Kiko Loureiro fala sobre a saída de Edu Falaschi do Angra: “se não fizer direito, tem pressão”

Kiko Loureiro falou em participação no Futeboteco, sobre a demissão de Edu Falaschi do Angra anos atrás, e como isso se deu. Os entrevistadores comentaram sobre o problema de refluxo que o vocalista afirmou ter vivido no período e que acabaram influenciando em uma época de rendimento ruim de sua voz. Kiko então comenta conforme transcrito pelo Confere Rock:

“Acho que você está com um problema físico.;. Eu tive também, lá no primeiro álbum. Tive tendinite no braço quando tinha uns 18 anos. Você fica meio deprê porque pensa: “Cara, nunca mais vou tocar.” Você sempre pensa o pior, né? Tava com tendinite, não conseguia nem pegar um copo. E tendinite não é uma coisa simples, cara. Aí, o que você vai fazer? Vai no médico, fiz acupuntura, faz tudo que dá. E a acupuntura foi o que me ajudou. Mas eu entendo, porque você entra numa paranoia negativa. Você se vê destruído, sabe? Aquilo que você sabe fazer, o seu corpo não tá deixando mais. E isso acontece porque o músico não se trata como atleta. Mas na real, a gente é. Demora pra cair a ficha, mas a gente é atleta, sim, principalmente os que estão na estrada, de alta performance, mesmo que não toquem de forma super virtuosa.

Só o fato de viajar muito já desgasta demais. Dorme mal, fuso horário, vive em aeroporto.” – o entrevistador então ressalta que Edu afirmou que o Angra não era uma banda com noitadas de bebedeira. Kiko então confirma: “Não teve esse rolê, porque também, se tivesse, não dava pra durar. Não dá pra tocar o que a gente toca chapado. Não rola. Tem que mudar o estilo, aí. Sei lá, tem uns caras que conseguem, mas pra durar… pega demais no corpo. Então, precisa dessa consciência. Precisa dormir, comer direito, não beber. Se o cara gosta de beber, beleza, mas faz isso no dia de folga, não no dia do show. Hoje eu tenho muito mais essa consciência. Antes não tinha, mas hoje sei que preciso cuidar, que preciso dormir, comer direito, alongar, ver médico no primeiro sinal de problema. Se for refluxo, tem que mudar a alimentação mesmo.

E quanto mais velho você fica, mais sente. Não tem jeito. Uma vez, eu exagerei e deu câimbra no palco. Foi no show do Megadeth. Deu um piquezinho no palco e eu caí. Os caras tiveram que esperar. Depois, continuei o show de pé, parado. E aí, você vê que o corpo cobra.”

Na sequência, Kiko foi questionado se houve uma pressão em Edu após ele falar sobre o problema que o afligia:

Claro que tem pressão. Porque é um grupo, tá todo mundo junto. E, às vezes, é mais fácil tirar o cara. Mas se você não quer tirar, você tem que pressionar, tem que cobrar. Tá indo ao médico? Tá fazendo aula de canto? Tá na dieta? Tá se cuidando?

Porque banda não é como empresa ou time de futebol. No time, se o jogador não tá rendendo, bota no banco. No banco, o cara pensa: “Preciso melhorar.” Mas banda não tem banco. Trocar integrante é sempre o último recurso. É muito difícil. Porque o integrante é o produto. É diferente de empresa. Numa empresa, o produto tá lá, o funcionário não rende, troca. Mas na banda, a cara da banda é o músico. O público se conecta com os músicos. Ainda mais no rock, no heavy metal. Em outros estilos, tipo música eletrônica, às vezes o cara nem sabe o nome do DJ, só curte a música. Mas no rock, não. É tudo conectado: a música, a banda, o que a banda representa.

E hoje em dia, com as redes sociais, isso é ainda mais forte. As pessoas querem saber a opinião política do cara, como ele trata os outros, como ele fala. Se vacilar, é cancelado. Então, sim, tem que ter pressão. Porque todo mundo depende de todo mundo. E, se tem pressão, é porque alguém não tá fazendo o mínimo. Quando todo mundo faz o certo, o grupo apoia. Mas se você sente a pressão, é porque tá devendo.”

Kiko ainda falou sobre o fatídico show do Rock in Rio, que foi o último com Edu Falaschi nos vocais. O guitarrista então fala sobre os diversos problemas que ocorreram na apresentação:

Cara, vendo hoje, parecia tudo descompassado. A bateria de um jeito, a voz de outro. Em termos técnicos, a banda não tava bem. Não adianta jogar a culpa no equipamento. Eu sou contra isso. No começo, você até quer dizer que o equipamento não tava bom, mas não dá. A gente pode até falar das questões técnicas do Rock in Rio: que o PA parou, que a transmissão direta da TV é pior pro cantor… tudo isso influencia, sim. Tem vários exemplos, tipo o cara do Journey, que canta muito, e o próprio Axl Rose também. É uma voz seca, na lata, mais difícil de segurar. É como um solo de guitarra sem efeito, saindo direto no alto-falante de celular. Só a frequência aguda. Fica feio. Você ouve qualquer detalhe.

Então, realmente, não ajuda. Tem que dar um desconto. Mas o público não dá. Lembro também do André Matos. Tinha apresentações que passavam na TV e o pessoal falava: “Ah, não é tudo isso.” Mas a sensação ao vivo nunca é igual. Se você tá no lugar, com o som do ambiente, com a galera, com a vibe do show, tudo fica mais leve. As desafinações, os erros, tudo passa. Por isso que música ao vivo é pra ser ao vivo. Quando você pega esse ao vivo, cru, seco, condensado e joga na televisão, aí é complicado. Fica mais difícil mesmo.

Kiko Loureiro se juntará a Marty Friedman no próximo mês para uma série de shows pelo Brasil e mais detalhes você confere aqui.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

2 thoughts on “Kiko Loureiro fala sobre a saída de Edu Falaschi do Angra: “se não fizer direito, tem pressão”

  • maio 29, 2025 em 4:11 pm
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    A maior vergonha foi cantar ao lado da Tarja e ela fingir que tava tudo bem, triste aquele show! Valeu!!!!

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  • maio 29, 2025 em 10:41 pm
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    Edu tremeu na base quando viu Tarja do Lado, foi o que aconteceu. Abraços

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