Katatonia – “Sky of Void of Stars” (2023)

O Katatonia é um verdadeiro furacão sonoro quando se trata de sua história. A banda já caminhou em drásticas mudanças no decorrer de sua jornada, e acabou, como é de praxe, dividindo sua base de fãs em cada nuance de seus discos lançados.

Três anos separaram o grupo de do ótimo “City of Burials”, e o agora recém lançado, “Sky Void of Stars”, que chega pela Napalm Records, nova casa do Katatonia. O novo disco resgata elementos da banda mais tradicional e suas altas doses de melancolia e passagens densas, agora, atenuadas por um grande uso dos sintetizadores, talvez um de seus discos com mais uso do recurso.

O disco faz uma espécie de continuação do anterior, mas agora, Jonas Renkse olha pelo retrovisor e traz peças do que já passou, criando o que pode ser um de seus trabalhos mais amadurecidos em termos de unir passado e presente, ainda que galgue um pouco de repetições na sequência e alguma certa, falta de organização.

É justamente Renkse quem puxa a abertura do registro, com sua voz agora em ótima forma e pleno controle, e ajustada ao ponto certeiro com a fabulosa “Austerity”, que é dona de um refrão incrível, que nos remete a atmosfera nublada e cinzenta, com um belho trabalho instrumental, principalmente as guitarras a cargo da dupla, Anders Nyström e Roger Öjersson, que brilha com força e em seu solo, é possível enxergar um trovão chegando no meio da densidade sonora. Logo na derradeira, chega “Colossal Shade”, que já cria clima de imediato com seu groove e cadencia, vocal  profundo e canalizando uma força sombria gritante na dinâmica. “Opaline” joga o clima la embaixo, na melhor assinatura Katatonia, e é o momento de nos trancarmos no quarto escuro e realmente sentir essa música, sendo a melhor forma de apreciar esta obra. “Birds”, um dos singles daqui, é o que me soou a parte mais apática do disco, ainda que bem feitinha, não acrescenta em muito o que ouvimos. “Drab Moon” podia facilmente compor o trabalho anterior, e bilhar com as camadas vocais de Jonas, indo de graves a falsete, e ótima levada das guitarras. “Impermanence” é uma semi-balada gótica, com tudo que se tem direito em algo assim. Ritmo lento, climática, escrita com lágrimas borrando a caneta no papel, e o reforço é feito por Joel Ekelöf do Soen, que da mais brilho ainda na faixa. “No Beacon to Illuminate Our Fall” é a banda apostando alto para o encerramento, com uma faixa que vai ganhando progressão com os segundos rodados, e ganha contornos robustos em cada nova camada que vai aparecendo com sua execução.

Mais uma vez a banda acerta em continuar sua vibe atual e trazer parte do passado, mas algumas coisas acabaram perdendo o foco em determinados momentos do disco, como músicas que não parecem a hora certa de aparecerem, ou quiçá, nem parte do álbum deveria fazer. Ou a faixa bônus, “Absconder”, poderia integrar a lista principal no lugar até mesmo, de um dos dois singles.

A noite continua escura na história do Katatonia, mesmo que faltasse algum faixo de luz em determinados momentos, a história continua sendo bem contada e que ainda trará muitas lágrimas e aplausos dos ouvintes.

NOTA: 7

 

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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