Lamb of God: 19 anos de “Ashes of the Wake” e a revolta de Randy Blythe com a guerra do Iraque
Recentemente contamos a história de “Sacrament“, o álbum mais bem sucedido do Lamb of God. Hoje é dia de falarmos sobre “Ashes of the Wake“, o terceiro full-lenght (quarto se considerarmos o álbum lançado em 1999, quando a banda ainda se chamava Burn The Priest) foi lançado há 19 anos, em 31 de agosto de 2004.
Se a banda já havia mostrado evolução no disco anterior, “As The Palaces Burn“, aqui em “Ashes of The Wake“, a evolução se mostra ainda mais nítida. É um álbum tão raivoso quanto o anterior, porém, muito, mas muito mais técnico. E não estou falando mal do disco que antecedeu, pois ele foi por muito tempo, o meu favorito da discografia dos caras.
Então eles juntaram ao produtor Machine e as gravações se dividiram em dois estúdios: “Water Music Studios“, em Hoboken, New jersey e no “Sound of Music“, em Richmond, “fucking Virginia”, como costuma bradar Randy Blythe nas apresentações ao vivo da banda. O disco foi lançado pela “Epic Records”. Em pouco mais de 47 minutos, temos muito peso e fúria reunidos em uma pequena bolacha.
Bolacha essa que começa arrasadora, nas primeiras seis músicas. Sim, é petardo atrás de petardo, sem piedade. Os caras seguem raivosos em suas composições. Algumas letras tratavam de temas atuais à época: a faixa título, “Now You’ve Got Something to Die For“, “One gun“, “The Faded Line“, tratam da guerra do Iraque, um pretexto arranjado pelo ex-presidente dos EUA, o lunático George Walker Bush, para invadir o território alheio em busca de petróleo. E se pensarmos bem, elas seguem atuais até hoje.
A abertura sensacional, com a raivosa e ao mesmo tempo soando como tema de filme de suspense, “Laid to Rest”, que tem riffs de guitarras sensacionais, Randy Blythe recitando a primeira estrofe para depois soltar a sua raiva, e no refrão deixando seu recado: “Console-se, você é melhor sozinho/ Destrua-se e veja quem se importará”. A raiva desta canção, aliada aos versos dela, resultam em um casamento perfeito. Ao vivo ela fica ainda mais poderosa.
“Hourglass” é mais densa, pesada, técnica, absurda de ótima, mantendo o pique o álbum, como eu comentei mais acima, as seis primeiras músicas são de deixar as terras arrasadas e este som colabora de forma impiedosa para tal. Aqui eu destaco a pegada grooveada desse monstro chamado Chris Adler, o melhor baterista atualmente na cena. E só podemos lamentar de ele ter deixado a banda.
Em “Now You’ve Got Something to Die For“, a banda aborda a guerra do Iraque como tema, que era o assunto do momento, uma guerra inútil criada pelo presidente Bush filho, e aqui temos na parte musical uma mescla com partes mais grooveadas e partes rápidas onde isso causa seríssimos danos ao “candango” que ousar a entrar no mosh. Eu adoro o título dessa música, que para mim soa como sarcástico. Perfeita!
A guerra do Iraque segue sendo tratada em “The Faded Line“, que aqui é densa, desesperadora, aterrorizante, em que tudo aqui se destaca: a cozinha, a dupla de guitarras, os vocais de Blythe… Sensacional.
Ai chega a faixa que de vez em quando, eu a escuto primeiro: “Omerta“. Esta é a minha favorita de toda a carreira da banda. Ela é diferente de todas que foram apresentadas até então, tem um andamento mais arrastado, mas é muito raivosa, chega a ser cavalar o ódio que os caras impõem neste som, principalmente a bateria. A letra, trata de traição e Omerta é uma espécie de código utilizado pela máfia do sul da Itália, em que os integrantes juram fidelidade entre sí. Blythe cita na letra a parte em que a Bíblia narra o fato de Judas Iscariotes ter traído Jesus Cristo por 30 moedas de prata. Gosto de escutar esse som principalmente quando estou irritado, é perfeito o clima dessa música. Bateria e guitarras são os destaques dessa lindeza de música, que ao vivo fica ainda mais brutal, como o leitor poderá conferir no vídeo abaixo.
“One Gun” é mais grooveada, com uma sutil mudança no meio onde a música fica um pouco mais rápida, porém, por um breve momento. A letra é bem ácida e critica o cidadão estadunidense que apoia a guerra, o genocídio. Mas se pararmos para analisar, ela soa atual a um certo país da América do Sul, onde o discurso patriota, para não dizer ufanista, aliado ao discurso de armamento andam em voga. Qualquer semelhança é mera coincidência. Mas voltando a parte musical, a faixa é boa! Não tanto quanto as anteriores, mas nada que desmereça o álbum ou que coloque o trabalho a perder.
“Break You” tem excelentes riffs de guitarra, e é estruturada no Groove, com um breve aumento na velocidade no refrão. Boa música, enquanto que “What I’ve Become” é o oposto, uma música mais rápida com algumas quebradas mais grooveadas. E aqui, uma coisa rara na carreira do Lamb Of God: solo de guitarra, Ele se faz presente e é um bom solo. O interessante é que a banda pouco faz uso deste recurso em suas músicas. E honestamente, nem faz falta. Mesmo.
A faixa título é a mais crítica à covardia que fora praticada pelos Estados Unidos na tal guerra do Iraque. A música que tem boa parte de sua extensão sendo instrumental e conta com as participações de Alex Skolnick (Testament) e Chris Poland (ex-Megadeth) nos solos. Porém, as partes que entra o vocal de Randy Blythe, e ele recita a letra ao invés de cantar, mostra toda a raiva da banda em relação aos crimes cometidos pelos “Marines“. Ah, o instrumental é algo mais que fantástico.
Fechando a bolacha, temos uma introdução calma, em que parece que nada vai acontecer: ledo engano, pois “Remorse is for the Dead” sofre uma reviravolta tão logo os vocais de Randy Blythe entram, a música cresce, as guitarras com seus riffs impressionantes aliadas a bateria nervosa de Chris Adler. A parte final ganha em brutalidade, o peso aqui é cavalar. Não havia música mais perfeita para o fechamento desta obra, que também beira a perfeição. Duvido o ouvinte terminar esta audição sem o desejo de voltar à faixa um e escutar tudo de novo.
Inevitáveis algumas comparações com o Pantera, a banda que popularizou o Groove Metal. Apesar dos muitos elementos similares no som de ambos, porém, o quinteto de Richmond não faz muito uso dos solos em suas músicas. E por vezes soa mais brutal, pelo fato de ter dois guitarristas e um baterista que é sensacional (sem querer tirar os méritos dos irmãos Abott, uma vez que eles deixaram um lindo legado, que estão tentando apagar com essa reunião fajuta que Phil Anselmo tem feito, usando o nome do Pantera).
Algumas conquistas de “Ashes of the Wake” foram, alcançar o 27º lugar da parada da “Billboard“, vendendo 35 mil cópias somente na primeira semana de lançamento; além disso, o disco foi eleito o 49º melhor trabalho de guitarra de todos os tempos pela revista “Guitar World”. E foi na turnê deste álbum que a banda acabou lançando seu vídeo oficial, chamado “Killadelphia“.
“Ashes of the Wake” é um disco que eu sinto a obrigação atualmente de escutar todos os dias. Já foi assim com o “Sacrament“, com o “As the Palaces Burn“, com o “Wrath“, e os demais trabalhos da banda, mas aqui o trampo dos caras beira a perfeição. Indispensável na coleção do fã que curte um trampo pesado, brutal e ao mesmo tempo bem trabalhado e sem guitarristas fritando. E mesmo lamentando a saída de Chris Adler, a data de hoje é para celebrar esse discaço e desejar longa vida ao Lamb Of God, que segue pesado e letal, quem os viu ao vivo no Summer Breeze certamente irá concordar com este redator que vos escreve.
Ashes of the Wake – Lamb of God
Data de lançamento – 31/08/2004
Gravadora – Epic
Faixas:
01 – Laid to Rest
02 – Hourglass
03 – Now You’ve Got Something to Die For
04 – The Faded Line
05 – Omerta
06 – One Gun
07 – Blood of the Scribe
08 – Break You
09 – What I’ve Become
10 – Ashes of the Wake
11 – Remorse of The Dead
Formação:
Randy Blythe – vocal
Willie Adler – Guitarra
Mark Morton – Guitarra
John Campbell – Baixo
Chris Adler – Bateria