Grande Ozzy, Gigantesco Ozzy… ETERNO OZZY OSBOURNE!
Por Tiago Silva
“Perdemos o maior de todos os ícones do Heavy Metal e, mesmo com a despedida mais que digna do Black Sabbath há poucos dias e a compreensão sobre sua saúde, a ficha sobre sua passagem será extremamente difícil de cair. Obrigado por tudo, Príncipe das Trevas!”
22 de julho será, para sempre, marcado como o dia em que Ozzy Osbourne, imortalizado de diversas formas no cenário global da Música, especialmente no Heavy Metal, infelizmente passou dessa para uma melhor. E mesmo que todos soubessem, mínima ou criteriosamente, que seu estado de saúde não era dos melhores e que, consequentemente, a hora dele estava próxima, uma notícia como essas vira um verdadeiro soco no estômago, um baque enorme que faz qualquer fã dele, do Black Sabbath ou do Metal entrar em pleno choque. Foi difícil, desde o recebimento da notícia, fazer mais alguma coisa em meio a um momento turbulento. Foi difícil até mesmo escrever este texto.
É difícil raciocinar com uma notícia dessas sendo que, no último dia 05, 17 dias atrás, ele e os demais membros da primeira e clássica formação do Black Sabbath fizeram uma das maiores e mais emocionantes despedidas em vida de uma banda ou música na história, com diversos outros artistas e bandas convidados, diretamente influenciados por Ozzy em algum momento da vida ou da carreira. Foram 50 mil pessoas em pleno Villa Park, em Birmingham, mais as milhões de pessoas que, naquele dia e em alguns dos seguintes, puderam ver Ozzy Osbourne e o Sabbath fazendo o último show deles como banda, tal qual o vocalista com suas músicas da carreira solo. Ao mesmo tempo, o fato desta despedida, em vida, ter ocorrido, é confortante neste momento.
Ozzy deixou um legado musical espetacular, que dispensa comentários, mais análises ou descrições a respeito. Com o Black Sabbath, foram álbuns magníficos e que ajudaram a moldar o Heavy e o Doom Metal e influenciar as demais vertentes e legiões de artistas do cenário, como os pioneiros “Black Sabbath” (1970) e “Paranoid” (1970). “Master of Reality” (1971), “Vol. 4” (1972), “Sabbath Bloody Sabbath” (1973), “Sabotage” (1975), “Technical Ecstasy” (1976) e “Never Say Die!” (1978), além do último álbum do Sabbath, “13” (2013). Em carreira solo, lançou mais 13 álbuns e 5 EPs, a destacar pedradas como “Blizzard of Ozz” (1980), “Diary of a Madman” (1981), “Bark at the Moon” (1983), “No More Tears” (1981) e o derradeiro “Patient Number 9” (2022).
Das músicas, muitos clássicos me acompanharam na infância e na adolescência, fases que, musicalmente, guardo com muito carinho e, sempre que possível, falo delas. Com Ozzy, no Sabbath ou não, “Bark at the Moon”, “War Pigs”, “Paranoid”, “Crazy Train”, “Mr. Crowley”, “Shot in the Dark”, “Mama, I’m Coming Home”, “N.I.B”, “The Wizard”, “Black Sabbath”, “Planet Caravan”, “Fairies Wear Boots”, “Children of the Grave”, “Into the Void”, “Changes”, “Supernaut”, “Sabbath Bloody Sabbath”, “Hole In the Sky”, “Sympton of the Universe”, “End of the Beginning”, “God Is Dead?” e, imprescindivelmente, “Iron Man” — um dos únicos riffs que, assim como vários que começaram em algum instrumento de corda, eu consegui fazer no violão e no baixo -, me acompanharam em diversos desses momentos: das músicas que toquei em Guitar Hero e Guitar Flash, das que eu ouvia de tabela, quando meu irmão colocava o rádio alto em casa, quando eu podia ouvir o rádio dele sozinho, no que era possível de assistir na MTV e, principalmente, na primeira vez que eu baixei, de cabo a rabo, a discografia do Black Sabbath, em meados de 2012 ou 13, música a música, convertendo do YouTube para mp3. Enfim, Ozzy Osbourne também foi parcialmente um “pai”, no sentido musical.
Eu também sempre tendo a agradecer ao Ozzy, particularmente, pelo que ele fez para o Nu Metal — minha vertente favorita dentro do Metal — no final dos anos 90, com a promoção de bandas em ascensão que consolidaram o subgênero naquela época, a partir do Ozzfest, e com os encontros e parcerias com grandes nomes como Jonathan Davis (Korn), Fred Durst (Limp Bizkit) e outros. Foi graças a ele que bandas como Coal Chamber, Powerman 5000, Fear Factory, Machine Head e Incubus (em plena fase Nu Metal de ambas as bandas), System of a Down, Static-X, Slipknot, Disturbed, Kittie, Soulfly, Godsmack, Otep, entre outras, cresceram e conseguiram consolidar aquela cena que, anos depois, veio a me conquistar facilmente com as primeiras bandas que ouvi discografias por completo. Da mesma forma, participações esporádicas em músicas também foram impactantes, como “Shock the Monkey”, do Coal Chamber, “Therapy”, do Infectious Grooves, o cover do Primus para “N.I.B.”, e “Stillborn”, com o Black Label Society; além das mais recentes, como o refrão espetacular em “Take What You Want”, do Post Malone, e “Crack Cocaine”, do Billy Morrison. Mais uma vez: obrigado por tudo isso e mais um pouco, Ozzy!
No sentido midiático, Ozzy deixou entrevistas incríveis, sóbrio ou não, me lembrando das recentes falas sobre não restar muito tempo e, também, do arrependimento que teve em não agradecer seu pai, em vida, pela compra de seu primeiro microfone. E por que não se lembrar de outras participações, como na série “The Osbournes”, que mesmo com o arrependimento do cantor, mostrou um pouco do funcionamento de sua família, das ações engraçadas como as de chamar Sharon Osbourne a cada acontecimento e, claro, de mostrar como ela foi importante para sua vida.
Vale lembrar, também, de cenas icônicas ao vivo, sendo a principal delas a lendária história da mordida em um morcego de verdade, em Des Moines, Iowa, em 1976, que o levou a tomar diversas vacinas antirrábicas. Junto a isso, os fãs brasileiros com certeza vão se lembrar dos shows de Ozzy no Brasil, seja com o Sabbath, em 2013 e 2016, seja em carreira solo, em 1985 (Rock in Rio), 1995 (Monsters of Rock Rio e São Paulo), 2008, 2011, 2015 e 2018. Da mesma forma, as despedidas, como no Brasil em 2016, ou o último show da “The End Tour”, na Genting Arena e, claro, o já citado show de despedida de Ozzy e do Sabbath no Villa Park, no último dia 05 de julho.
Há de se dizer que Ozzy foi imortal, em carne e osso, até aonde conseguiu. Os problemas com consumo de drogas foram evidentes por décadas a fio, até os anos 2000. E apesar dos exageros que quase o levaram a um fim repentino, em alguns momentos da vida, conseguiu sobreviver a todos, o que levou a uma impressão coletiva e pasma (positivamente falando) com tamanha resistência. Porém, os impactos vieram até a descoberta do Mal de Parkinson, em 2019, e um processo acompanhado nos últimos anos, que mostrou o impacto das complicações, a ponto de não poder levantar. Nada que o impedisse de fazer um último ato ao vivo, como já citado.
Ozzy se despediu em carne e osso. Mas assim como outras lendas da música e de todo um cenário cultural, ele seguirá plenamente vivo nos corações de cada fã e admirador seu, em cada “atitude Heavy Metal”, em cada canto de influência que gerou ao cenário da música, moda, estilo de vida e quaisquer trabalhos de destaque. Ozzy sempre será vivo nas letras que compôs no Sabbath, nas letras que compôs em carreira solo, em cada pessoa que se identificou com algum contexto — positivo ou não, emocionante ou não — de suas composições. Ainda assim, será difícil pensar em um mundo sem a presença de Ozzy Osbourne.
Hoje começa o reinado do Príncipe das Trevas em algum plano espiritual que, com certeza, será um plano do bem. E que esse plano também tenha seus familiares, para agradecimentos, e grandes amigos seus, como Randy Rhoads e Lemmy Kilmister, presentes para que haja um verdadeiro show de lendas. E, quem sabe, até mesmo o improvável dueto com Ronnie James Dio. Se os encontrar, senhor John Michael “Ozzy” Osbourne, fala para eles que há uma legião de fãs com saudades, assim como sentiremos muitas saudades de ti por aqui. Eu, novamente, te agradeço por tanto.