Entrevista: Paulo Baron

Paulo Baron é hoje um dos maiores nomes da produção musical no Brasil, e mesmo no mundo. Com uma trajetória com mais de três décadas, já realizou mais de dez mil shows, trabalhando com nomes gigantescos como Dee Snider, Diana Krall, Dio, Heaven & Hell, Jerry Lee Lewis, Jimmy Cliff, Megadeth, Motorhead, Saxon, Scorpions, Sepultura, Stanley Jordan, Tarja Turunen, Twisted Sister, Yes,, Scorpions, Angra, entre outros tantos, além de CEO da Top Link Music e criador do festival “Live n Louder”. Atualmente, ele também mantém um podcast com o crítico musical, Régis Tadeu.

Ele nos concedeu um entrevista onde falou sobre negócios, carreira e muito mais. Você confere a conversa logo abaixo.

CONFERE ROCK: Olá Paulo, um enorme prazer estar falando com uma figura ilustre como você e agradeço imensamente a disponibilidade em nos ceder um tempo para falarmos um pouco sobre o que a gente ama, a música!

Para começar, nos conte um pouco como começou essa empreitada na música e já são quantos anos de caminhada?

PAULO BARON: Obrigado Marcio pelo convite para essa entrevista,

Minha empreitada na musica começou comigo muito jovem, com a minha empreitada para a Inglaterra, eu já fui com a cabeça para buscar alguma maneira de estudar cinema, para poder dessa maneira fazer vídeo clips e entrar no mundo da música, naquela época era o único jeito que eu enxergava para conhecer as pessoas que estavam envolvidas no mundo da música e assim fui a Londres estudar cinema, e com 19 anos comecei a fazer meus primeiros shows, e assim montei minha empresa Top Link Music lá na Inglaterra.

Esse ano, em julho estou completado 34 anos de que começou essa experiencia louca.

André Tedim

CR: Por que a decisão de trabalhar como um produtor?

Paulo: Foi uma decisão natural, nunca tive a intenção de ser artista, e por mais que eu soubesse tocar um pouco de bateria  eu sabia que não seria um músico de destaque, pois sou muito impaciente e me custa muito ficar concentrado muito tempo para fazer a mesma coisa, então sabia que estar no meio da produção  seria o melhor meio para mim, eu sempre fui bom e sempre gostei da parte organizacional e criativa, então assim já estava definido desde o princípio do que gostaria de esta envolvido.

CR: Qual foi a banda que te deu o click para saber que o seu trabalho estava realmente dando certo?

Paulo: Na verdade não creio que nenhuma banda me deu um click para que eu soubesse que estava no caminho certo,  e sim foi no transcurso de cada evento e show que aconteciam, eu apesar de ter perdido dinheiro e ter feito coisas erradas no princípio eu vi tudo isso como um aprendizado, até porque naquela época não se tinha faculdade para isso, era simplesmente ir criando contato e conexões e ir  aprendendo na marra, e a cada tempo que ia passando e a cada artista que eu conseguia trabalhar era uma experiência a mais que eu ia levando na minha vida, agora já estou superando os 10.000 shows .

André Tedim

CR: Dentre tantos nomes que você já trabalhou, quais foram os que você mais se impressionou e gostou de trabalhar?

Paulo: Acho que para mim ter estado ao lado dos grandes heróis do rock foi o que mais me impressiona, e o que tem me dado mais orgulho é ter trabalhado ao lado de Chuck Berry, ter feito os últimos da carreira dele, e também o Jerry Lee Lewis, eu tenho um sentimento maravilhoso, porque me sinto parte da historio do rock n´roll ao ter trabalhado ao lado deles.

Claro que tive uma grande experiencia ao lado do Scorpions, uma banda que eu era fã quando moleque, e nunca vou negar isso, mas realmente me sentir ao lado da historio e estar ao lado de Chuck e Jerry, me deixa sempre muito orgulhoso e emocionado até hoje.

André Tedim

CR: Você esteve em diversos grandes momentos do metal brasileiro, mas um em específico é o Shaman. Como foi viver todo aquela explosão de uma banda nascendo, mesmo com membros já conhecidos de todos, mas sendo um fenômeno estrondoso e no segundo disco, as coisas terem um “pé no freio”, com o público “estranhando” o som ali feito.

Paulo: Fazer parte da criação do Shaman foi mais uma dessas grandes historias que tive oportunidade de estar presente, acho que esses grandes músicos no auge da carreira deles, os possibilitou criar algo tão incrível como o Ritual e depois o Ritualive, que todo foi um ideia que eu tive, e naquele época existia uma vontade muito grande de criar uma coisa nova, e acho que foi isso que conseguiu o Shaman, mesmo eles tendo vindo do mundo Angra, eles conseguiram criar um som diferente, depois no segundo álbum os fãs não entenderam, mas depois ficou provado que é um grande álbum que ficou para a posteridade.

CR: Você recentemente voltou a trabalhar com o Angra e parece que você colocou eles de volta aos eixos pois a banda não para atualmente. Como está hoje a formação da banda em termos de entrosamento dos membros e o que os fãs podem esperar do vindouro disco?

Paulo: Foi muito bom ter voltado a trabalhar com o Angra, acho que foi algo bem natural, mesmo porque nunca perdemos contanto mesmo quando eu não estava empresariando eles, até porque somos amigos, então quando depois surgiu uma conversa para que eu voltasse foi algo muito natural, criar um projeto como sempre faço de 2 ou 3 anos e criar as metas, e é assim que estamos trabalhando, eu vejo essa geração do Angra como um algo muito forte, eles estão muito bem entrosados no palco, e o clima é muito bom, sempre de alegria, Bons momentos e amizade, afinal de contas estamos todos muito mais maduros, e isso nós faz as vezes nós colocarmos um no lugar do outro, e isso termina se expandindo para os palcos, onde a banda esta detonado, e o fãs estão pedindo muito para ver a banda, e como você disse a banda não esta parando , estamos com muitos shows, inclusive, eu varias vezes tenho que falar para algumas cidades que não poderemos fazer o show, porque preciso dar um descanso para a banda para eles voltarem com tudo.

E o novo álbum esta fantástico, eu tenho certeza que será um daqueles grandes discos do Angra, estou bem contate com o que tem sido feito, agora apenas esperarmos ver qual será nossa data de lançamento, mas deve ser mais para o final do ano.

André Tedim

CR: Falando do mercado musical de hoje, quais mudanças mais drásticas você vê nesse campo da época que você começou para o presente?

Paulo: Eu vejo que as  mudanças mais drásticas se dão porque antigamente a gravadora nos dava uma plataforma de marketing, era tudo organizado com elas e como íamos distribuir e fazer os lançamentos, hoje a banda precisa fazer tudo praticamente, e isso cria uma pressão maior, onde todos temos que trabalhar mais, dentro desses sistema os músicos não apenas tocam  e compõem  músicas, mas também estão envolvidos na parte administrativa,  isso se voltou uma coisa comum, e logicamente a necessidade de trabalhar nas redes sociais e como trabalhar nelas.

CR: Mesmo com o avanço da Internet e os serviços de músicas digitais que facilitam o contato com inúmeras bandas, tenho a impressão de que não há o mesmo apego de outrora em alguns pontos. Você acha que estamos diante de uma faca de dois lados com a era digital?

Paulo: Eu acredito que o avanço da internet por um lado ajudou alguns artistas a romperam as fronteiras e escutarmos seu som em alguns outros países que talvez nunca tivessem acesso antes, mas por outro lado, se voltou tão cheio de produtos, que esta se tornando muito competitivo e o investimento se tornando muito forte nas redes sociais para serem vistos, para as banda consagradas isso só melhorou,  mas para as bandas pequenas se tornou complicado, pois tem que investir muito mais dinheiro para serem vistas.

CR: Quais desafios um produtor encontra hoje em um mercado tão disputado e abarrotado de nomes em diversas mídias divulgando seu trabalho?

Paulo: Considero que os desafios sempre foram altos para todos os produtores, sempre tivemos muita competitividade dentro do mercado, mas as 3 bandas que estou empresariado elas tem tocando muito (Angra, Matanza Ritual e Massacration) constantemente em shows e festivais, por outro lado o mercado aquecido trouxe mais competitividade entre todos, porque ai mais shows passam a acontecer e o publico tem que escolher em qual show ele vai querer  investir o seu dinheiro, e isso termina por muitas vezes deixando shows que estariam lotados não estejam tão lotados como antigamente, porque o dinheiro ter que ser distribuir em qual evento ele  pode gastar, diferente de Europa e USA, onde a moeda é mais forte e se pode ir a mais shows, aqui o fã tem que escolher entre um ou outro show

CR: Desde a retomada dos shows, o Brasil vem sendo “bombardeado” de espetáculos desde os menores até bandas e festivais gigantescos. Como você vê o Brasil sendo cada vez mais rota desses grandes eventos de metal, ainda que não seja um estilo predominante aqui.

Paulo: Acredito isso vai ser uma vertente que vai acontecer cada vez mais, afinal de contas a pandemia deixou muita  gente parada por mais de dois anos, e essas bandas que são empresa precisam trabalhar e existe um grande movimento por trás de cada banda, as vezes as pessoas pensam só nos 4 ou 5 membros que estão no palco,  mas por trás disso existem muitas equipes e varias pessoas que trabalham e elas precisam viver  e comer, então essa movimentação de shows vai mais crescer constantemente , mas como disse na resposta anterior vai se tornar tudo mais competitivo também.

CR: O que faria uma banda ou artista ser atraente para trabalhar com você?

Paulo: Tenho muitos anos no shows business trabalhei com grandes bandas, já empresariei mais de 30 bandas, e hoje tem que ter uma mistura entre o artista que esta disposto a me ver como parceiro e não apenas prestador de serviços e sim, mais um como  parte da banda, tem que ser uma banda com potencial de interesse do público, onde  eu consiga colocar eles para tocar bastante shows, porque  eu tenho um escritório e salários a pagar então essa banda tem que estas disposta a fazer grandes shows que tragam um bom público, e logicamente a banda tem que ter rockstars, para mim a banda tem que ser diferenciada, por isso eu trabalho com as 3 bandas que trabalho, considero que todas elas tem esse diferencial, apesar de muito distintas  entre elas, mas tem o mesmo conceito que o é rockstar e o show de massas, que é uma coisa que eu gosto, busco o hit de cada artista, a música que pode estourar dentro de sua vertente musical.

CR: Para finalizarmos, qual conselho você daria para uma banda que está tentando se colocar hoje no mercado e alcançar o sucesso?

Paulo: Eu sugiro que essa banda busque todas as possibilidades de abrir outras bandas, mesma que tenha que pagar para abrir, acho que é um grande investimento estar em um palco grande abrindo uma banda grande e estar no meio dessa publicidade, acho que alguém que esta com possibilidade de fazer isso, tem que fazer, porque é o melhor jeito de atingir o grande público e ser mais visto

Desejo a todos um ótimo mês e obrigado pela entrevista!

Agradecimentos a Isabele Miranda pela possibilidade da entrevista.

Fotos: André Tedim

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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