Motörhead: há 38 anos, banda lançava o clássico “Orgasmatron”

Há 38 anos, em 9 de agosto de 1986, o Motörhead lançava “Orgasmatron“, o álbum de número oito da carreira desta banda que é amada por (quase) todos nós. Essa pérola é tema do nosso bate-papo nesta sexta-feira

O aniversariante do dia é marcado pelas estreias da dupla de guitarristas Phil Campbell e Michael Würzel, que caracterizou pela primeira vez o Motörhead como um quarteto. Campbell inclusive tocou com Lemmy até o final da banda. “Orgasmatron” foi o primeiro dos dois discos lançados pela GWR e é também o único registro de um disco completo do baterista Pete Gil. Ele havia gravado antes quatro canções na coletânea “No Remorse“, lançada dois anos antes.

A banda estava há três anos sem lançar um disco de inéditas e isso em parte se deveu ao rompimento de contrato da banda com o antigo selo, a Bronze Records. Os fãs já estavam ansiosos por um novo play. Tão logo recrutou os novos membros e fechou com a GWR, selo fundado pelo empresário do Motörhead e que permaneceu em atividade até 1992, quando foi comprado pela Sanctuary, a banda se juntou ao produtor Bill Laswell e todos foram para o Master Rock Studios, em Londres, por onde todos permaneceram e gravaram o vindouro álbum em 11 dias. Lemmy não curtiu o trabalho de Bill, como ele mesmo relatou em sua autobiografia, “White Line Fever“. Aspas para ele.

“Como se viu, Bill era bom para obter sons, mas ele estragou tudo na mixagem. Foi um álbum muito melhor quando ele o levou para Nova York do que quando o trouxe de volta… Foi terrível. Orgasmatron era lama. Nos reunimos para a grande apresentação pela primeira vez e nosso publicitário trouxe uma caixa de champanhe para tocar na ocasião adequadamente. Foi terrível. Orgasmatron era lama. Era para haver uma harmonia de quatro partes em ‘Ain’t My Crime’, mas ele eliminou três delas! Não vou aborrecê-lo com o resto dos ‘destaques’. Basta dizer que nossa publicitária estava empurrando a caixa de champanhe de volta para baixo da mesa com o pé, enquanto o empresário de Laswell estava parado na porta, batendo com determinação. Era impossível.”

A produção também não agradou ao guitarrista Phil Campbell, que no documentário “The Guts and the Glory”, lamentou. Vamos conferir as palavras do companheiro de Lemmy:

“Acho que a produção nos decepcionou em Orgasmatron. As músicas eram muito boas. Colocamos muito esforço nas músicas.”

Boatos davam conta de que Lemmy tinha se inspirado no filme futurista de Woody Allen, “Sleeper” para escolher o nome do álbum. O líder do Motörhead inclusive afirmou que nem sequer havia assistido ao referido filme. O título provisório do álbum era “Run With the Devil“. Quanto a faixa “Orgasmatron“, Lemmy deu a seguinte declaração no livro “Overkill – The Untold Story of Motörhead“:

“Refere-se às três coisas que mais odeio na vida – religião organizada, política e guerra. Coisas como pessoas que vão à igreja e gozam nas calças enquanto se comunicam com Jesus Cristo. É tudo um monte de besteira. Se você realmente gosta disso, não precisa ir à igreja ou falar com Deus, pode falar com ele em qualquer lugar, sabe? Ou se você se filia a um partido político e se diverte com isso, quando seu partido vence e tudo mais. É o instinto de manada. A mesma coisa com a guerra. Eles te dão um belo uniforme novo e te levam para a morte.”

A capa é assinada por Joe Pentagono, que criou a capa pensando no conceito do nome que o álbum seria batizado e como Lemmy trocou o nome para “Orgasmatron” em cima da hora, não houve tempo hábil para que o artista trocasse o nome. Joe afirmou tempos depois que, Lemmy havia sido bem incisivo quando lhe pediu um desenho, dizendo-lhe que “queria uma po**a de um trem”. Bem, vamos passear pelas nove faixas presentes aqui.

Deaf Forever” traz o Motörhead soando bem Hard Rock, tendo nas guitarras um timbre bem rústico, cru. Não é ruim, mas diferente. Para quem estranhou a faixa de abertura, a banda volta com a sua sonoridade conhecida em “Nothing up my Sleeve“, uma música poderosa, rápida e com riffs maravilhosos da dupla estreante.

Ain’t my Crime” tem fortes influências do Punk, que acompanhou Lemmy por toda sua carreira. Aqui quem brilha é o próprio Lemny com seu baixo pesado. Riffs hipnóticos aliados a uma bateria frenética de Pete Gil são os destaques de “Claw“, uma música que lembra o Motörhead dos anos 1970. “Mean Machine” traz a mistura entre Punk e Metal que fica divertida demais. É a faixa mais curta do play e encerra o lado A da grande bolacha de vinil.

Abrindo o lado B, temos “Built for Speed“, que tem um andamento bem mais arrastado do que a faixa anterior e combina bem se escutada enquanto um bom whisky é degustado. A faixa que seria o título do álbum, “Ridin’ With the Driver” devolve a banda ao andamento mais veloz, aumentando consideravelmente a qualidade do play. Sem dúvida alguma, é um dos melhores momentos do disco.

Já estamos chegando na parte final e temos “Doctor Rock” que extravasa toda a energia da banda em forma de música e a faixa título, que dispensa apresentação.

Orgasmatron” é um clássico e se tornou ainda melhor quando o Sepultura a regravou cinco anos mais tarde, tornando se uma das marcas registradas da antiga banda de Max Cavalera. A versão original é bem mais suja e mais arrastada.

São 35 minutos de duração que passam sem que a gente perceba. Um belo disco, que realmente ficou prejudicado pela produção, mas dá para notar a qualidade das músicas contidas aqui, que teria um resultado ainda mais satisfatório caso o trabalho da produção tivesse sido mais caprichado.

Tal como o antecessor, “Orgasmatron” não teve tanto sucesso de vendas, mas figurou em alguns charts mundo afora, como no Reino Unido (21°), Alemanha (47°), Holanda (69°), Austrália (89°) e também na “Billboard 200” (157°). No aniversário de dez anos, o álbum foi relançado contendo três faixas bônus: “On the Road“, “Steal Your Face“, gravadas ao vivo em 1985, além de uma versão alternativa para “Claw“.

Hoje é dia de escutar esse álbum no volume máximo e ajudar a manter vivo o legado de uma das maiores bandas que a humanidade já presenciou. O Motörhead é uma instituição do Rock e hoje é dia de escutar essa bolacha no volume máximo enquanto cada um de nós repete a frase: “Eu ouço gente morta!”

Orgasmatron – Motörhead
Data de lançamento – 09/08/1986
Gravadora – GWR

Faixas:
01 – Deaf Forever
02 – Nothing up my Sleeve
03 – Ain’t my Crime
04 – Clawn
05 – Mean Machine
06 – Built for Speed
07 – Ridin’ With the Driver
08 – Doctor Rock
09 – Orgasmatron

Formação:
Lenny Killmster – baixo/ vocal
Michael “Würzel” Burston – guitarra
Phil Campbell – guitarra
Pete Gil – bateria

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

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