Ira!: há 39 anos, banda lançava o clássico “Vivendo e não Apreendendo”
Há 39 anos, em 25 de agosto de 1986, o Ira! lançava “Vivendo e não Aprendendo“, o segundo álbum desta banda amada por tantos e odiada principalmente pela parcela bolsonarista dos fãs, e o play é tema do nosso bate-papo desta segunda-feira.
Se considerarmos apenas os álbuns de estúdio, nosso homenageado é o play que fez mais sucesso comercial e crítico, sendo superado somente em 2004, quando o Ira! lançou o disco “Acústico MTV“, que inclusive rendeu uma turnê comemorativa dos 20 anos que está sendo levada a cabo. Mas o sucesso do disco não refletiu as tensões no estúdio.
Se entre os músicos, a situação era tranquila, o mesmo não se pode dizer dos integrantes com relação ao produtor. Eles escolheram Liminha e gostariam de abordar uma sonoridade semelhante à banda britânica The Jam, que era uma de suas principais influências. Mas o produtor se recusava, alegando que a guitarra de Edgard Scandurra era demasiadamente desafinada. Eles foram para o Rio de Janeiro, onde se trancaram no estúdio Nas Nuvens. Ficaram por lá entre os meses de maio e junho de 1986.
O álbum deveria ser completamente gravado no Rio de Janeiro, mas depois que o produtor Liminha fez uma pergunta sarcástica ao vocalista Nasi, depois que este gravou seus vocais em “Flores em Você“, que foi acompanhada de um quarteto de cordas. Iremos reproduzir a fala do produtor abaixo:
“E aí, qual é a sensação de cantar acompanhado de um conjunto afinado?”
Essa foi a gota d’água, então todos decidiram voltar para São Paulo, onde entregaram o álbum para o velho conhecido Pena Schimidt fazer a mixagem. Na ficha técnica, além de Liminha e Pena Schimidt, também são citados como produtores Paulo Junqueiro, Vitor Farias, além da própria banda.
Duas músicas foram gravadas ao vivo e incluídas no álbum: “Gritos na Multidão” e “Pobre Paulista“, originalmente lançadas no compacto de 1984, reapareceram aqui em uma gravação de um show na Broadway, em São Paulo, no dia 3 de junho de 1986. A razão, era evitar o playback destas músicas quando o Ira! se apresentasse nos programas televisivos.
Sobre “Flores em Você“, a música da discórdia, ela foi inspirada nas músicas “Eleanor Rigby“, do The Beatles e por “Smithers-Jones“, do The Jam. Ela foi escolhida para ser tema de abertura da novela “O Outro“, da Rede Globo e foi a 13ª canção mais tocadas nas rádios do Brasil no ano de 1987. A capa do álbum traz um desenho para cada um dos integrantes, feitos por quatro artistas diferentes.
O álbum tem dez músicas e duração de 48 minutos. Os destaques ficam para as já citadas “Flores em Você“, “Gritos na Multidão” e “Pobre Paulista“, além de outras clássicas como “Envelheço na Cidade” e “Dias de Luta“, obrigatórias nos shows da banda. O aniversariante do dia entrou na lista dos 100 maiores discos da música brasileira, elaborada pela Rolling Stone Brasil, ficando na posição de número 94.
Em 11 de outubro de 1986, a banda fez o show de lançamento do álbum, que aconteceu na Praça do Relógio, localizado no campus da USP, para uma plateia estimada em 40 mil pessoas, entre elas, Renato Russo e Paula Toller. Em dezembro do mesmo ano, eles se recusaram a se apresentar no especial de natal do programa do Chacrinha, pois entenderam como humilhação ter que usar gorros. No mesmo programa, o apresentador teria dado uma bronca no cantor Byafra por ele ter tirado o gorro, fato que irritou Nasi.
Em 1988, o Ira! se apresentou na primeira edição do Hollywood Rock e a apresentação no Rio de Janeiro foi marcada por polêmicas. A começar pelo atraso de 35 minutos. O público não se mostrou muito receptivo, a banda teve problemas com o som e quando “Pobre Paulista“, a última música do set seria tocada, os amplificadores foram desligados. Tal fato levou Edgard Scandurra a quebrar sua guitarra em pleno palco. Eles se apresentaram na semana seguinte, quando o festival aconteceu em São Paulo e depois a banda só voltou a frequentar um festival no ano de 2011, no Rock in Rio.
A já citada música “Pobre Paulista” foi marcada por uma polêmica. A letra foi erroneamente interpretada por muitos como de teor fascista e xenófobo, tudo por conta dos seguintes versos:
“Não quero ver mais essa gente feia / Não quero ver mais os ignorantes / Eu quero ver gente da minha terra / Eu quero ver gente do meu sangue.”
Nasi e Edgard Scandurra vieram a público e desmentiram as falsas informações de que a banda estava destilando ódio contra os imigrantes. A letra foi escrita pelo guitarrista quando ele tinha apenas 17 anos e na verdade se tratava de uma crítica aos apoiadores da ditadura militar. Chega a ser bizarro o fã que acha que o Ira! só passou a se posicionar politicamente agora, quando as posições antifascistas da banda já davam as caras desde sempre.
Hoje é dia de celebrar mais um aniversário deste belíssimo álbum, que é uma pérola de uma banda que sabe usar o Rock como protesto, sendo uma voz importante contra governantes autoritários. Recentemente, Nasi expulsou uma pessoa da plateia, que o vaiou quando ele disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro não deve ser anistiado. Não era para se esperar outra atitude de quem sempre se colocou do lado das minorias. Por mais bandas como o Ira! O Rock precisa de mais bandas como vocês.
Vivendo e não Aprendendo – Ira!
Data de lançamento – 25/08/1986
Gravadora – Warner
Faixas:
01 – Envelheço na Cidade
02 – Casa De Papel
03 – Dias de Luta
04 – Tanto Quanto Eu
05 – Vitrine Viva
06 – Flores em Você
07 – Quinze Anos (Vivendo E Não Aprendendo)
08 – Nas Ruas
09 – Gritos Na Multidão
10 – Pobre Paulista
Formação:
Nasi – vocal
Edgard Scandurra – guitarra/ violão/ backing vocal
Ricardo Gaspa – baixo/ backing vocal
André Jung – bateria
Participações especiais:
Mathias Capovilla – trombone
Ana Maria Machado – guitarra
Sergio Luiz: guitarra solo/ cordas
Jaques Morelenbaum – violoncelo
Michel Bessler – violoncelo
Bernardo Bessler – violoncelo
Grande clássico esse disco é, gosto muito da arte da capa!!!! Anos 80 era também a época de ouro para o Rock Nacional, bons tempos aqueles!!!! Valeu!!!!