Eric Clapton promove viagem pela carreira em volta ao Rio de Janeiro

Texto: Carlos Monteiro

Comemorando 60 anos de carreira, Eric Clapton apoiou-se em seu consistente repertório para saudar, pontualmente às 21h, nesta quinta (26/9), o público do Rio de Janeiro em sua volta à cidade após 13 anos. Para uma Farmasi Arena com 13,5 mil pessoas (o total são 18 mil), “Slowhand” (um dos seus apelidos, irônico, indicando alguém lento ao tocar guitarra) apresentou o show dividido em dois sets elétricos e um acústico, com canções da época do Cream, Derek and the Dominoes e sua carreira solo, incluindo suas versões para clássicos do blues.

O show já começa em alta temperatura com as execuções de “Sunshine of our Love” (Cream), com uma introdução estendida, e “Key to the Highway” (cover de Charles Segar). Aliás, apreciar “Key to the Highway” ao vivo (presente no famoso álbum do Derek and the Dominoes,“Layla and Other Assorted Songs” – 1970) foi uma satisfação para quem, como eu, não esteve no show de 2011, já que, no anterior, em 2001, a canção estava prevista no setlist regular, porém não foi executada.

Em seguida, veio aquela que deve ser a canção com o andamento mais icônico do blues, “(I’m Your) Hoochie Coochie Man (cover de Willie Dixon, famosa na voz de Muddy Waters). Junte-se a isso “Badge”, também do Cream, e o primeiro set já comprovou a classe musical do artista que, aliás, dessa vez não usou o mesmo inadequado boné de shows recentes, compondo um visual elegante e sóbrio com calça branca e camisa social e blazer azuis.

A reverência ao mestre Robert Johnson dá o tom do set acústico, com a bela “Kind Hearted Woman Blues”, oriunda do álbum”Me and Mr. Johnson”, e a singelaRunning on Faith”, de “Journeyman” (1989) e destaque do “Unplugged” (1992). Aqui não houve a execução da inédita “The Call” como no show de Curitiba, duas dias antes, emendando logo no hit “Change the World” (cover de Wynonna Judd) uma das mais cantadas do show.  E voltamos ao blues com “Nobody Knows You When You’re Down and Out”, cover de Jimmy Cox e também um dos destaques do bem-sucedido “Unplugged”.

Para finalizar o set acústico, vem talvez o maior sucesso entre o público em geral, “Tears in Heaven”, evocando a morte acidental de seu filho Connor, aos 4 anos, em uma trágica queda do 53º andar de um apartamento em Nova York. Na apresentação, foi curioso o deslize de Clapton, que, em vez de cantar o verso que começa com “Time can bring you down”, ele repetiu a primeira linha da primeira estrofe e, de forma tímida, ao ver que errou, emendou de novo no trecho certo. Aliás, em se tratando de interação, houve pouca, limitada a alguns “obrigado”, “thank you” e sorrisos, deixando o som falar por si próprio.

E as guitarras voltam a soar mais evidentes em mais uma sequência elétrica, iniciando com “Got to get better in a little while”, de novo do Derek and the Dominoes, apenas registrada ao vivo, em 1973. Aqui o solo de Clapton foi de arrepiar, arrancando aplausos do público. Vem então a balada “Old Love”, em uma versão extensa e de novo com ótimo solo do anfitrião. Em seguida, uma dobradinha só com Robert Johnson em “Cross Road Blues”, uma marca de Clapton, e “Little Queen of Spades”, aqui com ótima presença do guitarrista canhoto (e que não inverte as cordas) Doyle Bramhall II.

O set regular do show encerra-se com o hit “Cocaine” (cover de J.J. Cale registrada em”Slowhand”, de 1977) e de qualidade inferior a muito do que veio antes nesta apresentação, mas que tem o mérito de animar o público por estar no imaginário de todo roqueiro que se preze.

A volta para o bis é celebrada com a presença do guitarrista Gary Clark Jr., responsável pelo show de abertura, e que chega para somar a “Before You Accuse Me” (cover de Bo Diddley), resultando numa incrível jam tanto de Clark, como da excelente banda que acompanha Clapton, formada pelo sempre presente baixista Nathan East, que aliás foi ovacionado com o público saudando seu nome no final da apresentação quando ficou por último se despedindo. Como curiosidade, nessa volta ao palco Clapton empunha uma Stratocaster com imagem estilizada da bandeira da Palestina. Um detalhe que chama a atenção para um músico que já defendeu a postura anti-vax e foi alvo de cancelamentos, gerando muitas polêmicas e descontentamentos recentes.

Também fazem parte da competente banda Sonny Emori (bateria), Tim Caarmon (responsável por vários solos no órgão), as backing vocals Sharon White e Katie Kisson e o veterano Chris Stainton, também nos teclados.

No show de abertura, Gary Clark Jr, que também abriu os shows no Brasil em 2011, mostrou sua mistura de elementos do rock, blues, soul e hip hop, agradando o público em execuções como as de “Don’t Owe You a Thang”, “When My Train Pulls In” e a épica “Habits”, que fecha o set.

Fotos: Carlos Elias Dos Santos Junior

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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