Interpol imerge fãs à nostalgia celebrativa de seus dois primeiros álbuns de estúdio em São Paulo

Texto por: Tiago Pereira

A banda de Indie Rock e Pós-punk revival Interpol desfilou as aclamadas faixas do início de carreira na última sexta-feira (07), na Audio, Zona Oeste de São Paulo. Foi na primeira de duas apresentações marcadas no local e na reta final da turnê sul-americana que celebra os dois primeiros álbuns de estúdio – “Turn On the Bright Lights” (2002) e “Antics” (2004).

Foram 20 faixas, todas comemoradas e cantadas incessantemente, em duas partes e um encore. Num show em que os membros pouco interagiram com o público presente, a sonoridade da banda com o coro alto e constante de seus fãs e o jogo de luzes – com direito a um globo iluminador no chão do palco – formaram a combinação que sacramentou positivamente a noite quente no local que fez jus ao sold out da primeira data e ocupou completamente a pista e mezanino – com excedentes fora da primeira.

Pré-show

Em pouco mais de 20 minutos desde a abertura dos portões, às 19h, a pista já se encontrava ocupada pela metade. Uma hora depois, praticamente todo o espaço foi preenchido e o mezanino, idem.

O som ambiente, que mesclava músicas instrumentais e cantadas, era uma distração para quem estava sozinho. No entanto, muitos grupos de conversa estavam espalhados, seja em duplas ou casais, seja em grupos de fãs.

No palco, os instrumentos de fundo (bateria e teclado) e os tripés de frente já estavam postos, assim como a notória linha com seis kits de iluminação, cada um com 16 lâmpadas, que fez a diferença durante a apresentação.

Os últimos 20 minutos de espera foram de testes por parte dos roadies, que afinavam os instrumentos de corda ou ajeitavam o timbre da bateria. Eles foram bem notados por uma pequena parcela dos presentes, que fizeram ovações tímidas. E na mistura de ociosidade com expectativa, até mesmo um fã da parte da frente da pista usou de um aplicativo de letreiro para informar quanto tempo faltava para o início da apresentação.

No mesmo momento dos testes finais, o calor levou os bombeiros a distribuir copos de água para os mais sedentos. Não somente a noite paulistana foi quente, como o sistema de ar condicionado pareceu não ser o suficiente para tantas pessoas concentradas no local. Mas ao menos não houve alguma situação visível de pessoas que passaram mal. Ainda bem.

O início da celebração

Os últimos cinco minutos foram de total ansiedade. Nesse meio tempo, um dos fotógrafos usou do palco e do espaço pós-grade para registrar esse momento pré-show.

Às 21h em ponto, uma introdução melancólica deu início à apresentação e ao retorno a São Paulo pouco menos de dois anos após sua apresentação no Primavera Sound de 2022.

Os membros entraram sob uma luz azul, tanto os que tocam apenas ao vivo – Brandon Curtis (teclados e backing vocals) e Brad Truax (baixo e backing vocal) -, quanto o trio principal: Chris Boome (bateria, substituindo Sam Fogarino), Daniel Kessler (guitarra e backing vocal) e o frontman Paul Banks (vocal e guitarra). Kessler surgiu com o que parecia ser um copo e Banks era o único membro com óculos escuros, o que trouxe mais obscuridade à sua apresentação, um pouco além do efeito contraluz que a iluminação do palco causou.

Todos eles, muito ovacionados, deram início ao show a partir do primeiro álbum da banda.

Interpol: “Turn On The Bright Lights”

O aclamado disco de estreia do Interpol, de 2002, foi tocado fora da ordem de seu lançamento. Isso não foi empecilho para que o público presente, que não deixou de cantar em momento algum.

O início da celebração veio com “Specialist”, B-Side do single “PDA” e que entrou na tracklist do remaster que celebrou dez anos deste álbum. A comemoração coletiva veio logo na introdução do baixo de Truax, seguida da voz de Banks, sobreposta ao coro geral.

Logo de cara, o jogo de iluminação deu a letra do ambiente “obscuro” que fora causado. A contraluz dificultou a visão dos rostos dos membros e até de seus instrumentos musicais. No entanto, esta situação valorizou as poses e movimentos de cada um ao longo do show.

Logo na sequência, os riffs de “Say Hello to the Angels” aumentaram os ânimos do público, que cantaram ainda mais alto e dançaram na medida do que os espaços da pista lotada permitiam.

Em “Obstacle 1”, o jogo de luzes se tornou mais forte, com os refletores piscando durante os momentos de refrão. A constância vocal da galera se tornou maior nos versos “She can read, she’s bad” e na reta final, em “She packs it away”. Foi nessa faixa, inclusive, que um princípio de discussão se deu próximo ao local em que eu fiquei na pista por conta de duas pessoas que, de tão animadas, pulavam a ponto de esbarrar em quem estava em volta, o que de nada agradou essas pessoas.

“NYC” deu sequência, com um ritmo mais lento e a temática relacionada ao estado de confusão e a busca por uma forma de enfrentar o mundo, mas sem deixar de ter um coro alto. A iluminação do globo teve seu primeiro grande destaque, desfilando feixes de luz amarela por todo o palco.

Paul Banks fez um pequeno discurso em que reforçou o objetivo da apresentação com as faixas dos álbuns. A breve fala deu brecha para o retorno do show com “Roland”, uma das faixas mais animadas do disco em termos rítmicos, mas com uma temática obscura. O piscar dos refletores se tornou um grande suporte para a reta final da faixa, de maior peso musical.

Hands Away” foi a faixa seguinte, sob uma iluminação predominantemente vermelha no início, porém com feixes brancos ao longo da música. Os aplausos ao fim da faixa logo se converteram em ovações sinceras com o início de “Stella was a diver and she was always down”, faixa que aborda a fuga da personagem da realidade. Esta foi uma das mais celebradas naquela noite, com muitos gritos nos versos que envolveram a frase “She broke Away” e na virada “Stella, I Love You”.

A reta final da primeira parte do show veio com “Leif Erikson”, seguida da aclamada “PDA”, que foi cantada de forma totalmente coletiva pelos fãs presentes e que muito se deu para ver do rosto dos membros devido a iluminação dos kits maiores.

A rápida saída dos integrantes do Interpol também se converteu num rápido retorno para a segunda parte.

Interpol: “Antics”

Brandon Curtis levou a plateia a mais um momento de êxtase ao tocar as primeiras linhas de “Next Exit”. O retorno do público veio ao cantar, no ritmo da faixa e junto ao introspectivo Paul Banks, os versos iniciais: “We ain’t going to the town / We’re going to the city / Gonna track this shit around / And make this place a heart to be a part of”. Era o início da tracklist do também aclamado segundo álbum do Interpol que, diferentemente do primeiro, foi tocado na ordem de seu lançamento. Curiosamente, “Antics” completará 20 anos de seu lançamento em setembro deste ano.

A cantoria coletiva não se perdeu na faixa seguinte, “Evil” e, junto a isso, houve pulos parciais dos fãs durante o refrão. Já o icônico riff da dançante e apaixonante “Narc” deu mais destaque ao dançante Daniel Kessler que, de longe, foi o mais animado entre os membros da banda ao vivo, mesclando danças e poses ao tocar as faixas – o que não foi diferente neste momento do show.

Em “Take You on a Cruise”, a iluminação esverdeada se tornou um momento diferencial, em meio aos momentos do uso de luzes amarelas, brancas, azuis e vermelhas em outros momentos do show. O globo voltou a girar no fundo do palco e enriqueceu a complexidade da letra da faixa.

Slow Hands” retomou os ânimos agitados do público, que arriscou a pular novamente durante o refrão. Já a faixa “Not Even Jail” foi acompanhada dos aplausos rítmicos dos presentes e de um raro momento mais extrovertido do frontman do Interpol, com uma dança simples e balançares do corpo.

Os agradecimentos em português logo deram sequência para “Public Pervert”, faixa cujo refrão foi tão bem cantado pelos fãs quanto em outras faixas mais populares. “C’mere”, faixa sobre um amor não correspondido, deu sequência à apresentação com os fortes gritos do verso “It’s way too late / To be this locked inside ourselves”. Kessler, nesse momento do show, voltou a dançar em seu espaço, seja de pernas cruzadas, seja de outras formas, mas aproveitando muito o ritmo da faixa e a iluminação em vermelho e branco.

Lenght of Love” foi mais uma das faixas comemoradas da noite. Paul Banks saiu momentaneamente de seu posto para observar o mar de pessoas presentes na Audio. O estilo pós-punk revival da faixa se casou com as alternâncias das luzes azul e branca e aprofundou a temática da música, relacionada à durabilidade de um amor.

O fim do repertório de “Antics” veio com a lenta e introspectiva “A Time to Be So Small”. No entanto, não era o fim do show: com o fim da faixa e os aplausos, os membros se retiraram novamente para mais uma rápida pausa.

A última faixa

A animosidade do público voltou durante este encore, com palmas e pedidos por mais uma música e gritos do nome da banda.

No retorno, Paul Banks se destacou por ter voltado sem sua jaqueta e com as mangas levantadas, num possível indício de que a sensação de calor também chegou nele.

Na “última dança” da noite, o grupo retornou como a faixa que abre o disco “Turn on the Bright Lights”, “Untitled”. Os poucos momentos de canto, mesmo que acompanhados pelo público, foram sobrepostos pela predominante iluminação azul que começou em Daniel Kessler e, na entrada da bateria, se tornou completa no palco. A finalização instrumental da faixa se tornou uma grande despedida, seguida do discurso final do frontman, Paul Banks, que prometeu o retorno da banda em breve.

Simbolicamente, a linha de kits de iluminação se manteve acesa mesmo após a saída dos membros. Um último ato introspectivo, talvez, perante a imersão de nostalgia que os fãs do Interpol tiveram naquela noite, independentemente de terem visto a banda pela primeira vez ou além da primeira. Independentemente do tempo de espera ou do calor, o aproveitamento foi mais que positivo.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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