Os 31 anos de “Images and Words”, o álbum que catapultou o Dream Theater e a cena metal prog às massas
Texto por: Kelvyn Araujo
Segundo disco de estúdio do grupo americano, lançado em 7 de julho de 1992, foi desenvolvido em meio a incertezas e demissões
No dia 7 de julho de 1992 chegava às lojas “Images and Words“, do Dream Theater. O álbum, segundo trabalho da banda americana fundada sete anos antes, se tornou um clássico inquestionável do metal progressivo ao longo dos anos, obviamente. Mas o que mal se sabia era que essa pecha de “disco icônico” se tornou quase que irônica, se comparada ao que o quinteto vivia à época.
Para falarmos da história de “Images”, precisamos voltar aos primórdios do Dream Theater, mais precisamente em 1989. A banda – que havia sido fundada quatro anos antes pelos amigos John Petrucci (guitarra), John Myung (baixo) e Mike Portnoy (bateria) – lançava seu primeiro disco de estúdio, “When Dream and Day Unite”. Aliados ao vocalista Charlie Dominici e ao tecladista Kevin Moore, aquele trabalho sofreu uma série de problemas, tanto criativos, quanto de divulgação e repercussão. Tais questões fizeram com que as finanças do Dream Theater (que não eram muitas) rapidamente minassem. Para piorar a situação, Dominici pediu para sair, isso prestes quando a banda iniciaria sua tour.
Com a turnê de “When Dream” cancelada, bastou à banda procurar um novo cantor. O quarteto queria um nome técnico para assumir a voz, do estilo de Bruce Dickinson (Iron Maiden) ou Michael Kiske (Helloween). Baseando-se nisso, após árduas audições foi escolhido o desconhecido Steve Stone. Se com Dominici a coisa havia sido ruim, com Stone seria ainda pior, com este sendo demitido após um único show feito; entre as alegações da dispensa estavam o fato do novato gritar diversas vezes a frase “Scream for me, Long Beach!”, famosa fala de Bruce Dickinson no icônico ao vivo “Live after Death”, do Iron Maiden, de 1985 – mas com um detalhe: eles não estavam em Long Beach!
Após o trauma com Stone e a perda de três vocalistas em menos de cinco anos (vale lembrar que o Theater tivera Chris Collins antes de Dominici), os quatro integrantes se dispersaram, desencorajados a continuar na indústria musical. Os ensaios rareavam e durante o fim de 1990 e começo de 1991, o Dream Theater lutava para se manter vivo sem um vocalista. Durante este período, o conjunto fez apenas um show, instrumental, com o nome de Ytse Jam (faixa homônima do já citado debut de 1989).
O momento da virada
A maré baixa do Dream Theater começou a mudar no fim de janeiro de 1991, quando a banda recebeu a fita demo do cantor Kevin LaBrie, egresso da banda glam metal Winter Rose. O grupo, que recebera a fita por puro acaso, acabou chamando LaBrie para uma jam, e este acabou contratado como vocalista. A partir dali, havia se completado o quebra-cabeça que o Dream Theater procurava completar nos últimos dois anos.
Com a chegada de LaBrie, a banda continuou desenvolvendo músicas prévias, escritas nos poucos ensaios ocorridos entre o fim de 1990 e início de 1991. Com algumas faixas já encaminhadas, o quarteto gravou demos e enviou para gravadoras. Inicialmente relutantes, levaram diversos nãos, até que um herói do passado, Derek Shulman (ex-vocalista do Gentle Giant, banda seminal do rock progressivo; e à época empresário do ramo musical) decidiu assinar o “obscuro” quinteto na Atco Records, ainda em 1991.
Em finais daquele ano, o Dream Theater finalmente iniciou as gravações de “Images and Words”, mas não sem enfrentar mais percalços…
Os perrengues não terminaram….
Quando a banda iniciou a produção de “Images” já em estúdio, a Atco decidiu contratar para produzir o álbum o músico David Prater. Prater, que era ex-baterista do Santana e tinha maior afinidade com artistas e sons mais soft rock e pop, não se deu bem com a banda e exigiu mudanças em diversos arranjos e composições. Em entrevista no ano de 2006, resgatada pela Prog Magazine, Mike Portnoy relatou alguns dos problemas que teve em estúdio com Prater. As implicâncias ocorriam em especial com o baterista e com o tecladista Kevin Moore.
“Lidar com esse idiota foi complicado. Nossas brigas quase se tornaram físicas quando Prater acusou Moore de tocar suas partes de teclado de forma errada de propósito para fazê-lo de idiota, excluindo as fitas para começar de novo. Fora a insistência de Prater em usar triggered drums [recurso eletrônico na bateria que usa samplers].”
Os problemas não se restringiam apenas às interferências do produtor com a forma de tocar dos músicos. Em determinadas sessões, Prater chegou a pedir que partes das músicas fossem refeitas, como em “Metropolis” e “Surrounded”. Em entrevista, John Petrucci também lembrou um momento tenso com o chefão da cabine.
“Claro, ele era enérgico ao expressar suas opiniões. Lembro-me de ter ficado orgulhoso do meu solo de guitarra para Surrounded, mas ele me disse que parecia um solo ruim do Van Halen.”
Para além das celeumas em estúdio, uma outra decisão enfureceu a banda: durante as gravações, foi comunicada a recusa da Atco em permitir que “Images and Words” fosse duplo. O grupo, em especial Portnoy, em reuniões, já havia expressado o desejo do trabalho consistir em dois discos, com um segundo álbum tendo como peça central uma suíte, chamada “A Change of Seasons”, que já tinha inclusive partes de suas backing tracks gravadas. A objeção da gravadora só tornou a produção ainda mais arrastada e complicada. Sobre a recusa de “A Change”, Portnoy em específico (que escreveu as letras sobre o falecimento de sua mãe) teria se sentido traído com a decisão. O baterista, entretanto, conseguiu gravar seu magnum opus em 1995, como faixa-título do EP de mesmo nome
Aos trancos e barrancos, mas foi……
Mesmo com os problemas, as interferências e tudo mais até chegar às lojas, “Images and Words” finalmente veio ao mundo em 7 de julho de 1992. Recheado de questões e problemas ao longo dos dois anos, o disco se tornou um improvável clássico. A Atco, com anuência “involuntária” da banda, lançou “Another Day” e “Pull Me Under” como singles e nesta última veio o grande choque: o alcance ao top 10 na Billboard Mainstream Rock, além de ser uma das músicas mais tocadas no ano de 1992 na MTV americana. Um enredo que nem o mais imaginário dramaturgo poderia imaginar: uma banda que não conseguia ter um vocalista grava seu disco em meio a diversos problemas e emplaca em emissora de TV, rádio e paradas uma música sobre William Shakespeare.
Para além das duas músicas, outros clássicos imperaram no tracklist ao longo dos anos, como as épicas “Metropolis Pt.1: The Miracle and Sleeper” – que ganharia um spinoff em forma de disco anos depois –, “Learning To Live”, e “Under a Glass Moon”, que viraram verdadeiros clássicos dos shows.
Junto ao seu repertório, “Images and Words” em meio a seu turbulento (pra dizer o mínimo) bastidor, conseguiu representar um improvável marco para uma já emergente cena: a do metal progressivo. É sabido que Queensryche, Fates Warning e por aí vai já haviam lançados discos seminais que foram bases pro gênero, mas foi em “Images and Words” que isso virou um símbolo, uma marca que qualquer banda de metal viria a adotar ao cursar da década. Ayreon, Pain of Salvation, Seventh Wonder, Sieges Even, Opeth, e por aí vai talvez nunca tivessem se desenvolvido sem o Dream Theater e esse disco. Isso claro, se falarmos só das estrangeiras, pois se pegarmos as nacionais, toda a cena do Angraverso seria inabitada sem o impacto de um “Images and Words”.
Enfim, do meio da terra arrasada surgiu uma árvore gigante que deu frutos e dá até hoje por aí. Esse é “Images and Words”, álbum seminal hoje, amanhã e sempre!
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Na minha opinião é o melhor disco da banda até hoje!!!! Lembro de pegar uma fita de vídeo emprestada no qual era um documentário e show da banda em Tokyo/Japão…bons tempos aqueles, tinha até a participação do Napalm Death ali, valeu!!!!