vai ser emocionante.

E a propósito, o Brasil é o berço de muitas bandas de metal extremo. Você conhece alguma banda local da cena brasileira? Conheceu algum integrante?

Conheci os caras do Sepultura ao longo dos anos.
E qual era o nome da outra banda…? Krisiun, sim! Sim, sim.
Talvez seja isso, na verdade. Eles são os grandes. São as bandas que saíram do Brasil e são bem conhecidas no exterior também. Conheço outras bandas, mas não tenho certeza se já conheci pessoas de outras bandas brasileiras. Não, acho que não.

Com o tempo, o Enslaved adaptou o som da banda, trazendo novas abordagens e elementos. Antes, vocês eram mais conhecidos como uma banda de black metal, e mais recentemente foram até rotulados como uma banda de metal progressivo. Como foi essa transição, adicionando esses novos elementos? E o que motivou essa mudança?

Quero dizer, para nós, nunca foi uma mudança drástica. No primeiro álbum, estávamos muito inspirados pela música eletrônica alemã e country rock. Sempre ouvimos classic rock, sempre ouvimos muito rock progressivo. Então, para nós, nunca foi um movimento consciente de “vamos fazer este ou aquele tipo de som. Nunca tivemos objetivos específicos. Era mais como expandir nossos horizontes musicais e simplesmente fazer nossa música favorita ou tentar fazer isso.
Gostamos de explorar música. Somos amantes da música. Para nós, só existe música boa e música ruim, então não colocamos limites em nós mesmos. Se quisermos tentar algo, faremos isso. A música contemporânea que estamos fazendo sempre será colorida pelas influências que tivemos.
Quero dizer, o que você tem ouvido desde a última vez que lançou um álbum? É lógico para uma banda que existe desde 1991. Todos nós somos meio nerds de música na banda, ouvimos de tudo, então naturalmente nosso som se tornou uma mistura de influências. Acho que essa é uma das razões pelas quais ainda estamos vivos como banda: gostamos de explorar, de fazer algo que nunca fizemos antes, e trazer novos elementos para manter a música emocionante para nós mesmos.
Odiamos a ideia de fazer música genérica e rígida. Queremos voar e explorar.

Sim, isso é ótimo. Mas você sabe que muitas bandas de black metal não fazem isso. Elas tentam manter o mesmo estilo, sem sair muito do que as pessoas esperam. Continuam fazendo álbuns que soam semelhantes, evitando arriscar. Mas eu concordo, é legal se reinventar ao longo do tempo.

Sim, quero dizer, o que quer que te faça feliz. Se eles querem fazer isso, perfeito. Não me incomoda.

Então, o Enslaved explora temas da mitologia nórdica, o que começou no álbum anterior, “Utgard”, certo?

Sim, e dessa vez estamos cavando ainda mais fundo nessa mitologia, com a história de Heimdall.

Como surgiu essa ideia? E quão importante você acha que é trazer essas histórias e mitologias para o público?

A mitologia e os arredores de Heimdall… Ele provavelmente já era reverenciado muito antes de existir algo chamado mitologia nórdica. Sua presença provavelmente remonta à Idade da Pedra. Ele aparece em petróglifos, gravuras rupestres na Escandinávia, que datam de mil anos antes da Era Viking. Ele está presente há muito tempo, mas ainda é uma das figuras mais enigmáticas da mitologia e, portanto, fascinante. A ideia surgiu quando eu e Ivar estávamos discutindo sobre o que cantar no novo álbum, e ele mencionou Heimdal. Percebemos que havia muitas lacunas na história dessa figura, e isso nos deu espaço para imaginação, interpretação e para criar algo novo.

Que interessante! E imagino que essa falta de informações concretas seja uma boa oportunidade para preencher as lacunas com sua própria visão, certo?

Exatamente! Isso nos dá espaço para criar novas histórias e novas interpretações, o que é algo que sempre gostamos de fazer.”

Isso é muito legal. O álbum foi lançado em março do ano passado, em 2023. Vocês já estão trabalhando em novo material ou estão esperando o fim da turnê para começar?

Nós temos estado bem ocupados tocando ao vivo e participando de muitos festivais, mas já começamos a trabalhar em um pouco de material novo. Nada muito concreto ainda, pois tocar ao vivo e fazer turnês toma muito tempo.

Entendo. Fazer turnês é muito cansativo, especialmente viajando para diferentes países.

Sim, definitivamente. Não dormimos muito!

E, por fim, uma última pergunta. O Brasil é um país enorme e, desta vez, vocês farão apenas um show em São Paulo. Você pode deixar uma mensagem para os fãs que estão vindo de todas as partes do país para ver vocês?

Sim, claro! Não estamos no Brasil há cinco anos, então essa é basicamente a única oportunidade de nos ver, e Deus sabe por quanto tempo. Então, encorajo todos a estarem lá, tragam seus amigos, tragam todo mundo! Vamos fazer desta uma noite memorável, em nome do rock pesado!

Isso é ótimo! E estejam preparados para o calor, porque estamos enfrentando uma onda de calor muito forte.

Sim, eu ouvi! Vai ser difícil, mas faremos o nosso melhor. Precisaremos beber mais água do que vinho, com certeza!

Exatamente, muita água! Mas obrigada, isso era tudo o que eu tinha para perguntar hoje. Espero que vocês se divirtam no show no Brasil, e vejo vocês lá!

Obrigada! Boa noite, até logo.

Tchau, tchau.”

O Enslaved retorna ao Brasil em novembro e mais detalhes da apresentação você confere aqui. Agradecemos a Marcos Franke pela oportunidade de entrevista.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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