Infected Rain esbanja poderio sonoro e performance na estreia da banda na Fabrique Club, em São Paulo
Texto: Tiago Pereira
Foto: Anderson Hildebrando
Os moldavos do Infected Rain, num coincidente dia chuvoso, fizeram um show extremamente energético e contagiante na Fabrique Club, localizado na Zona Oeste de São Paulo, no último domingo (03), no que foi a primeira apresentação da banda de Nu Metal, Metalcore e Death Metal Melódico na capital paulista. O evento, organizado pela Vênus Concerts, contou com as aberturas das bandas Throw Me to The Wolves e There’s No Face.
O grupo segue em meio à inédita turnê sul-americana, que também passou por Belo Horizonte (MG), Limeira (SP) e Porto Alegre, com nova passagem na capital paulista no próximo dia 08, no primeiro dia da Horror Expo, e com encerramento em Santiago, no Chile, no dia 10.
Apesar de não ter um sold out ou uma lotação maior – houve o equivalente a três quintos da pista ocupados -, as bandas que se apresentaram no domingo performaram da melhor forma possível, seja na parte instrumental e vocal, seja pela performance realizada no palco. Isso, claro, trouxe reações positivas do público durante e depois dos shows.
No caso específico do Infected Rain, a energia vocal e performática de Elena “Lena Scissorhands” Cataraga, a técnica de Alice Lane, a combinação instrumental com a performance de saltos e bangs de Vadim “Vidick” Ojog e a cadência frenética de Eugen Voluta e sua bateria impressionaram o público de diversas formas, a ponto de, com a ajuda e coordenação da vocalista da banda direto do palco, ter moshes mais encorpados, um momento de Wall of Death, pulos no ritmo de uma das faixas e até mesmo um jumpdafuckup em determinado momento do show. O retorno positivo do público gerou ainda mais demonstrações de gratidão da banda, seja pelos discursos, interações e até mesmo o tempo que Lena e Alice deram, após a apresentação e fim do evento, para tirar fotos e conversar com quem ficou na Fabrique.
Infected Rain
A atração principal da noite iniciou de forma pontual no Fabrique Club, introduzida pela instrumental “A SECOND OR A THOUSAND YEARS”, que encerra o disco “TIME” (2024). Além dela, outras seis faixas do disco estiveram no setlist de 11 faixas, que também contou com músicas de outros discos, com exceção do álbum de estreia “Asylum”.
Eugen Voluta (bateria), Alice Lane (baixo) e Vadim “Vidick” Ojog (guitarra) entraram primeiro e começaram a primeira música da noite, “The Realm of Chaos”, do álbum “Ecdysis” (2022). O trio começou com tudo, enquanto a vocalista e frontwoman Elena “Lena Scissorhands” Cataraga apareceu por último – ovacionada, inclusive – para começar a cantar e, assim como os demais membros, demonstrar todo seu potencial performático no palco – com destaque para Vidick, que tocava, pulava e bangueava ao mesmo tempo, situação que se repetiria em grande parte das faixas seguintes -. O público, já eufórico, se motivou ainda mais com a saudação de Lena ao final da primeira música: “Hello, beautifil people of São Paulo!”.
Os agradecimentos breves por “dedicar o tempo para prestigiar a banda” encerram o breve discurso e emendaram para a faixa “PANDEMONIUM”, do disco “TIME”, que começou com elementos que brevemente lembraram o Metal Industrial, mas que logo se converteram para um Death Metal Melódico com Nu Metal a partir dos primeiros guturais da vocalista, durante a faixa.
Alguns ajustes na fixação do kit de bateria de Eugen Voluta foram realizados. O tempo foi usado por Lena para entreter o público a partir de seu discurso, enfatizando o público brasileiro como uma “grande família”, reforçando que foi a primeira passagem do Infected Rain pela América Latina e sobre eles serem uma das atrações musicais da Horror Expo, evento que acontecerá a partir do próximo dia 08 de outubro na Zona Norte da capital paulista.
A banda voltou a tocar com tudo na faixa “VIVARIUM”. O girar de cabelos de Lena, Vidick e de Alice foram destaque logo no início da faixa em questão, seguidos de mais guturais absurdos da frontwoman da banda e da performance incansável de Vidick. Em seguida, o “obrigado mais agudo de Lena antecedeu a faixa “Fighter”, destacada pelos punhos para o alto de um público animado e impressionado com a entrega da banda – dos pedais duplos de Eugen, passando pela movimentação incansável de Vidick, a segurança de Alice e, claro, os canto enérgico de Lena.
Lena brincou com o público, perguntando se estavam prontos para “dançar” mais, em uma alusão direta a um possível mosh que, entretanto, foi inicialmente convertido para um balançar de cabeças frenético da plateia e da banda durante a próxima música, “THE ANSWER IS YOU”. Na reta final da faixa, Lena organizou o que seria um Wall of Death, pedindo para que o público se dividisse e deixasse o meio vazio. Assim, o breakdown da faixa se converteu a esse Wall, que logo se transformou em um bate-cabeça na parte frontal da pista.
“Orphan Soul” foi a única música do disco “86” (2017) a ser executada pelo Infected Rain em sua apresentação no Fabrique. Os elementos de Death Metal Melódico apareceram principalmente na bateria e no riff de guitarra do início. Na faixa em questão, Lena usa vocais limpos na maior parte do tempo, se destacando também nesse quesito lírico. A energia durante a parte mais agitada da faixa foi tamanha a ponto da vocalista pegar o celular de um fã da grade para se gravar no palco em alguns segundos.
Scissorhands perguntou ao público se eles estavam “preparados para mais ‘cardio’”, em alusão a exercícios e, provavelmente, tornar o show ainda mais agitado. E foi assim que a resposta positiva do público abriu a música “The Earth Mantra”, única representante e faixa de abertura do disco “Endorphin” (2019). Todos da banda se balançavam de alguma forma, seja pelo jeito único de Vidick tocar (pulos, guitarra no ar e muito headbanging), seja pelo ritmo frenético de Eugen e até pelo balançar de cabelos de Lena e Alice. Durante o momento mais calmo da faixa, a baixista e o guitarrista da banda se agacharam no palco, deixando Lena em evidência para uma parte vocal mais limpa e que, logo depois, voltou ao ritmo frenético da banda.
O público até pediu pelo single “Mold”, do álbum “86”, que infelizmente não foi atendido. No entanto, foram compensados com momentos épicos durante a música “DYING LIGHT”: o headbanging dos membros da banda foi constante até a calmaria da faixa, em que Lena pediu para que todos sentassem ou ficassem agachados na pista. Assim se formou o prenúncio para uma espécie de jumpdafuckup após os cantos limpos de Lena, que liderou a contagem e fez todos pularem constantemente ao longo do fim da música em questão. E a energia da banda seguiu em “NEVER TO RETURN”, após um começo cadenciado por batidas eletrônicas gravadas e mais guturais impressionantes da Scissorhands. O fim da faixa, marcado pelo rápido pedal duplo, encerrou o primeiro grande bloco da noite.
Lena voltou ao palco após alguns minutos e muitos gritos em nome da banda – motivados principalmente pelo roadie, que realizou os últimos ajustes e passou gesticulando o pedido de gritos mais altos -. A resposta positiva do público à pergunta da vocalista por mais músicas foi repetida, uma vez que, em tom de brincadeira e em reforço de seu carisma e poder de interação, ela “não se convenceu” com o volume das respostas.
Os demais membros voltaram ao palco para as duas faixas finais. A primeira foi a poderosíssima “BECAUSE I LET YOU”, com riffs poderosos de baixo e guitarra e uma crescente dos guturais de Lena, tão intensos quanto as linhas instrumentais no refrão. Toda a entrega da banda nesta faixa foi respondida com aplausos e manifestações positivas sinceras do público, ao final dela, o que novamente impressionou a banda.
Da mesma forma, a frontwoman do Infected Rain, em nome da banda, agradeceu e muito pela noite, alegria e sorrisos ao longo da noite, assim como reverenciou as bandas de abertura e organizadores do evento. O grupo escolheu “Sweet, Sweet Lies”, clássica do álbum “Embrace Eternity”, para encerrar a apresentação com um circle pit intenso e, mais ao final, muitos pulos do público e até mesmo o cumprimento com uma das mãos aos fãs. Num encerramento digno, com peso sono e muitos guturais na reta final, os membros não somente agradeceram e tiraram fotos, como jogaram palhetas e as baquetas para os sortudos da frente e meio do palco. Lena e Alice ainda fizeram questão de descer para tirar mais fotos com os fãs que ficaram por mais um tempo na Fabrique Club, trazendo mais uma demonstração de carinho e de interação com seus fãs mais antigos e, também, os conquistados naquela noite.
Throw Me to The Wolves
O quinteto paulistano de Death Metal Melódico está na ativa desde junho de 2023, com três singles lançados até o momento e a previsão de lançamento de álbum para 2025. Gui Calegari (guitarra), Lucas Oliveira (guitarra), Diogo Nunes (vocal), Rodrigo Gagliardi (baixo) e Maycon Avelino (bateria) montaram um setlist de seis faixas e uma introdução que deram o melhor início possível para o evento.
O grupo iniciou sua apresentação pontualmente, com um Fabrique Club ainda vazio, mas totalmente antenado no poderio da banda por um todo. A primeira faixa após a introdução foi “Chaos”, single mais recente – julho de 2024 – e que já mostrou o melhor de cada membro da banda: guturais poderosos de Diogo, condução precisa e uso de tappings por parte de Rodrigo, riffs poderosos e solos alternados de Guilherme e Lucas e o pedal duplo frenético de Maycon. “Tartarus”, lançado em abril deste ano, deu sequência com os mesmos elementos em destaque e uma performance constante da banda.
Diogo chegou a apresentar brevemente a banda, destacando o nome e brincando com ele, por ser longo. Gui Calegari, idealizador do nome e também em tom brincalhão, pediu desculpas e arrancou algumas risadas do público. O nome “Throw Me to the Wolves”, segundo entrevistas dadas pelo guitarrista, é inspirado no ditado “Me jogue aos lobos, que voltarei liderando a matilha”.
A apresentação seguiu com “Days of Retribution”, faixa não lançada e que também leva o nome do futuro álbum de estreia do quinteto, e “Fragments”, que também deve compor a tracklist deste lançamento. Para a segunda faixa, o pedido por um bate-cabeça foi atendido por duas pessoas da pista, o que infelizmente não foi suficiente para mobilizar um mosh maior. Ainda assim, a situação se contornou facilmente por conta da atenção que o público deu à sonoridade da banda, destacando o riff poderoso de Guilherme, seus solos alternados com Lucas e o momento da faixa em que todos os membros ficam imóveis por alguns segundos, retornando na sequência de 4 toques do baterista Maycon Avelino.
Na reta final da apresentação, a banda escolheu mais uma inédita, intitulada “An Hour of Wolves”. Diogo, que tinha um colar de lobo em seu pescoço, indicou esta como sua faixa favorita no momento e manteve o poderio vocal na faixa.
Por fim, o quinteto tocou o primeiro single lançado pela banda, “Gaia”, de dezembro de 2023. A faixa conta com a participação de Björn Strid, lendário vocalista da banda Soilwork, na versão de estúdio. E o grupo tocou com maestria no palco, com destaques para as linhas rápidas de bateria e as sequências 4-2 mais lentas de Maycon, o solo com técnica de tapping de Lucas e uma última alternância com Calegari, num dueto de cordas admirável. A finalização de Diogo, em um longo gutural, arrancou aplausos e ovações mais altas ao fim da apresentação, gerando uma impressão muito positiva para quem chegou mais cedo no evento, assim como uma expectativa para o lançamento futuro do primeiro álbum da banda – e claro, estou incluso neste grupo.
There’s No Face
O quarteto de metalcore paulista foi a segunda banda de abertura, antecedendo a atração principal. O setlist foi de oito faixas, sendo quatro delas do álbum de estreia da banda, “Contra/Senso”, lançado em abril deste ano.
Rafael Morales (vocal), Thiago Silva (baixo e backing vocal), Matheus Silverio (guitarra) e Rodrigo Kusayama (bateria) não somente mostraram o poderio de sua sonoridade, como também uma evolução espetacular da performance no palco. Dois exemplos foram das movimentações constantes de Rafael e Matheus e a entrega máxima de Rodrigo em seu kit.
Tão pontuais quanto o Throw Me to the Wolves, o grupo entrou em meio a uma introdução eletrônica, dando início à apresentação com a faixa “Me Encontrar”, que também abre o álbum de estreia do grupo. Logo de cara, após um poderoso riff, foi possível ver alguns fãs mais assíduos da banda acompanhando a letra da faixa a toda voz, algo que seguiu durante todo o show de forma tão constante quanto a performance da banda por um todo. Outros elementos musicais, como o refrão lírico sob a voz de Thiago e o breakdown poderoso, também eram evidentes logo de cara.
O show prosseguiu com “Integridade”, single lançado em 2013. A faixa foi marcada por outra abertura de roda na pista, por mais ainda tímida e com poucas pessoas. A compensação veio com gritos fortes de Morales ao longo da faixa. Voltando ainda mais no tempo, a banda tocou “Enquanto Você Espera o Bem”, faixa que abre o EP de estreia “Escolhas”, de 2012, e que é faixa marcada nos shows da banda. Aqui foi possível ver o quanto o sistema sonoro da Fabrique foi favorável para a banda, uma vez que o breakdown da faixa, forte destaque ao longo de sua execução, ficou perfeito em termos sonoros, sem sobreposição de instrumentos e/ou equipamentos – algo que perdurou por toda a noite de eventos, vale reforçar – Além disso, a movimentação dos membros no palco foi tão frenética quanto a faixa, com alternância de posições a todo instante, nos tempos certos.
“O Poço” retomou o repertório ao LP de 2024. Rafael, frontman da banda, dedicou a faixa para todos aqueles que já passaram por momentos ruins e, também, usou o suporte do microfone pela primeira vez. Apesar de ser um pouco mais lento que as músicas anteriores, o peso sonoro da banda se tornou constante, com a boa inclusão da voz de Thiago Silva no refrão e outros momentos, incluindo a finalização da faixa.
Após interações de Rafael Morales em um breve discurso, incluindo o aval para que um fã da grade gritasse “muito foda” no microfone, e a troca de instrumentos, o show prosseguiu com “Hamurabi”, outra faixa de destaque do álbum “Contra/Senso”. O vocalista da banda explica brevemente que a faixa é sobre “resolver as coisas sem ódio”. Alguns elementos da faixa se destacam, como o riff inicial, mais agudo; o refrão na voz de Thiago Silva, o trecho narrado de Rafael – este, inclusive, agachado – e outro ótimo breakdown na reta final da faixa.
Uma roda se formou com um pouco mais de intensidade durante o início do single “Quebre o Silêncio”, de 2022. A faixa, com uma forte mensagem sobre externar algo que lhe corrói por dentro, teve ótimas alternâncias entre os vocais limpos de Thiago e os trechos mais guturais de Rafael, além de uma condução sonora interessante por parte dos instrumentistas.
A reta final da apresentação se deu a partir da faixa-título “Contra/Senso”, também dedicada para o público presente que, segundo Rafael, poderia “estar assistindo ao ‘Domingão com Huck’” e que, no entanto, compareceu ao show e presenciou o show do There’s No Face. Ele também considerou que a plateia era Contra/Senso, ou seja, diferenciados dos outros. O destaque se deu durante o breakdown da faixa, com Thiago e Matheus “mais altos” por estarem de pé nos palcos praticáveis em frente aos seus postos.
Por fim e após diversos agradecimentos da banda, o fim do show se deu com o single “Motivo”, de 2019. O jogo de luzes, o refrão melódico motivacional e o pequeno mosh formado na reta final do show, sob motivação intensa de Rafael, deram os últimos gases de uma banda que, facilmente, tocaria mais faixas se pudessem, tamanha a energia que deixaram no palco da Fabrique Club. Um verdadeiro show de sonoridade e performance que, ao final, surpreendeu o público ao deixar tocar “Bye Bye Bye”, música da boyband ‘N Sync que, recentemente, voltou a ficar popular devido a performance dançante de Ryan Reynolds no filme “Deadpool & Wolverine”. Mas só até o término das fotos, claro.
A chuva, que perdurou antes, durante e depois do evento, não evitou que o evento ocorresse e que houvesse um público considerável. Uma pena que não houve uma quantidade maior de pessoas para presenciar as atrações, pois seria garantia de que estes não sairiam da Fabrique Club sem deixar de se impressionar com alguma apresentação na noite: de um Throw Me to The Wolves que demonstra potencial enorme já em seu quase primeiro ano de banda; um There’s No Face consolidado e cada vez mais agitado; e um debut de um Infected Rain incansável que prendeu a atenção do público, foi ativamente performático durante todo o show e que deixa um desejo de retorno para os fãs que não estarão na Horror Expo. Felicitados aqueles que poderão vê-los novamente, assim com aqueles que verão pela primeira vez.
Setlists
Throw Me to the Wolves
- Intro
- Chaos
- Tartarus
- Days of Retribution
- Fragments
- An Hour of Wolves
- Gaia
There’s No Face
- Me Encontrar
- Integridade
- Enquanto Você Espera o Bem
- O Poço
- Hamurabi
- Quebre o Silêncio
- Contra/Senso
- Motivo
Infected Rain
Intro: A SECOND OR A THOUSAND YEARS
- The Realm of Chaos
- PANDEMONIUM
- VIVARIUM
- Fighter
- THE ANSWER IS YOU
- Orphan Soul
- The Earth Mantra
- DYING LIGHT
- NEVER TO RETURN
Encore
- BECAUSE I LET YOU
- Sweet, Sweet Lies