Kataklysm – “Heaven’s Venom” (relançamento)

O Kataklysm é uma daquelas bandas que, mesmo sem reinventar a roda, sempre sabe como entregar um death metal poderoso, direto e memorável. Desde que explodiram com Shadows & Dust em 2002 — um álbum que apresentou ao mundo sua fusão perfeita entre brutalidade norte-americana, melodia europeia, riffs trincados de thrash e bateria em velocidade absurda — os canadenses vêm lapidando essa abordagem sem jamais perderem o fio condutor. Na época, os vocais alternando entre guturais profundos e agudos gritados completavam uma fórmula que parecia imbatível. Revisitar a discografia anterior ao clássico de 2002 nunca teve o mesmo impacto, mas tudo lançado depois seguiu uma linha clara de evolução contínua, com cada disco se mostrando levemente mais melódico, acessível e coeso.

Três álbuns depois daquele marco, o Kataklysm lançou Heaven’s Venom mantendo exatamente essa trajetória, e ganha relançamento pela parceria Nuclear Blast e Shinigami Records. A banda não muda sua identidade, mas refina o que já faz bem. Os gritos agudos que se tornaram raridade nos últimos anos desapareceram quase por completo, substituídos por vocais mais ásperos, quase hardcore, mas os guturais tradicionais continuam fortes e bem posicionados. O resultado é um álbum que parece consolidar de vez a fase moderna do grupo.

O que chama atenção em Heaven’s Venom é a qualidade do repertório. Algumas das melhores músicas da carreira recente do Kataklysm estão aqui: refrãos surpreendentemente marcantes, riffs com groove irresistível e melodias que se destacam sem comprometer o peso. A banda trabalha melhor as dinâmicas, alternando ritmos com naturalidade, evitando o excesso de breakdowns que contaminou boa parte do metal extremo contemporâneo. O disco flui com variedade e equilíbrio, algo que nem sempre ocorreu nos lançamentos anteriores.

Mesmo mantendo a base estética e sonora de In the Arms of Devastation (2006) e Prevail (2008), desta vez o Kataklysm apresenta composições mais bem estruturadas e inspiradas. A evolução está no cuidado com as melodias, na construção dos refrãos e no impacto dos riffs. Faixas como “Faith Made of Shrapnel” e “Push the Venom” mostram o grupo no auge da maturidade criativa, combinando brutalidade e acessibilidade numa medida rara dentro do death metal moderno.

Heaven’s Venom não revoluciona nada — e nem tenta. Mas entrega um Kataklysm seguro, afiado e capaz de transformar sua fórmula já estabelecida em um dos melhores trabalhos de sua fase recente. Para quem acompanha a banda desde Shadows & Dust, é uma confirmação clara de que eles ainda têm muito a oferecer dentro de sua própria identidade sonora.

NOTA: 7

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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