Mike Portnoy anunciava há 14 anos que estava deixando o Dream Theater

Em 08 de setembro de 2010, os fãs do Dream Theater tomaram uma porrada daquelas que eles imaginaram nunca tomar, que era impensável na época e causou a alguns destes seguidores, uma espécie de luto em relação a banda: Mike Portnoy anunciava que estava deixando o Dream Theater, após 25 anos juntos.

Voltando no tempo, o que estava acontecendo naquele panorama?

O Dream Theater estava na turnê do seu então último disco, “Black Clouds & Silver Linings“, e paralelo a isso, o Avenged Sevenfold era bruscamente atormentado com a perda de seu baterista, Jimmy “The Rev” Sullivan.

Os pontos se ligaram quando o Avenged decidiu volta aos estúdios e gravar o disco “Nightmare”, e Portnoy foi convidado a estar nas gravações, convite este que aceitou. Mas ao final das sessões, foi decidido que Mike encararia também a turnê do álbum, o que deixou os fãs do Dream Theater em suspeita em relação a dividir a agenda das duas bandas.

Nesse tempo, rolavam conversas nos bastidores do DT, onde Portnoy sugeriu uma pausa de cinco anos nas atividades da banda, na tentativa de buscar novos ares, trazer novas inspirações, “recarregar as baterias”, segundo as próprias palavras dele. O músico também não estava muito contente com algumas questões empresariais, como o fato da Roadrunner Records ter diminuído o orçamento da banda durante a gravação do disco “Systematic Chaos“. Os demais integrantes da banda não acharam isso sensato e não concordaram com esta hipótese e para quem acompanha a banda, sabe que embates entre o baterista e o vocalista James LaBrie já vinham acontecendo desde meados da década de 1990.

E no dia 8 de setembro de 2010, os seguidores de Portnoy leram a seguinte mensagem em suas redes:

“Estou prestes a escrever algo que nunca imaginei que fosse escrever:

Após 25 anos, decidi deixar o Dream Theater (banda que fundei, liderei e amei verdadeiramente por um quarto de século).

Para várias pessoas isto será um choque completo e também provavelmente será incompreendido por alguns, mas por favor acreditem que não é uma decisão impensada. É algo com o que vinha lutando desde mais ou menos o último ano.

Após ter experiências tão incríveis tocando com o Hail, Transatlantic e Avenged Sevenfold neste último ano, concluí tristemente que me divirto mais e me relaciono melhor com esses outros projetos do que tenho com o Dream Theater há algum tempo.

Por favor não me interpretem mal, amo os caras do DT de verdade e temos uma longa história de amizade que nos une profundamente. É que realmente acho que precisamos de uma pausa.

O Dream Theater sempre foi meu bebê e eu tomei conta desse bebê cada dia e momento da minha vida desde 1985 – 24 horas por dia, 365 dias por ano. Estar de férias com o DT não significa não ter responsabilidades (mesmo quando estávamos “parados”)… sempre estive trabalhando e muito além do que a maioria das pessoas sãs fariam por uma banda.

Mas cheguei a conclusão de que a máquina DT estava começando a me desgastar e realmente precisava de uma pausa da banda com o intuito de salvar meu relacionamento com os outros membros e manter meu espírito do DT alimentado e inspirado.

Nós temos estado num ciclo de escrever/gravar/fazer turnês por quase 20 anos agora (em que eu tomei conta de CADA aspecto sem uma folga) e enquanto alguns meses têm sido muito necessários, eu honestamente esperava que o grupo pudesse simplesmente concordar comigo tendo uma espécie de “hiato” para recarregarmos nossas baterias e “salvar-me de nós mesmos

Infelizmente, discutindo isto com os caras, eles determinaram que não compartilham dos meus sentimentos e decidiram continuar sem mim ao invés de dar um descanso. Eu até mesmo me ofereci para fazer alguns trabalhos ocasionais ao longo de 2011 (contra meus desejos iniciais), mas não era para ser…

Enquanto dói sinceramente para mim só de pensar em um Dream Theater sem Mike Portnoy (infernos, meu pai nomeou a banda!!), eu não quero ficar no caminho deles, então optei por me sacrificar e simplesmente deixar a banda para não segurá-los contra seus desejos…

Curiosamente, acabei de ler uma entrevista que dei recentemente em que me perguntaram sobre o futuro do DT e falei sobre “sempre seguir seu coração e ser fiel a si mesmo”. Infelizmente, preciso dizer que neste momento em específico, meu coração não está com o Dream Theater… e eu simplesmente iria ignorar minhas emoções e NÃO seria fiel a mim mesmo se continuasse motivado por obrigação sem tirar as férias que eu senti que necessitava.

Desejo aos caras o melhor e espero que a música e o legado que criamos juntos seja curtido por fãs nas próximas décadas. Estou orgulhoso de cada álbum que fizemos, cada música que escrevemos e cada show que tocamos.

Sinto muito aos fãs do DT desapontados pelo mundo… eu realmente tentei salvar a situação e fazer funcionar. Eu realmente só queria uma pausa (não uma separação), mas felicidade não pode ser forçada e precisa vir de dentro.

Vocês, fãs do DT, são os maiores fãs do mundo e, como vocês todos sabem, sempre trabalhei duro por vocês e espero que continuem comigo na minha futura jornada musical, não importa aonde isso possa me levar – e como todos vocês conhecem minha ética de trabalho, com certeza não haverá escassez de projetos futuros do MP!

Infelizmente,

Seu destemido ex-líder e baterista,

Mike Portnoy”

Então foi assim que um capítulo na história do universo Dream Theater se encerrava. Para muitos, era o caos, pensar em não ter mais uma das peças chaves da banda, o que aconteceria? Para muitos desses seguidores, Mike Portnoy era um baterista que não podia ser substituído devido as suas execuções no instrumentos, mas nomes surgiram em meio a esse campo.

Entre os muitos competentes, Marco Minneman, Virgil Donati, entre outros, o nome de Mike Mangini foi o escolhido para levar a banda adiante, tempo este que se decorreria por 13 anos adiante, com cinco discos de estúdios, três ao vivo e turnês mundiais.

Nesse meio tempo, não faltaram falas de ambos os lados, com o DT, principalmente LaBrie, afirmando que não havia hipótese alguma que fizesse Portnoy retornar ao seu antigo posto. Ja Mike afirmava que nunca havia se sentido tão feliz e livre trabalhando em suas 897 (ou quase isso) bandas após sua decisão.

Pouco tempo após o anúncio, Portnoy quis voltar atrás da decisão e pediu para continuar na banda, mas acabou recebendo uma portada na cara, quando os outros integrantes disseram que já tinham um novo companheiro e a fila andou. Coube a Mike aceitar a negação e continuar seus outros planos, como ele próprio disse.

Mas antes de dar seguimento, o baterista acabou recebendo mais um não. Ao final da turnê de “Nightmare”, o Avenged Sevenfold optou por não continuar o trabalho junto com Portnoy, querendo buscar um baterista novo e que se enquadrasse melhor nos planos do grupo naquele momento. Assim sendo, Mike voltava a estrada, buscando traçar novos rumos.

Nesse período, diversas bandas nasceram, Sons of Apollo, The Winery Dogs, receberam mais atenção, como Flying Colors, e trabalhos foram mais permanentes, como a longa parceria de Portnoy e Neal Morse.

Mas antes do fim, mais um ciclo se fecharia nessa história.

Próximo ao final de 2023, o Dream Theater anunciou que Mike Portnoy estava regressando ao seu posto de origem. Se findava a era Mangini, com um cara que enfrentou diversos comentários, recusas de fãs, mas se manteve de cabeça erguida, segurando a barra por mais de uma década em um posto que não era nada fácil de se agarrar, e um recomeço se dava.

Dream Theater e Mike Portnoy mais uma vez juntos, se preparam para lançar um novo disco, e ainda, para cair na estrada com a formação, já com cinco datas cravadas no Brasil (detalhes aqui).

Se a pausa que Portnoy  sugeriu se refletirá nesse tempo, os próximos dias vão nos dizer, em mais um degrau, talvez o último, na escalada de uma das bandas que mais divide opiniões ao longo dos anos e anos do heavy metal mundial.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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