Kool Metal Fest – O Caos Reina

Texto por: Metalphysicist

Na Bíblia Sagrada, domingo é o dia da semana em que Jesus descansou, após ter realizado os 07 Trabalhos. Assim, quem é fiel ao Catolicismo deve repousar e louvar a passagem de Cristo pela Terra, sempre aos domingos (ou algo assim).

Foi justamente num domingo que a produtora do Kool Metal Fest marcou a data do evento, contando com a apresentação de bandas de Black/Death Metal: Possessed; Venom Inc., Vulcano; Velho, Facada, e o Cemitério. Aqui o Ritual começou às 14h00 para terminar às 21h30, sem maiores ocorrências a se registrar.

Casa lotada, ainda que os preços dos ingressos estivessem bem salgados, mas valeu cada centavo do dízimo para estarem presentes num dia que vai ficar estampado na mente dos mais de 1000 bangers que lotaram o maior festival underground brasileiro que eu cobri. Todos trabalhando para fazer crescer e disseminar esta Boa Nova anunciada nesta noite, pela Graça do Metal! Contem sempre com o Confere Rock para marcar presença e escrever resenhas, alcançando ainda mais seguidores para se juntarem à causa.

1ª parte – Facada, Velho e Vulcano

Cheguei no Vip Station e o Facada já estava no palco. A banda é excelente e prenuncia que o pau vai correr solto durante a apresentação dos demais grupos. O som da casa estava bem equalizado para ouvirmos bem as mensagens nas letras no meio de um completo caos sonoro.

O público de Black Metal já estava na pista desde o primeiro show, o que surpreendeu, pois geralmente as bandas de apoio têm um quórum absolutamente injusto com as nacionais que se apresentam com toda energia que reverbera no palco, dando ainda mais força quando a audiência comparece.

Foi nessa toada que o Cemitério apresentou suas músicas, mais rápidas do que a velocidade da luz, com o vocal vociferando letras em português, com referência a filmes de terror, juntando tudo isso com uma pegada grind admirável, com algumas músicas de cerca de 2 minutos cada. A banda, por mais absurdo que possa parecer, conta com o ‘hit’ “O Dia de Satan”, com todos os presentes fazendo coro no refrão ‘chiclete’ em homenagem ao Baphomet. *N.E

O Velho fez uma apresentação avassaladora, juntando vocalizações guturais com a velocidade da bateria a 1000 km/h, e a banda faz valer as duas guitarras para subir uma parede de distorção, com o baixo mantendo a transição e segurando a cozinha com propriedade.

O que dizer do Vulcano, pioneiros do metal extremo nacional? Na ativa desde 1981, na época em que a qualidade da gravação era terrível, tinha que se virar com 8 canais da marca Tascam. E o som ia piorando na medida em que passava na mão da geral gravada em fita K7, especialmente o primeiro álbum.

Bom, voltando aos dias de hoje, o show do Vulcano foi inesperadamente abaixo da média. A banda parecia ter feito um ensaio preguiçoso para esta noite, parecendo fora de foco e de entrosamento entre os integrantes neste Fest.

Encerraram a apresentação com o som mais conhecido, a “Guerreiros do Metal”. Espero poder resenhar um show do Vulcano com aquela força e energia que tornou esta banda precursora do Metal Extremo no Brasil – máximo respeito!

VENOM INC.

O Venom é uma banda lendária dos anos 80. São reconhecidos como a primeira banda de Black Metal – muito por conta do título do álbum mais conhecido, no qual compuseram uma música com o nome “Black Metal” – hino eterno, que serviu para inspirar as bandas fãs seguintes.

O que importa é que o Venom Inc. foi o que veio para esta tour pela América do Sul, infelizmente com a ausência de Mantas, membro da formação inicial da banda que sofreu ataque cardíaco em meio à tour… Melhoras a Mantas, um dos ícones do Metal dos anos 80 a quem sempre devemos honrar.

Confesso que estava um pouco cético com a formação do Venom Inc., agora não tendo nenhum membro dos dias de glória da banda. No entanto, fato é que a formação para a tour, começando pelo exímio guitarrista M. Frotque, é excelente. Tony Dolan, figura carismática, participou de formações que se sucederam no instável Venom (nem vamos entrar no mérito).

O repertório da banda, que conta com algumas músicas do Venom Inc., foi composto de clássicos do Venom, criando uma cumplicidade entre a banda e a plateia, especialmente àqueles que estavam muito próximos da frente do palco e se deliciaram entoando músicas como “Welcome to Hell” e “Blackened are The Priest”. A esta altura o show já havia se tornado uma grande celebração entre público e banda. Tanto que o mosh foi liberado – com direito a decolagens desastrosas em cima da rapaziada que estava na linha de frente (eu estava lá, não duvidem de mim).

O auge do clamor do show se deu com a execução de “In Nomine Satanas”, seguida de “Black Metal” até rumarem para a parte final do show, com “Countess Bathory” cantada em uníssono pelos presentes. O show do Venom Inc. não deixou pedra sobre pedra e demonstrou porque são e sempre serão divindades do Heavy Metal que nos propicia momentos memoráveis, tais como o show de hoje – que ficará entre os 3 melhores de 2024 na minha lista!

POSSESSED

Após poucos instantes, o Possessed estava no palco, considerados a primeira banda de Death Metal – cuja música “Death Metal” deu nome ao estilo que foi um dos que mais prosperou nas últimas décadas. O eterno main man do Death Metal, Jeff Becerra, está em boa companhia nesta tour, contando com os marciais Daniel Gonzalez e Claudeous Creamer nas guitarras, Robert Cardenas (baixo) e Chris Aguirre II (bateria).

Sempre achei que no território brasileiro, o Venom foi a banda que mais engajou fãs aqui – mas isso não quer dizer que o Possessed também não esteja neste Panteão de bandas seletas do Metal Extremo.

Mais uma vez fui para o mosh pit para agitar com os malucos e também para fazer umas capturas legais de reels para o Confere Rock (vejam lá o reels, estou no meio do rolo compressor de vísceras), chegando ao ponto de alguns desmaiarem no mosh por desobedecerem à lição número um desta prática: permaneçam com seus pés no chão, seja do jeito que for.

Do mesmo modo que o Venom Inc., o show do Possessed foi uma celebração da banda com seus fãs. O início do show tem uma intro perfeita que serve de calmaria antecipando o que estava por vir, entre clássicos como “Pentagram” e “Storm in Mind” e mais músicas de seus álbuns dos anos 80. Na parte final da apresentação, ainda era preciso ter fôlego para batermos cabeça com “The Exorcist”, “Demon” até o encerramento do show com “Burning in Hell”. Um bom ritual de descarrego para sair do show com a alma renovada.

Realmente o Kool Metal Fest está dando aula de como é possível fazer festivais underground que unem o Brasil com a galera de outros países da América Latina, que são fanáticos por Black/Death Metal tanto quanto nós. Bora espalhar a palavra porque o underground ainda vive e continua feroz, até atingirem todas nossas vísceras.

Que venham mais Kool Metal Fest pela frente porque we lay down our souls to the Gods of Rock ‘n’ Rooooool!

*Nota: Em nossa primeira resenha, o autor acabou não falando sobre a banda Cemitério e se equivocou com o título de uma de suas faixas. O próprio inseriu um parágrafo sobre o grupo e fez a seguinte retratação:

A música “O Dia de Satan”, do Cemitério foi equivocadamente  inserida como sendo da banda Velho.

No mais, me desculpo com a banda Cemitério, em primeiro lugar, e também à produção e produtora do evento, que foram muito gentis com o pessoal da cobertura do Fest. Por fim, desculpas para o Confere Rock que deposita fé em meu trabalho e, seja como for, dei vacilo e estou aqui para me retratar.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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