Nasi fala pela primeira vez sobre shows cancelados do Ira! após polêmica com bolsonaristas

Após na semana passada, durante um show do Ira! em Contagem, Minas Gerais, o vocalista Nasi grita “sem anistia”, e receber vaias por parte do público, ele pediu para que “bolsonaristas fossem embora e nunca mais voltassem a um show da banda”. Veja abaixo o momento:

Nesta terça feira, foi anunciado que os 4 shows que o Ira! faria no sul, foram cancelados após o fato, devido a diversos pedidos de devolução dos ingressos e por perda de alguns patrocinadores do evento.

Pela primeira vez, Nasi falou sobre os cancelamentos das apresentações. Em entrevista a Billboard, ele disse:

“Esses shows foram cancelados em comum acordo com o contratante. Fizemos com muita tranquilidade. A gente achou, por ora, transferir para o futuro. Porque houve um bombardeiro desses fascistas. Porque eles agem de maneira fascista. É engraçado porque até o contratante falou que recebeu mensagens de pessoas de Manaus, algo como “ah, eu não vou no show.” (risos)

O cara nem ia no show! Esses caras que estão enchendo o saco aí, robozinho… Todo mundo sabe como o gabinete do ódio age, né? Daqui a pouco eles eles pegam outro para Cristo. Numa boa, o Ira! saiu maior do que entrou nessa história.”

Nasi também falou que o recorte das filmagens não mostram o que exatamente aconteceu durante o show em Contagem:

“Eles [os bolsonaristas] fizeram um recorte. Um recorte que não dá exatamente a noção da realidade. Eu vou te dizer o que aconteceu, claro, segundo a minha versão. Eu estava no show, tranquilo.  Em um determinado momento do show, o público, a maioria, começou a entoar “Sem anistia!” [o brado refere-se a tentativa da extrema-direita de adquirir perdão para os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023].

Inclusive, foi engraçado porque foi no meio de “Rubro Zorro” [canção lançada em 1988, no álbum “Psicoacustica”]. E era eu cantando “O caminho do crime o atrai”  e o público gritando “Sem anistia!”. Ficou perfeito, né? Acabou a música, eu realmente dei apoio. Falei: “É isso aí! Sem anistia!”. Aí, eu comecei a ser hostilizado por um grupinho —que teve o seu direito de dar opinião, que é a favor da anistia, e eu também tive o meu direito de comentar a vaia deles.”

Sobre os pedidos de anistia que tem tomado conta de julgamentos, passeatas e discussões na internet, Nasi disse:

“Porque essa anistia é uma farsa, entendeu? Isso é um acinte à democracia. Mesmo porque as pessoas não prestaram atenção, esses bobalhões aí, os cínicos, essa direita e essa extrema direita —é bom que se fale isso, é uma extrema direita— eles esquecem que não existe no projeto de lei da anistia o “8 de janeiro:. O que existe é o 30 de outubro que, por coincidência, é a data que a Polícia Federal estabeleceu como início das atividades da organização criminosa. E as pessoas ficam nessa de “coitadinha do batom” —que é a aquela mesma que deixou filhos em casa para ir para acampamento golpista.

A discussão deveria ser: “vamos tentar ver a questão com isometria”. Mas impunidade para os golpistas? Para planos de assassinato? A gente estaria em uma ditadura. É muito sério isso. A maioria da população brasileira já mostrou que é contra a anistia.”

Sobre ter o seu nome e o do Ira! envolvidos em debates políticos e outras conversas na internet nos últimos dias, o vocalista disse:

“O Ira! é uma banda progressista. Nós somos democráticos. Nós passamos pela ditadura. O que eu quis dizer é o seguinte: eu não quero ter público fascista. Agora, se o público fascista, de extrema-direita, quer consumir minha música, o que eu posso fazer? Posso fazer nada. Não é do meu agrado, sabe? Eu não quero. Tem outras bandas. Vão curtir Ultraje a Rigor. Eu tenho 50 shows até o final do ano. O Ultraje tem seis. Por que eles não vão encher o saco dos contratantes para contratar esses porras?

Lamento. Mas, repito para você, eu e o Ira! saimos maior do que entramos. Meu Instagram cresceu 10% —e bloqueamos muita gente.”

Por fim, Nasi ainda falou sobre o discurso da banda e seus fãs e as acalouradas discussões políticas pela internet:

“Eu estou cansado de responder a pergunta “por que o rock ficou de direita?”. Ficou de direita nada! Por causa de dois, três idiotas? Depois disso, a pessoa até respondeu “Obrigado, Nasi, agora eu fico tranquilo”. Esse tipo de pessoa vai ter diálogo comigo.

Mas também teve uma coisa, né? O sábado que aconteceu isso antecedeu o mais novo fiasco do bolsonarismo na direita na Avenida Paulista, onde eles queriam pôr um milhão de pessoas e quarenta mil pessoas. Então, a direita e a esquerda também aproveitaram esse episódio. Shows caem. Sabe? A caravana vai passar, os cachorros vão latir. Mas serviu para mostrar que somos o Ira! e estamos envelhecendo com muita dignidade. Infelizmente, pessoas da minha idade não estão envelhecendo bem.”

Sobre como seria estar diante do público do sul, que teve 80% dos seus votos em Bolsonaro nas eleições de 2022, ele disse:

“Sinceramente, eu não sabia que ia tomar essa proporção toda. Primeiro: eu não cometi nenhum crime, correto? Eu não sou cantor que está respondendo por lavagem de dinheiro com o PCC. Não é? Você sabe de quem eu estou falando… Do Gusttavo Lima. O ídolo deles. Eu tenho que ter vergonha? Ou ele? Não tô falando que ele é culpado… Mas só de responder um processo desse, já é uma coisa muito ruim. Cara, isso é tão fugaz. 

Aí eles vão e enchem o saco do contratante. Isso é fascismo. Alguns tem “culhão” e seguram a onda; outros, não. Não estou falando que foi o caso desse —porque foi de mútuo acordo. A vida vai seguir. O Ira! vai continuar seguindo o Ira!.”

E Nasi finaliza:

“Eu não sou palestrinha. Quem acompanha a banda, sabe. Mas eu não tenho o direito de me manifestar? Eu tenho o dever! Não é defender político. Ano passado, quando teve a questão do “criança não é mãe” eu também estava lá, me manifestando. Sempre que tiver algo absurdo, assim, no Brasil, algo que ponha em risco nossa democracia, eu vou dar meu testemunho.”

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

2 thoughts on “Nasi fala pela primeira vez sobre shows cancelados do Ira! após polêmica com bolsonaristas

  • abril 10, 2025 em 9:35 pm
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    A verdade é que não existe essa estória de esquerda ou direita, democracia ou fascismo no Brasil…é tudo farinha do mesmo saco e o Brasil está no caos total devido a essas políticas partidárias que só pensam no próprio bolso!!!! O país fala que estamos em um mundo democrático, infelizmente não podemos falar o que pensamos senão seremos processado ou algo parecido, essa é a verdade!!!! Difícil não misturar política com musica, ainda mais o Rock n roll que tem nas suas bases a cultura do protesto…o som Punk!!!!! Trite a nossa realidade social brasileira, políticos que fingem em estar preocupado com a população brasileira e a Amazônia!!!! Valeu!!!!

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