Entrevista Ian Astbury do The Cult: Vocalista fala sobre shows no Brasil, novas músicas e mais
O The Cult começa neste sábado (22), a sua turnê de 40 anos, com o primeiro show no Rio de Janeiro. A banda ainda passa por São Paulo e Curitiba.
A colaboradora Daniela Reigas conversou com o vocalista Ian Astbury onde ele falou sobre os shows, novas músicas e muito mais. Confira abaixo o bate papo:
Confere Rock: Como é estar de volta ao Brasil depois de 8 anos? O que os fãs podem esperar dessa grande turnê de 40 anos de carreira?
Ian Astbury: Uau, tanto tempo assim? Com a pandemia, o tempo passou muito rápido. Bem, a banda está em um momento muito bom, com muitos shows feitos de junho a dezembro, na Europa, Nova Zelândia, EUA, Canadá, e agora estamos voltando de uma pausa. Os fãs podem esperar uma energia muito alta, uma reunião emocional.
Eu adoro o Brasil, tenho uma longa história com o Rio de Janeiro. Meu pai foi marinheiro na década de 1950 e sempre contava histórias sobre como os brasileiros eram apaixonados, intensos e expressivos. Quando viemos aqui pela primeira vez nos anos 90, nos sentimos conectados rapidamente. São Paulo também é uma metrópole incrível. As pessoas são muito abertas, não são tão cínicas como em outros lugares.
CR: Na sua última passagem por aqui, no festival SP Trip em 2017, vocês tocaram em um estádio. Quais são as lembranças desse show? E, na sua opinião, quais são as principais diferenças de tocar em uma arena e em um lugar menor, mais fechado?
Ian: Estava muito quente, o público foi bem apaixonado. Lembro que foi um show muito bom, estávamos suando muito, foi realmente lindo, com muita energia. Logo depois que terminou, eu me sentei debaixo do palco, tirei um momento para me recompor – fazer um show não é como ir ao supermercado, é fisicamente e espiritualmente exigente. Recentemente tive 2 lesões, meu tornozelo e tendão de Aquiles ficaram bem danificados, então comecei a treinar artes marciais – Muay Thai, Jiu-Jitsu. Cada ambiente é diferente e tem uma vibe própria.
CR: O primeiro show dessa turnê acontece hoje no Rio de Janeiro, que tem registrado temperaturas muito altas. Vocês estão preparados para enfrentar isso? Há algum preparo especial que vocês fazem quando estão em um país tropical como o Brasil?
Ian: Sim, bom, tive que fazer as malas bem leves, geralmente uso roupas de algodão e couro. Trouxe uma jaqueta de couro, mas provavelmente não vou usá-la. Não uso mais calças tradicionais, nem roupas apertadas. Elas só ficam boas quando você tem 20 e poucos anos. Eu gosto de estar à vontade, de poder me mover.
CR: Já se passaram três anos desde o último álbum do The Cult, quais são os planos para novas músicas? Em Under the Midnight Sun, vocês retornaram para algo mais tradicional, que a banda deixou de lado por algum tempo. A ideia de um novo disco seguirá por qual caminho?
Ian: Estou constantemente escrevendo. Midnight foi um álbum muito cinematográfico, com muita textura, e foi um trabalho muito importante para nós. Não gosto do termo ‘hard rock’, pois ele não tem muita evolução espiritual ou cerebral. Eu posso escrever esse tipo de música até dormindo. O Cult sempre teve músicas mais introspectivas, reflexivas, mesmo com as guitarras e tudo mais. Escrever sobre a experiência real de ser humano nesse caos da vida é muito mais desafiador, fazer algo com inteligência emocional.
Quanto aos novos álbuns, é difícil reunir todos para gravar, porque dois dos caras moram no Reino Unido e dois nos EUA, e eles também vão fazer uma pausa. Eu não, estou tocando em outros projetos, ocupado com arte, merchandising – tivemos uma relação muito difícil com os donos de merchandising no passado, mas agora queremos lançar novos produtos.
CR: São 40 anos de banda, e nesse tempo, qual você considera o maior acerto do The Cult na sua carreira consistente, e há algo que você faria diferente?
Ian: Neste momento, eu diria que estamos felizes por estarmos aqui. Passamos por diferentes provações e tribulações. Às vezes, nos perguntamos se as coisas teriam sido mais fáceis se tivéssemos ficado com as grandes gravadoras e lançado mais álbuns no estilo de Sonic Temple, mas eu não acho que seria o caso. Depois de fazermos aquele álbum, meu pai tinha acabado de falecer, e eu estava meio dentro e meio fora, meu estilo de vida estava muito destrutivo, e eu precisava fazer algo diferente. Fizemos o que era verdadeiro para nós. Um grande arrependimento foi não poder trabalhar mais com Rick Rubin e fazer coisas mais experimentais, o que teria sido ótimo, mas houve muita oposição de pessoas por trás da banda, da gestão.
CR: Em uma entrevista, você mencionou que não acha legal ver celulares durante os shows, e o público brasileiro adora registrar todos os momentos. Nos fale mais sobre isso e como é para o artista ver tantos celulares levantados no ar, quando antes eram apenas mãos ou isqueiros. Você tem alguma mensagem para deixar para o público?
Ian: Isso é um problema em todo lugar. Acaba com a magia, distrai tanto o público quanto a banda, você perde a experiência. Um dia a gente deveria tocar e não estar no palco, mas sim um celular gigante olhando para a plateia, quem sabe assim as pessoas entenderiam como é. É um péssimo hábito, você cria 20 mil vídeos que nunca vai assistir depois, geralmente o áudio é horrível e as imagens também.
Agradecemos a Tedesco Mídia pela oportunidade da entrevista e a Liberation Music pelo credenciamento no show do Rio de Janeiro.