Kiko Loureiro fala sobre o porquê de bandas nacionais não serem famosas na gringa
Kiko Loureiro conversou como podcast Sem Limites, onde ele falou sobre sua influências na músicas, e ainda, o porquê de bandas nacionais não fazerem fama na gringa. ele diz:
“Eu estudei no Colégio Rio Branco, né, tradicional em São Paulo, Renópolis, tradicionalzão! E aí, ia lá na biblioteca e comecei a gostar… teve o Kiss no Brasil, depois teve o Rock in Rio 85! Fiquei fascinado com aquelas bandas: Iron Maiden, Queen, Ozzy Osbourne, AC/DC, e tal. E aí, na biblioteca, tinha os vinis para pegar. Fui pegando Deep Purple, Scorpions, essas bandas, Pink Floyd, fui descobrindo esses álbuns legais a partir da biblioteca. E aí, aos poucos, quando dava, juntava um dinheirinho e comprava um álbum ou outro. Fui comprando vinil, e comecei com a guitarra. Com uns 14 anos, já queria tocar aquelas músicas, entendeu?”
Kiko então relembra que estudou violão clássico por algum tempo:
“É, dois aninhos, mais ou menos. Não é tipo… violão clássico mesmo, não fiz como tem que ser, como a galera que vai para o violão clássico com seriedade. Foi o meu início no violão. Só que no início você aprende os primeiros acordes, a tendência é ir para os livros de música clássica, as primeiras peças de violão, etc. Então, fiz isso, li partitura, tal. Mas não era bem aquilo que eu queria, porque eu estava ouvindo os caras deitarem. E aí, meu próprio professor de violão na época falou: ‘Vai para a guitarra, que você está mais com cara de guitarrista.’ E aí eu fui para a guitarra, que era o que eu estava ouvindo. Fui ter aula de guitarra mesmo, para aprender os solos do Van Halen e tal. Esse foi meu começo. E aí eu entrei de cabeça, não só nas bandas de metal, mas comecei a ouvir os guitarristas de música instrumental, os caras virtuosos, que têm toda uma linha de música desse tipo, caras virtuosos que fazem músicas instrumentais. Assim como tem no piano, seria um dos ícones dessa época. Músicas super legais, bonitas, melodias na guitarra, assim como no piano, sei lá, tem o mundo da bateria… todo instrumento tem seus grandes instrumentistas, que têm seus álbuns, suas músicas, e você entra nesse mundo e pira. Você tem as bandas que têm grandes guitarristas. Então, você tem o Van Halen com Eddie Van Halen, o Led Zeppelin com Jimmy Page, e você tem os caras da música instrumental. Eu fui muito para esse lado. Então, eu fiz meus álbuns também nessa linha da música instrumental, do virtuosismo do guitarrista. Música instrumental, como a música erudita também não tem letra, como outras músicas não têm letra. Com as próprias obras do Tom Jobim, que quando começou não tinham letra, depois foram letradas por outras pessoas e tal. Então, tem a música instrumental muito forte, que é o que realmente comove as pessoas. A letra nem sempre… Se não fosse assim, não teria tantos brasileiros ouvindo música americana sem entender nada do que está sendo falado, né? Pois é, chorando, emocionados, sem saber exatamente. Então, a letra é um componente importante, mas, dado que a gente ouve música estrangeira muitas vezes sem saber o que os caras estão falando, por isso que a música doméstica, como se fala, geralmente é mais forte no seu país. A música brasileira é mais forte que a música estrangeira.”
Ele continua:
“Na França, Itália, você vai ter os grandes artistas locais que muitas vezes a gente nem fica sabendo quem são, mas eles são fortes na música doméstica, né? Na Finlândia também tem os caras grandes, só que países pequenos como a Finlândia, a Suécia, já têm uma postura quase como a americana. O cara já começa a falar: ‘Eu vou ganhar o mundo.’ Porque o americano já vai para o inglês, né? Porque já tem uma cultura imperialista mesmo de ‘Vou dominar o mundo, o idioma mais falado do mundo, vou fazer, vou cantar nele’. Culturalmente, todos os produtos já estão sendo distribuídos pelo mundo: os McDonald’s, Starbucks e tal, Fenders e Gibson. Os produtos já estão no mundo. Então, já é meio natural, eu vejo isso. E essa possibilidade… um país como o Brasil não tem essa vocação. Não tem essa vocação. Você vê pouco… porque a gente tem um mercado consumidor forte, é um país gigante, e só para você conseguir ganhar esse país já é díficil”
E finaliza:
“É um continente. É um continente. O Jonathan, que cantou durante um tempo no Ego Kill Talent, em inglês tudo, é uma banda brasileira. Você me perguntou quantas bandas brasileiras têm tocado lá fora. Não tem muitas, não. Não é só porque Angra e Sepultura são melhores, mas também porque não temos uma cultura de já pensar para fora, né? Então, se faz muita música doméstica: sertanejo, sei lá, pagode… uma música que eu acho que… Eu vejo com bons olhos, porque é um país que tem uma cultura muito forte. Sim, tem muita diversidade de música. Exatamente. Então, uma Finlândia, uma Suécia, ela vai fazer… Tem um ABBA, sei lá, tem tipo três tipos de… não, já faz inglês porque sabe que o país é muito pequeno para comportar. Quantos shows o cara vai fazer na história da vida dele? Cinco, em cinco cidades grandes? Sim, tipo… aí gira de novo, aí gira de novo, tipo, não tem. Se o cara já faz numa língua inglesa, ele já tem a Europa, porque está a uma hora de voo, duas, três horas de voo, é como se fosse até o Brasil. Então, o cara já pensa na Europa. Ele já vai fazer numa língua que todo mundo vai entender. Claro que você tem artistas como Eros Ramazzotti, que canta em italiano, tem uma banda de metal, Rammstein, que canta em alemão, né? Então, tem alguns casos assim, mas o Scorpions, que é alemão, sempre cantou em inglês.”