New Model Army em noite de casa lotada pelos seus fãs fiéis

Texto por: Metalphyscist
Fotos por: Thammy Sartori 

São Paulo acompanhou o show do New Model Army, no giro que a banda faz pela América Latina, em noite de casa lotada de fãs que ovacionaram a banda durante a execução de todas as músicas, inclusive às que foram tiradas de seu último álbum, de 2024, “Unbroken”. É assim que o New Model Army se mantém relevante até hoje, pelo fato de não ‘deitarem na fama’, encostados em velhos hits e execução apenas protocolar de uma a duas músicas do catálogo mais recente da banda, apenas para encherem o bolso de dólares e caírem fora.

Pelo contrário. Cláudio Borges, (coapresentador do Resenhando), que é um grande conhecedor das bandas surgidas nos anos 80, em especial aquelas que delinearam o pós punk, já havia adiantado, no Resenhando, que o New Model Army não repetia setlist. Aliás, o Cláudio me passou o Setlist desta noite, facilitando bastante minha vida. Obrigado por isso, Claudião.

É fato que atualmente o NMA conta apenas Justin Sullivam como integrante remanescente dos anos 80, contando neste tour com os talentosos músicos Dean (guitarras) Nguyen Green (teclado e voz)., Michel Dean (bateria) e Ceri Monger (baixo/percussão), fazendo jus a estarem no palco ao lado do icônico Sullivan, percussor de um gênero que foi fonte de inspiração para muitas bandas dos anos 90, em especial.

O New Model Army começa o show com “Coming or Going”, tirada do mais recente álbum de estúdio da banda, com uma verve sonora mais pesada, mas sem distorção ou muito drive nas guitarras. O som do Carioca Clube está potente e bem equalizado, deixando ouvir todos os instrumentos na medida, com cenografia bem básica e modesta iluminação, optando a banda deixar as músicas falarem por si.

A audiência já começa a agitar e a cantar junto todas as músicas desta noite, inclusive outras do novo álbum: “First Summer After”, “Language”, “Do You Really Want to Go There?” e “Idomea”, as quais se harmonizam perfeitamente, tanto com músicas mais recentes da banda e, claro, com os hits que não poderiam faltar no show de hoje.

Sullivan se mostra um frontman bastante carismático e concentrado para entregar com fineza suas linhas vocais, tanto nas músicas numa pegada mais pós punk (“States Radio”/ “225”), como naquelas que seguem por uma linha rock alternativo (Stormclouds). Além disso, Sullivan é genial quando se torna um cancioneiro que declama versos, geralmente impulsionados por acordes abertos de violão e cadência da bateria (“Green and Gray”), até a adição dos demais instrumentos que vão preenchendo as lacunas sonoras, ressaltando as letras de protesto e introspecção, cantadas em uníssono pelos fãs da banda que, a esta altura já estão completamente hipnotizados pelo que o NMA entrega no palco.

Sullivan não dialoga muito com os fãs durante o show, mais uma vez deixando a música e letras criarem cumplicidade e simpatia entre Sullivan e a plateia, que sempre esteve em suas mãos. Muito do que se ouviu nesta noite contou também com a presença crucial dos demais músicos no palco, seja com a bateria precisa e comedida entregue por Michel Dean (“Winter)’; o baixista Ceri Monger é responsável pela conexão entre percussão e melodias, ganhando destaque especial em “Language”. No mais os teclados de Green (teclado e voz) dão conta da ambiência, enquanto Dean White também empunha sua guitarra com destreza durante toda a apresentação. Se você é metaleiro, pode esquecer, em bandas de rock alternativo não há lugar para distorções e solos de guitarra intermináveis. Dean White trabalha para a música, ao invés de querer ser o próximo Steve Vai ou algo assim.

Falando em empunhar o violão e cantar de maneira cativante, Sullivan leva o público a estado de epifania, quando a banda tira da manga seu hit maior, “51st of America”, que coloca a pista em estado de ebulição, permanecendo todos neste estado de ânimo no encore “Vagabound”, “The Hunts” e “I Love the World”, que fecham o set revigorante para os presentes levarem recordações memoráveis do show da banda – que, por sua proposta, torna-se singular.

Confesso que nunca fui muito de ouvir bandas que têm a mesma proposta sonora do NMA, porque naquela época eu ainda era um banger fundamentalista que não suportava violões conduzindo a música, desprovidas de bateria quebrando tudo, enquanto o vocalista mandava vozes potentes e cheias de drive.

Hoje, no alto da minha maturidade, além de continuar devoto ao Heavy Metal, consigo enxergar qualidade e bons momentos de bandas de outro gênero, especialmente quando este contato se dá em um show impecável tal como o NMA entregou em São Paulo.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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