Ira! celebra seu clássico “Psicoacústica”, um disco à frente de seu tempo

TEXTO E FOTOS POR: BEL SANTOS

Comparecer à um show do Ira! sempre é uma experiência única. Seja ela para o bem ou para o mal. Como estará o humor do Nasi? Como estará o som? Como estará a inspiração da banda para suas sempre bem vindas jams?

O Ira! é uma das poucas bandas do chamado BRock que se arriscaram na carreira, indo do “mod pós punk” inicial até se enveredar pelas influências eletrônicas numa mais que clara força do compositor principal que é o Edgard.

Fizeram seu Acústico MTV, fizeram seu disco de covers (Isso é Amor) e até arriscaram a carreira sendo produzidos pelo insosso Rick Bonadio.

“Psicoacústica” foi o terceiro disco da banda e apontou muitos caminhos que ainda estavam por vir no Rock Brasileiro. Foi considerado um fracasso à época com músicas difíceis, sem refrão e veio logo após “Vivendo e Não Aprendendo” que tinha música em novela Global e alguns dos clássicos eternos da banda.

Mas o tempo corrige alguns equívocos e hoje esse disco está em qualquer votação de melhores álbuns que seja realizada em território nacional.

Advogado do Diabo” é uma música vanguardista até hoje, sendo levada no pandeiro e numa linha de baixo perfeita na época por Ricardo Gaspa.

Farto do Rock N’ Roll” com um solo de scratch improvável à época (ou o Gueto fez isso primeiro em “Estação Primeira”?) e “Pegue Essa Arma” são duas das melhores músicas escritas por bandas nacionais.

A celebração do disco no Teatro Bradesco em São Paulo começou com a narração de “O Bandido da Luz Vermelha” de 1968 introduzindo como no disco a perfeita “Rubro Zorro“.

 

 

Manhãs de Domingo” dá sequência seguida da marcial “Poder, Sorriso, Fama” que pagou o preço das improvisações que ainda iriam ocorrer no decorrer da noite.

Isso é ruim? De jeito nenhum. É até um atrativo saber que a cada show do Ira! podemos ser surpreendidos a cada música executada.

O hit do disco “Receita Para Se Fazer Um Herói” deu sequência emendada com “Pegue Essa Arma“, “Farto do Rock N´Roll” (outra que só quem conhece muito a banda sabe onde eles “erraram”) e “Advogado do Diabo“. Poucas bandas tem uma sequência dessa na carreira, imagina no mesmo disco.

Mesmo Distante” e seus estilo barroco encerram a primera parte do show e os parcos 34 minutos de um clássico e todas suas lembranças passaram pelos nossos ouvidos e olhos.

A segunda parte do show foi reservada para os sucessos da banda e “Flores em Você” dá início, seguida pela sempre cantada em uníssono “Tarde Vazia“.

Em “Dias de Luta” o Teatro fica de pé obedecendo os comandos de Nasi e “Flerte Fatal” poderia facilmente ser limada do repertório já há algum tempo.

Representando o Acústico surge “Pra Ficar Comigo“, a versão de “Train In Vain” do The Clash.

Quem viu o Ira! no show do próprio Teatro Bradesco em Abril ou no festival Best of Blues and Rock no Ibirapura em Junho (só pra citar os maiores shows) percebeu que Nasi estava naqueles dias nessa sexta-feira.

Reclamou do retorno, do roadie, da platéia, do baterista e parecia estar naquela vibe “estados alterados da mente”. Pelo menos essa foi minha impressão e que em alguns momentos chegou a interferir na performance da banda. Edgard chegou a brincar durante “Vida Passageira” que essa foi uma “versão” que eles nunca haviam tocado antes.

O Girassol” e “Eu Quero Sempre Mais” fez todos cantarem alto numa representação do quão importante eram os discos acústicos da MTV.

Os velhos clássicos “Envelheço na Cidade” e “Núcleo Base” vieram fechar a apresentação.

Para o bis, pelo menos para esse que vos escreve, as improváveis e ótimas “É Assim Que Me Querem” do ótimo mas pouco citado disco “7” e “O Bom e Velho Rock N´Roll” do “Entre Seus Rins“.

Nasi ainda é um dos últimos frontman que temos aquela sensação de perigo. Ou como disse um amigo: “já ouvi falar que tem dia que ele tá o cão“. Edgard continua sendo uma usina de inventividade. Johnny no baixo e Evaristo na bateria cumprem seus papéis de coadjuvantes da dupla que manteve a banda, se separou, se reconciliou e leva a história adiante.

Mas o Ira! é isso. O Ira! é e pode ser tudo que quiser, quando quiser.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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