Foo Fighters: há 29 anos, Dave Grohl superava a depressão e lançava seu primeiro álbum
Há 29 anos, em 4 de julho de 1995, Dave Grohl lançava o primeiro disco de seu então projeto, que se tornaria talvez a mais bem sucedida das bandas de Rock da atualidade. Estamos falando do Foo Fighters, que é assunto do nosso bate-papo hoje por aqui.
A antiga banda de Dave Grohl será citada a todo instante neste texto, pois ela caminha lado a lado neste projeto do então baterista do Nirvana e quando Grohl superou a perda de Kurt Cobain, ele juntou suas forças e organizou suas ideias para transformar em um belo álbum de estreia. Também levaremos em consideração a afirmação de Grohl sobre seu receio de ser mandado embora do Nirvana em algum momento, dada a rotatividade no posto de baterista, já que ele era o quinto membro a ocupar aquela vaga.
A demissão nunca aconteceu, mas por conta deste temor, ele escrevia músicas para usar em algum momento. Ele só não esperava que a morte trágica de Kurt Cobain fosse o gatilho para isso. Vamos abrir aspas para uma declaração do vocalista/ guitarrista à Rolling Stone, em 2019:
“Quando Kurt morreu, não havia forma certa ou errada de luto. Eram curvas engraçadas. Você ficava paralisado, daí se lembrava das coisas boas, depois se lembra de situações sombrias. Fiquei afastado da música por um tempo, nem ligava o rádio. Depois, percebi que a música era a única coisa que me fazia bem e me ajudaria nisso.”
Precisamos voltar no tempo para contar a história que acabou resultando em um disco gravado e banda montada, partindo em turnês, se tornando uma das referências do Rock moderno. Em 1992, com o Nirvana na crista da onda, Dave gravou algumas canções que não foram amplamente divulgadas, que saíram em uma demo chamada “Pocketwatch”, lançada sob o pseudônimo de “Late!”. Sobre esta demo, tem uma história que merece um parágrafo a parte.
Kurt Cobain escutou algumas músicas e se interessou por duas, em especial: “Alone + Easy Target” e “Exhausted”. Ele tentou convencer Grohl a incluir estas duas no repertório do Nirvana, porém, o então baterista preferiu não ceder, para que não houvesse no futuro nenhum tipo de conflito de egos, o que acabou sendo a melhor das decisões. Opinião pessoal, estas músicas não cairiam bem no estilo de Cobain cantar e tocar.
Pois muito bem, a fita ficou guardada e o Nirvana ficando cada vez mais gigante, não havia outra alternativa para Dave Grohl a não ser continuar a gravar e fazer shows, até que a banda se separou e pouco tempo depois Cobain se suicidaria com um tiro, em abril de 1994, praticamente pondo fim a um movimento que levou a cidade de Seattle ao topo do mundo no início dos anos 1990.
Grohl não quis saber de música nos primeiros dias após a morte de seu ex-companheiro de banda, chegando até a viajar para a Inglaterra. Recebeu convites para integrar bandas como o Pearl Jam, que havia demitido recentemente o ótimo Dave Abbruzzese, que acabou recusando. Porém, meses mais tarde ele resolveu entrar no estúdio “Robert Lang’s Studios”, situado bem próximo da residência de Grohl, em Seattle. Na companhia do seu amigo e produtor Barret Jones, ele regravou doze faixas, praticamente sozinho. A exceção foi uma sessão de guitarra gravada na faixa “X-Static”, por Greg Dulli, do Afghan Whigs. Todo o processo durou 7 dias e foi registrado em Outubro de 1994, seis meses após a morte de Cobain.
Antes de as múiscas que foram gravadas fossem incluídas em um CD, Grohl compilou uma fita, com tiragem limitada em 100 cópias, ocultou seu nome, batizando como Foo Fighters, para passar a impressão de que era uma banda tocando e não somente “o cara do Nirvana”. Essa gravações, que Grohl alegou terem sido feitas apenas por diversão, para poder se recuperar da morte de Cobain, foi muito bem recebida, tendo inclusive, sido executada por Eddie Vedder na sua “Self-Pollution Radio”, tornando-se alvo de interesse de diversas gravadoras.
Aconselhado por sua advogada, Grohl criou um selo, a Rosewell e assinou contrato com a Capitol para a distribuição. Ele era amigo do presidente da major e isso facilitou muito. Bem, o que temos neste primeiro álbum é um material de primeiríssima qualidade e é isso que vamos dissecar, nos parágrafos abaixo.
O disco abre com uma música bem legal, chamada “This is a Call”, que tem um pouco de tudo que o Rock pode nos proporcionar: influências de Rock Clássico, um toque radiofônico e um certo peso nas guitarras. Não a toa esse foi o primeiro hit da banda, sobretudo aqui no Brasil, que à época, tocou de forma massiva nas “rádios rock”.
“I’ll Stick Around” é carregada de energia, punch e muita atmosfera. A virada de bateria de Grohl logo na introdução é um aviso de que ele não estava de brincadeira. Essa foi outra música, cujo clipe rodou muito nos bons tempos de MTV, quem tem mais de 35 anos vai entender o que eu estou falando. A música em si é maravilhosa.
“Big Me”, a balada do disco é bonitinha, novamente com influências do Rock Clássico, é outra que teve o videoclipe executado à exaustão na mesma MTV. O engraçado foi a banda simular uma propaganda dos famosos drops Mentos. Uma das minhas preferidas, se é que é possível escolher uma, “Alone + Easy Target”, música crua como as anteriores, mas aqui o timbre sujo de guitarra dá o clima perfeito para a música, cujo refrão é daqueles que grudam na nossa mente.
“Good Grief” é um baita rockão, sem frescura, direto e reto, com uns efeitos bem legais e uma batida que contagia. Já “Floaty” é densa e até certo ponto, pesada. Outra faixa que quando coloco o play para tocar, eu fico ansioso por sua chegada. “Wennie Bennie” talvez seja a única faixa que destoa da demais e ela é eleita por mim não como sendo uma música ruim, mas sendo a menos interessante do play. Ela é a única que tem uma pegada mais Nirvana, com muita sujeira, mas não é uma música para pular.
“Oh, George!” com este título, no mínimo curioso, é uma música mais calma, não chegando a ser uma balada, porque ela tem um certo peso e é muito densa. Aqui meu destaque é para o solo. E Dave Grohl acertou muito a mão, o solo é realmente bonito e carregado de feeling. “For All the Cows” tem um toque jazzístico e a sensação que tenho sempre que a escuto é de que estou jogando bilhar em algum cassino em Las Vegas. Mas no refrão ela ganha o peso necessário e essa alternância é o que faz a música crescer demais e se tornar outra que vive no meu coração há 29 anos.
“X-Static” é a única faixa que não tem a participação 100% de Dave Grohl, como é contado no quinto parágrafo deste texto. E é uma faixa que carrega um pouco da melancolia do Nirvana, sobretudo do disco “In Utero”, o que não é ruim, é ótimo e esta é outta música que faz parte do rol das maravilhosas. A veia punk chega com a divertidíssima “Wattershed”, que é a segunda mais curta do play, perdendo apenas para “Big Me”, porém, a penúltima faixa deste play ganha muito mais no punch, coisa que o Foo Fighters perdeu a partir do terceiro play, “There’s Nothing Left to Lose” (2000).
Chega o momento de tristeza, pois a última música do play, “Exhausted” começa com muitos ruidos, e eu confesso que quando escutei o álbum pela primeira vez, achei que justo a minha cópia tinha vindo com defeito, até que depois percebi que era proposital. E uma música onde os ruídos e a sujeira das guitarras tomam conta de tudo, ela encerra o play de maneira apoteótica, mesmo sendo ela uma música mais arrastada, certamente a mais arrastada do play.
Em 44 curtíssimos minutos, temos um excelente álbum de estreia, onde podemos perceber que, feito por um cara só, teve um resultado incrivel. E uma prova de que é possível você se recuperar de um baque que é perder um companheiro de banda e em menos de um ano lançar um excelente álbum, Grohl precisava montar uma banda para divulgar seu trabalho e sair em turnê. E para isso, recrutou seu colega dos tempos de Nirvana, Pat Smear para a segunda guitarra, o baterista William Goldsmith e o baixista Nate Mendel. Destes, só Goldsmith não está mais com a banda. Smear ficou por dois anos, saiu, mas voltou em 2005 e está até hoje e Mendel tem sido fiel a Grohl nestes últimos 25 anos, Na época, a Capitol insistiu para que os membros recrutados fossem creditados, ainda que naõ tivessem colaborado com uma vírgula nas letras ou uma nota nas músicas. Grohl aceitou e ainda colocou uma foto com todos reunidos O aniversariante de hoje estreou na posição número 23 na “Billboard 200”, vendendo 40 mil cópias somente na primeira semana de seu lançamento. Na Nova Zelândia, o álbum estreou na 2ª posição, no Reino Unido estreou em 3º e 5º na Austrália. No final de 1995, o disco havia vendido 2 milhões de cópiais no mundo, sendo que os Estados Unidos eram responsáveis por 900 mil. Até o ano de 2011, o total de vendas era de 1 milhão e 468 mil cópias, só perdendo para o disco posterior, “The Color and the Shape”. Recebeu disco de Platina no Canadá e no Reino Unido.
Eu tenho um carinho mais do que especial por este play, foi um dos 5 CD’s que comprei na vida e por algum tempo o Foo Fighters foi uma das minhas bandas favoritas. Hoje eu não acompanho mais a banda, acho que a partir do 3º disco eles perderam a mão e mesmo que tenham alcançado o estrelato e sejam responsáveis por manter o Rock nas rádios, mesmo que a magia que esteve presente neste debut, praticamente não exista mais. O show deles no último Rock in Rio, eu assisti esperando as músicas do aniversariante de hoje, que infelizmente só “Big Me” entrou no seleto setlist. Paciência. Continuarei a amar este álbum.
Na época, algumas pessoas criticaram a capa do álbum por este ser constituído por uma foto de uma pistola do tipo raygun, com Dave Grohl sendo chamado de insensível por alguns, uma vez que Cobain se matou com um tiro na cabeça. Porém, para quem pensa (N. do R: coisa rara nos dias atuais), é só acompanhat o raciocínio do então baterista William Goldsmith de que tudo era parte do conceito: o nome da banda, uma referência aos OVNIS; Rosewell, uma referência ao incidente ocorrido no Novo México e a pistola, atribuída aos extraterrestres. Ou seja, nada que tivesse uma ligação com o trágico suicídio de Kurt.
Dave Grohl cogitou regravar este disco com a formação atual, quando do 20º aniversário, em 2015, Ainda bem que a ideia não foi adiante. E neste ano, a banda faria uma turnê de van pelos Estados Unidos para comemorar as suas bodas de prata, Mas veio a pandemia e o desafortunado álbum não teve e parece que não terá mais a sua justa homenagem,
Mas isto não tira a grandeza deste play, que mesmo sendo pouco lembrado pelo seu autor, merece todos os confetes e envelhece muito bem, Foi o pontapé inicial do grandioso Dave Grohl e se hoje ele não é conhecido apenas por ser “aquele baterista do Nirvana”, ele deve tudo a este disco de estreia, Ele certamente sabe disso.
Hoje é dia de celebrar essa estreia com o pé direito, tocando essa bolacha no volume máximo e também de usar a história de Dave Grohl como uma vitória e um ensinamento para a vida. Quando a gente se sentir sem rumo, é bom procurar se reinventar como fez o frontman. E ele acaba de se reinventar mais uma vez após a perda estúpida de seu baterista Taylor Hawkins, mais um que perdeu a batalha contra as drogas. Mas o Foo Fighters segue na ativa, firme e forte. Bem distante do que era em seus primórdios, é bem verdade, mas a lição deixada por Grohl está aí e deve ser seguida por todos nós.
Foo Fighters – Foo Fighters
Data de lançamento – 04/07/1995
Gravadora – Rosewell/ Capitol
Faixas:
01 – This is a Call
02 – I’ll Stick Around
03 – Big Me
04 – Alone +Easy Target
05 – Good Grief
06 – Floaty
07 – Wennie Bennie
08 – Oh, George
09 – For All the Cows
10 – X-Static
11 – Wattershed
12 – Exhausted
Formação:
Dave Grohl – vocal/ guitarra/ baixo/ bateria em todas as músicas
Participação especial:
Greg Dukki – guitarra em “X-Static”