O sábado de aleluia foi abençoado pelos Monstros do Rock

O sábado de aleluia em 19 de abril de 2025 teve uma benção especial!

Em São Paulo, no Allianz Parque, iria acontecer a comemoração de 30 anos do Monsters of Rock, um dos principais festivais de rock/metal que o Brasil tem, e que em seus palcos através dos anos, nomes dos mais variados estilos dentro do gênero já subiram ali, entre eles, Black Sabbath, Deep Purple, Dream Theater, Korn, Slipknot, Aerosmith, Whitesnake, Slayer, Raimundos, Angra, Scorpions, Kiss, entre outros vários tantos e como é possível ver, a diversidade sonora sempre foi considerada por aqui.

Dois anos após a última edição (leia sobre aqui), o festival retorna ao país, dessa vez com as presenças de Stratovarius, Opeth, Queensrÿche, Savatage, Europe, Judas Priest e Scorpions.

Já logo pela manhã, como de costume, em frente aos portões do estádio já se via longas filas com os camisas pretas, aguardando a abertura da “casa”, para que pudessem se encontrar com seus ídolos, no sábado de aleluia que seria abençoado pelos Monstros do Rock.

Portões abertos as 10:30, filas andando, expectativa crescendo e assim se iniciava o dia de comemoração.

Stratovarius

Com um certo número de público já bastante razoável pelo horário, as 11:30 se deu início a oitava edição do Monsters of Rock, e quem teve a tarefa de abrir os trabalhos foi o Stratovarius.

Direto da Finlândia, o grupo é uma das maiores instituições do power metal e contam após mudanças na formação, eles continuam entregando tudo aquilo que seus fãs mais gostam: Músicas com arranjos rápidos, solos fritados, bumbo duplo fritado, teclados por todas as partes, e claro, a voz de Timo Kotipelto, com longo agudos e frases encaixadas corretamente em cada verso.

Kotipelto, com 56 anos, entrega uma performance um tanto coesa, com sua voz ainda intacta e conseguindo manter notas longas por diversos momento durante a um hora e pouco dessa abertura.

A abertura com “Forever Free“, do clássico álbum “Vision” de 1997, colocou os presentes ali para um esquenta de respeito, com o público cantando junto os versos entre o refrão, carregado de melodias. Na sequência, “Eagleheart” levanta o público. Faixa do também clássico “Element Pt.1“. Timo então fala um pouco com o público e logo vem com “World on Fire“, do último disco “Survive”, de 2022, que  já parece estar nas graças dos fãs.

A pesada “Paradise” é um dos pontos altos do show, com melodias prolongadas e com mais melodias, é uma das melhores entregas de Kotipelto, onde ele chegou a brincar para o público cantar mais alto do que ele, dado o refrão com altas no teto.

Com direito a bandeirão do Brasil no telão com o nome Stratovarius por cima, a banda marca um muito bom começo de festividades, com muita coisa que ainda viria pela frente.

Opeth

Colocar uma banda de metal progressivo dentro de um festival sempre é uma questão de algum risco pois o gênero não é dos mais populares entre as pessoas. Findado o show do Stratovarius, alguns “vãos” na plateia puderam ser observados, e com isso, o público um pouco reduzido em frente ao palco, foi o fiel ao culto místico do Opeth!

Assim como acontecer em 2023 com o Symphony X, o Opeth dividiu o público, com alguns procurando comer ou relaxar durante a sua apresentação. Inclusive alguns que ali ficaram, pareciam estar querendo guardar o lugar para o que viria mais tarde, pois estavam frios, fato este que o vocalista e guitarrista Mikael Akerfeldt percebeu ao subir no palco, e gesticular no sentido de “e aí pessoal, estamos aqui em cima”, pouco antes do show começar.

Claro que isso não impediu em nada da banda apresentar a sua missa da morte com temas complexos, pesados e densos e uma musicalidade exacerbada.

Abrindo com “§1”, do recente “The Last Will and Testament“, estava iniciado o culto negro, trazendo sua atmosfera densa, e com a voz de Mikael parecendo uma verdadeira entidade no palco, alternando entre os vocais melódicos e os seus tenebrosos guturais.

A música tem todos os elementos do death/prog que tornaram o Opeth tão grande como ele é e arrastou tantos fãs ao longo desses anos. A maestria parecia uma feitiçaria jogada hipnotizando aos que estavam ali mais próximo ao palco.

Por falar nisso, o som estava extremamente alto próximo ao palco, impedindo de ouvir algumas nuances das músicas. Mas isso não impedia de ouvirmos os monólogos de “Miguelito”, que sempre soltava uma pérola entre as faixas, e chegou a dizer “temos um tempo curto aqui, mas eu amo falar”.

A pesada “Master’s Apprentices” vem em sequência com sua velocidade na bateria entoada por Waltteri Väyrynen, o mais recente chegado ao culto. Com as melodias vocais intrincadas de §3″,  em contrastes vocais entre Mikael e o tecladista Joakim Svalberg, mais uma aula musical veio a nós com esse momento.

Após isso, uma pequena pausa com Mikael conversando um pouco com o púbico, falando sobre como é “bom estar de volta, como ele gosta da hospitalidade e comida brasileira, e que o show ali seria o primeiro reencontro e que na segunda, os fãs teriam outra chance de os ver novamente”, se referindo a apresentação conjunta com o Savatage no Espaço Unimed.

In My Time Need” vem na sequência, e é simplesmente outra aula musical. Trazendo seus ares de Steve Morse, quem produziu o disco “Damnation”, este que a música pertence, é mais um grande momento vocal entre Mikael e Joakim Swalberg.

Já caminhando para o final a poderosa “Ghost of Perdition” surge, arrancando moshs no meio do público, feito não muito comum em shows de progressivo, mas que a força do lado mais pesado do Opeth consegue fazer. Na sequência, a magia é jogada no público com “Sorceress”, em afinação baixa e melodias divinamente hipnóticas.

Antes de partir para a saídeira, Mikael fala que “no universo do Opeth não há uma “Carrie” ou Still Loving You”, mas o que tocariam a seguir era o equivalente dentro da sua própria linguagem, e entregaria 15 minutos da merda mais pura do death metal”. 

Com isso eles encerram com a masterpiece “Deliverance”, um petardo musical monstruoso e que encerra o que para alguns tenha sido talvez a mais enfadonha banda deste dia, mas que foram muito acima disso, trazendo uma experiência musical soberba.

Queensrÿche

E para quem achava que o momento progmetal havia acabado, estava muito enganado.

O Queensrÿche, uma das principais e pioneiras bandas do estilo, junto ao Dream Theater e o Fates Warning, era quem subiria ao palco na sequência.

A banda abre com a poderosa “Queen of the Reich“, e o vocalista Todd La Torre solta a voz no agudo inicial da música, mostrando estar em um grande momento vocal. Michael Wilton e Parker Lundgren esbanjam virtuose nos solos da faixa e coloca o público mais fanático pela banda em extâse.

Na sequência, “Operation: Mindcrime“, que dá título ao álbum mais popular da banda, surge e arranca ovações da plateia. Os versos cadenciados são conduzidos pela cozinha do baterista Scott Rockenfield e o baixista Eddie Jackson, que coloca suas cordas com uma presença monstruosa na distorção. Mais uma vez se faz um som bastante alto, e dessa vez mesmo longe do palco. A caixa da bateria “estalava” no reverb, mas nada que atrapalhes o entedimento do todo ali, somente deixando alguns zumbidos no ouvido.

Walk in the Shadows” abre poderosa e coloca mais vigor na plateia que entra na cadencia do ritmo da música, e canta alto seu refrão.

E para quem esperava um show pautado somente em hits, se enganou. O Queensrÿche meteu o pé nas suas faixas mais populares, e optou por peso e faixas certeiras. Então, para quem esperava o “momento celular” em “Silent in Lucidity“, se decepcionou, pois ele não aconteceu.

Ao invés disso, apostam em peso e melodia unidos de formas coesas com “I Don’t Believe in Love” e a ótima “The Mission”. “Empire” e a climática “Screaming in Digital“, essa última com destaque ao baixista Eddie Jackson, contemplam o setlist do mais puro suco da técnica e feeling que o metal progressivo pode entregar sem soar chato ou fraco.

O Queensrÿche acerta ao optar por tantas variedades e surpresas no seu show, e faz uma das apresentações mais pesadas, coesas e bem amarradas do festival e que com certeza, deixou seus fãs bastante felizes.

Savatage

Um dos momentos mais esperados do Monsters of Rock era o momento em que o Savatage subisse ao palco. Esse feito marca o retorno da banda em anos as suas atividades em uma década, e o Brasil foi o lugar escolhido para o acontecimento.

Ao som de “The Ocean”, era oficialmente iniciado a volta de uma das bandas mais queridas do heavy metal mundial, e “Welcome” surgiu na sequência para alegria dos fãs.

A banda, mesmo após anos “engavetada”, mostra que está mais do que apta a voltar ao ataque e o vocalista Zak Stevens está em um grande momento de sua voz.

Os fãs “passearam” por “Jesus Saves” e “The Wake of Magellan“, além de “Handful of Rain“, faixa essas que estava esquecidas pela banda desde antes de sua pausa de dez anos, e isso foi um grande deleite aos seus fãs que aguardavam ansiosos pelo retorno desses caras.

Durante o show, uma mulher acabou invadindo o palco durante o solo de “Edge of Thorns”, e ameaçou se jogar na plateia, o que não aconteceu e na sequência foi retirada do palco. O momento pode ser visto abaixo no vídeo da página Power Metal Girl Insta. Ainda houve tempo para Zak chutar uma bola para a plateia.

Outro momento tocante foi quando Jon Oliva “apareceu” nos palcos. Um vídeo dele cantando a introdução da faixa “Believe” foi mostrado antes que a banda executasse a faixa, arrancando palmas e gritos da plateia.

O Savatage coroa o seu retorno em grande estilo e coloca a banda em suas atividades novamente pronta para rodar o mundo fazendo a felicidade dos seus mais ardorosos fãs em todos esses anos de puro metal.

Europe

Daqui em diante, o que tínhamos era grandes clássico do rock e metal mundial e estão prontos para encerrar essa noite de glória! Era hora do Europe.

E simplesmente me atrevo a começar essa parte deste com “caraleo Joey Tempest“. O palavrão foi recorrentemente falado pelo vocalista durante a apresentação, e não tinha melhor forma de adjetivar esse show.

On Broken Wings” é quem abre, cheia de energia, força e presença. A presença da banda no palco é incrível e contagia seja você o fã mais ardoroso, ou só o conhecedor dos hits.

Rock the Night” e “Walk the Earth” continuam a contagiar e mostrar o vigor do rock da banda. Mas é claro que um hit é sempre bem vindo e eis que “Carrie” tem suas primeiras notas entoadas! Daí meu amigo, não tem marmanjo metaleiro bravão que se segura! O filho chora e pede colo da mãe, e de fato, a música mesmo sendo algo “gasto” por aí, até mesmo em dvd’s de feira, tem uma construção incrível e toca a qualquer um com as suas belas melodias gigantes do refrão e é impossível você não cantarolar as notas da mesma.

Ready or Not” ainda traz Tempest nas guitarras e em meio a Superstitious, surge “No Woman, No Cry“, de Bob Marley.

Antes da clássica “Cherokee”, o baterista Ian Hauglan faz um curto solo de bateria e aí vem a música, que tem o refrão cantado por todos ali.

Mas é claro que em se falando do Europe, sabemos o que vem aí. Os teclados de “The Final Coutdown” anunciam um dos momentos maiores do Monsters of Rock. O lugar vem abaixo com todos pulando, cantando, acedendo luzes dos celulares, uma verdadeira insanidade monstruosa toma conta do lugar e se torna um ícone gigantesco desta noite. Como esquecer isso.

O Europe mostrou que resiste ao tempo e vai além dos seus hits e entrega um show de rock do mais alto nível e energia que se deve.

Judas Priest

Momento esperado do dia. Era a hora da benção do Metal God! Com uma banda temática do último disco, “Invincible Shields“, o Judas Priest iniciava os trabalhos como co-headliner da noite.

Abrindo com “Panic Attack”, falar de um show do Judas não se tem muito o que nomear ou rotular, é pura aula de heavy metal.

Rob Halford mostra um melhor vigor nesse momento do que na última passagem da banda pelo Brasil em 2022, na primeira edição do Knotfest e também em um show solo com o Pantera. Na ocasião, algo parecia um pouco fora do lugar, diferente de agora.

Os movimentos são lentos, o bate cabeça não é tão agitado, afinal, são 72 anos de vida, alguns problemas de saúde, incluindo um câncer de próstata, mas isso não tira o tamanho da presença que Robão tem em cima do palco. Nos telões, eram captadas imagens nos finais de música com o homem somente parado olhando fixo ao seu público, e isso era de uma presença tão gigantesca que nada mais precisa ser dito ao se lembrar da alcunha que o homem tem.

Cantando embaixo de chuva, que chegou a altas horas da noite, Halford não se importou e fez a sua orquestra com seus “ieieiei ooioioioi” de sempre e colocou o Allianz sob a palma de sua mão.

Breaking the Law”, “Crown of Horn”, “Turbo Lover“, entre outras tantas fazem os sorrisos no rosto dos fãs surgirem. Em “Victim of Change”, uma homenagem a Glenn Tipton surge nos telões.

Na sequência, o baterista Scott Travis assume o microfone e pergunta aos fãs, “o que vocês querem ouvir?”, a resposta é uníssono e clara: “PAINKILLER”.

Então uma das maiores intro de bateria de todos os tempos surge. Não adianta, pode passar o tempo que for, quantas músicas o Priest lançar, “Painkiller” é uma música de força descomunal e assombrosa e que coloca fogo quando tocada.

Ainda há tempo para Halford entrar com sua motoca e trabalhado no couro, antes do fim e coroa o Judas Priest como uma das maiores potências do metal mundial, tirando a primeira impressão ruim que havia ficado a mim três anos atrás.

Durante uma rápida saída ao corredores do Allianz, eis um encontro inesperado. A Harley usada por Halford bem ao meu lado.

Scorpions

Encerrando a noite, uma das mais tradicionais bandas do hard/heavy rock, subiram ao palco, trazendo clássicos e faixas que os mais ardorosos fãs gostam de ouvir.

A banda consegue entregar um grande momento musical, já Klauss Meine, tem diversas limitações devido a sua idade, como as mãos tremulas e pouca presença de palco, e isso é um fato nítido aos olhos de qualquer, ainda que possa parecer grosseiro começar o texto falando justamente desse fato. As mão trêmulas são compensadas por bons momentos vocais que ele apresenta, e em outros nem tanto.

A incansável “The Zoo” foi mais uma vez tocada, com seu groove cadenciado, a faixa sempre funciona bem ao vivo, assim como os hits “Wind of Changes“, “Send me Angel” e “Still Loving You“, que não se sabe se a tantos pedidos de fãs, já que a música não tinha sido apresentada no show de Brasília, voltou ao set, ou se ela já estava reservada para o dia do festival.

Um solo de bateria de Mikkey Dee deixa os fãs sem piscar prestando atenção a cada movimento feito pelo músico, que após um sustos meses atrás, parece estar com a saúde restaurada.

Na hora do bis, um enorme escorpião gigante invade o palco e “interage” com as imagens do telão, que causam um efeito incrível para a plateia.

O Scorpions entrega um bom show, mas aparentemente, além dos hits, parece ser algo que funcione melhor com quem realmente é fã do grupo ou os esteja assistindo pela primeira vez.

Tinha um Monstro no meu sábado de Aleluia. 

Mais uma vez, o Monsters of Rock entrega um grande dia de celebração aos fãs de rock/metal, ainda que para uma comemoração de três décadas, tenha parecido pouco, talvez uma edição de duas noites poderia ter sido mais de acordo.

Ainda assim, o sábado de aleluia teve um Monstro gigante neste dia de festividade e com certeza, já nos deixa ansiosos e esperançosos do que vem pela frente, quiçá, em seus próximos 30 anos.

Agradecimentos a organização do Monsters of Rock, Mecury Concerts e a Catto Comunicação, pelo credenciamento.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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