Paul Di´Anno faz show em Belo Horizonte e mostra à que veio

A oitava parada da turnê da lenda viva Paul Di´Anno foi na terra do pão de queijo e os mineiros puderam conferir uma verdadeira celebração de clássicos que compõem os dois primeiros álbuns do Iron Maiden. Em plena noite de domingo, dia 05 de fevereiro, Belo Horizonte já em clima de carnaval teve um momento de luz ao contar com o show do Di´Anno, que está excursionando juntamente com Electric Gypsy e Noturnall.

O show ocorreu no Mister Rock e foi organizado pela produtora e editora Estética Torta. Já deixo aqui o agradecimento a produtora pelo credenciamento e por tornar possível participar de um evento histórico como esse. Os portões foram abertos às 19hrs e o que mais se via eram fãs exibindo suas camisas do Maiden. Mesmo com um show em pleno domingão a noite, o público compareceu em peso.

Com previsão de início dos shows às 20hrs, a banda de Hard Rock Electric Gypsy iniciou sua apresentação com apenas 15 minutos de atraso e logo colocou quem já estava dentro da casa de shows para agitar. Guzz Collins (vocal), Nolas (guitarra), Pedro Ferreira (baixo) e Robert Zimmerman (bateria) já conhecem bem o público local já que é uma banda de BH, ou seja, estavam jogando em casa. Talvez isso tenha dado mais força para a apresentação da banda. Já tive a oportunidade de vê-los ao vivo outras vezes e posso dizer, sem medo de errar que essa foi uma de suas  melhores apresentações por aqui. Já começaram com “More Than Meets The Eye”, música presente no seu mais recente lançamento, o EP “Stars”. Na sequência colocam o pé no acelerador e mandam “Nine Lives (Until I Die)”, faixa presente no seu álbum auto-intitulado de estreia.

RENAN CASTRO

Era nítida a alegria dos músicos em poder tocar na sua terra natal ao lado de grandes nomes do Heavy Metal nacional e mundial e o vocalista Guzz deixou isso bem claro para os presentes. A banda além de bem entrosada executou suas músicas com maestria conseguindo trazer todo aquele clima do Hard Rock oitentista porém com um toque moderno. O som dos instrumentos estava bem nítido e não foi observado nenhum problema técnico durante a apresentação, o que já dava bons indícios pelo o que iríamos presenciar na apresentação das próximas bandas. A terceira e quarta músicas executadas foram “I’m Down (For Her)” e “Hot For Teacher” do Van Halen, que colocou todos para agitarem bastante. Na sequência anunciaram que tocariam “Right on” pela primeira vez ao vivo. Esta faixa é uma bela balada que está presente no seu mais recente EP e que conta com um belo solo de guitarra. Nolas conseguiu emocionar a todos com suas belas linhas melódicas nas seis cordas e mostrou o quanto é competente no seu instrumento.

Caminhando para o final da sua apresentação colocam mais velocidade e executam “Devil Made Me Do It”, fechando com “Shoot’em Down”, música que já pode ser tida como grande clássico da Electric Gypsy. Foi uma apresentação relativamente curta e com pouco mais de 40 minutos, mas que não deixou a desejar em momento algum. Guardem o nome dessa banda, ainda vamos ouvir falar muito deles.

Em pouco menos de 10 minutos do fim da apresentação da Electric Gypsy, a Noturnall entrava no palco executando “Try Harder”, faixa matadora e que está presente no seu mais novo álbum “Cosmic Redemption”. Um pouco de nostalgia bateu ao ver o Thiago Bianchi usando uma camisa vermelha bem parecida com a que usou no DVD de 2008 do Shaman, o “Anime Alive”. Bom, só uma nostalgia visual mesmo, porque o som aqui é bem mais pesado e agressivo do que ele fazia com a antiga banda. O som da Noturnall é uma mistura de elementos que fica até difícil classificar, transitando do power ao thrash metal com a bateria insana do Henrique Pucci, do baixo marcante do Saulo Xakol, da guitarra poderosa e recheadas de riffs e solos virtuosos do Léo Mancini e o vocal, ora melódico e limpo, ora rasgado e agressivo de Bianchi. Sem quaisquer problemas técnicos para a felicidade de todos, a banda já emendou a “No Turn at All”, música do seu primeiro álbum e que funciona muito bem ao vivo.

RENAN CASTRO

“Fight the System” é uma faixa bem interessante e que traz passagens de músicas clássicas de rappers brasileiros, como “Diário de um Detento” dos Racionais, por exemplo. Para aqueles presentes que não estavam familiarizados com o som da banda, isso foi uma grata surpresa, ouvi vários comentários de pessoas que estavam ali para ver o Di´Anno aprovando essa mistura. Talvez esse diferencial que a Noturnall traz no seu som seja um grande atrativo para angariar novos apreciadores. Thiago conversou bastante com o público entre as faixas, agradeceu e falou o quanto o apoio de todos ali era importante, principalmente ao adquirir o merchandising das bandas. “Wake Up” veio em seguida e o alcance do vocalista impressiona, como tem fôlego! Para trazer a plateia para próximo da banda (não que isso precisasse a essa altura), mandaram um dos grandes clássicos do AC/DC, “Thunderstruck”. A casa veio abaixo e todos cantaram e agitaram juntos. Após essa faixa Thiago volta ao palco com alguns adesivos e um CD para dar de brinde para o público. Havia um cadeirante próximo ao palco e ele foi o escolhido para levar o CD, recebendo um grande incentivo do vocalista por ser um lutador, uma vez que sabemos que as condições para pessoas com necessidades especiais no nosso país não são das melhores, vide as dificuldades que estavam enfrentando com o próprio astro da turnê.

Se a essa altura do show da Noturnall parecia que a banda não poderia impressionar mais, “Reset the Game” conseguiu elevar o nível com uma música extremamente matadora, com todos os músicos mostrando o que sabem fazer. Mais uma vez destaque para o Thiago. Difícil não falar da sua performance e dedicação em executar cada nota em cada verso a plenos pulmões. Na próxima ele pediu ajuda do público, pois a faixa “Scream for Me!” faz muito mais sentido ao vivo quando o público participa. Recentemente a banda lançou um tributo ao Cazuza e gravou “O Tempo Não Para”, que contou ainda com a participação do Ney Matogrosso. E claro, essa música não poderia ficar de fora do set list já que, como mencionei anteriormente, a Noturnall não é uma banda que segue uma linha comum. A versão que fizeram ficou ótima e fez com que, mais uma vez, todos cantassem junto com a banda. Próximo do final da faixa, Thiago desceu do palco e cantou os últimos versos ao lado do cadeirante que estava na plateia. Foi lindo de se ver. Não mencionei anteriormente, mas o calor estava bastante intenso e o suor escorria sem controle, mas neste momento foram meus olhos que suaram… Para fechar de forma bem energética, tocaram “Nocturnal Human Side”. Apresentação impecável.

Enquanto o palco era preparado para a entrada da atração principal, Stephan Juras que é responsável pela turnê de Paul Di´Anno no Brasil em parceria com a Estética Torta, subiu ao palco para falar um pouco sobre o estado de saúde do lendário vocalista, das dificuldades encontradas e o quanto o apoio dos fãs brasileiros está sendo importante para a recuperação de Paul. Thiago Bianchi fez a tradução das falas de Stephan e incentivou mais uma vez ao público a adquirir o merchandising, pois é com esse dinheiro que conseguem pagar suas contas e tornar tudo aquilo possível.

Com menos de 30 minutos do fim da apresentação da Noturnall e com a banda de apoio de Di´Anno já posicionada no palco, começa a sair dos PAs a intro “The Ides of March”. A banda de apoio conta com os músicos da NoturnallHenrique Pucci (bateria), Saulo Xakol (baixo) e Léo Mancini (guitarra), com o guitarrista da Electric Gypsy, Nolas e com mais um guitarrista, o versátil Chico Brown, que não participou dos primeiros shows e que com certeza fez toda a diferença desde que se juntou a banda. Logo escutamos um “Hey Belo Horizonte” saindo dos alto falantes. E lá estava ele, Paul Di´anno sendo levado ao palco enquanto o público vinha à loucura. Antes de iniciar “Wrathchild”, Paul já pediu desculpas pois sua voz não estava boa e que ele iria precisar contar com a ajuda do público para cantar. Sinceramente, quem estava ali não estava se importando se o vocalista iria cantar ou não, todos estavam interessados em celebrar a vida dessa lenda e curtir os clássicos mais antigos da Donzela de Ferro.

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O calor aumentou logo no início da apresentação, pois os fãs mais saudosistas da banda e de Paul fizeram questão de se aglomerar na frente do palco. Nesse momento o Mister Rock estava lotado e dar um passo para o lado parecia impossível. “Sanctuary” e “Purgatory” vieram na sequência e Paul, apesar de falar que não iria conseguir cantar, mandou muito bem na sua apresentação. Era visível que ele sentia algum tipo de dor e que não estava muito confortável na cadeira de rodas, mas ao mesmo tempo ele tinha um olhar emocionado e de gratidão por quem estava ajudando ele a celebrar aquele momento. Entre uma música e outra ele brincava, mostrava que estava bebendo água de coco (já que as pessoas ficavam falando que ele não podia beber nada alcoólico) e resmungava, mas sempre com um sorriso no rosto.

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Os relatos de problemas ocorridos nos primeiros shows da turnê fez com que alguns fãs ficassem apreensivos e com medo que algo não esperado pudesse ocorrer nas próximas apresentações, mas o que estávamos presenciando até o momento era um verdadeiro espetáculo. A banda de apoio já está bem entrosada, executou cada música com muito empenho e segurança. Léo Mancini não escondeu o sorriso em momento algum e mandou muito bem durante todo o show. As guitarras estavam muito alinhadas, Chico Brown e Nolas davam um show à parte. Saulo teve a dura missão de reproduzir as linhas de baixo de Steve Harris, mas deu conta do recado. Já o baterista Henrique Pucci, que sofreu críticas no primeiro show, parece ter deixado tudo para trás e mostrou o excelente músico que é.

RENAN CASTRO

“Drifter” levou todos a loucura enquanto “Murders in the Rue Morgue” recebeu uma execução impecável e Paul cantou a plenos pulmões. Quem estava ali presente talvez não esperasse que ele iria se esforçar tanto, mas em alguns momentos do show parecia que todos os problemas de saúde haviam ido embora e que Paul iria levantar da cadeira e agitar. Antes da próxima música, Paul mencionou o quanto foi difícil vencer todo o período turbulento da pandemia e as perdas, principalmente do seu amigo e guitarrista brasileiro Paulo Turin, que perdeu a batalha para o Covid-19. Ele estava visivelmente emocionado, e talvez essa carga emotiva tenha feito com que “Remember Tomorrow” tenha sido um dos grandes destaques da noite.

Uma pequena pausa para o vocalista se recompor veio em seguida, mas a banda não parou e executou a instrumental “Genghis Khan”. Paul retorna ao palco e coloca a casa abaixo ao executar “Killers” e “Charlotte the Harlot”. Entre as músicas mais uma vez ele agradeceu a compreensão de todos, falou o quanto era difícil, porém importante, para ele estar ali. E em um tom de muita brincadeira, falou que daria tudo de si na próxima faixa, “Transylvania” (caso alguém seja de outro mundo, essa faixa é instrumental). Nesse momento uma grande roda de mosh surgiu, com direito até a um fã exaltado fazendo stage diving. A próxima eu não posso mentir, essa me pegou em cheio: “Phantom of the Opera” sendo executada com a lenda Paul Di´Anno a menos de 2 metros na minha frente, foi difícil segurar a emoção.

Caminhando para o final, “Running Free” foi cantada em uníssono. Todos gritavam a letra dessa música tão alto que até agora não sei se o Paul cantou uma palavra sequer. Foi bonito de se ver. Nesse momento ele batia no peito agradecendo a todos. “Prowler” encerrou o set antes do bis. Nesse momento a banda saiu do palco e o que se ouvia eram gritos de “Paul, Paul, Paul”. Quando retornaram, os gritos agora eram “Iron Maiden, Iron Maiden…”. E assim o fizeram, Finalizaram com “Iron Maiden”, fãs aos prantos e uma certeza: a lenda vive!!!

Torço para que a turnê corra sem maiores problemas até a sua última data. Aos fãs de Iron Maiden e do Paul Di´Anno posso garantir que a experiência de ver esse show com todas essas bandas e músicos vale muito a pena. Vá e celebre junto dos fãs e amigos a vida de Paul Di’Anno!

Setlist

Electric Gypsy

  1. More Than Meets The Eye
  2. Nine Lives
  3. I’m Down (For Her)
  4. Hot For Teacher – Van Halen
  5. Right On
  6. Devil Made Me Do It
  7. Shoot’em Down

Noturnall

  1. Try Harder
  2. No Turn at All
  3. Fight the System
  4. Wake Up
  5. Thunderstruck (AC/DC cover)
  6. Reset the Game
  7. Scream for Me!
  8. O tempo não para(Cazuza cover)
  9. Nocturnal Human Side

Paul Di´anno

  1. The Ides of March
  2. Wrathchild
  3. Sanctuary
  4. Purgatory
  5. Drifter
  6. Murders in the Rue Morgue
  7. Remember Tomorrow
  8. Genghis Khan
  9. Killers
  10. Charlotte the Harlot
  11. Transylvania
  12. Phantom of the Opera
  13. Running Free
  14. Prowler
  15. Iron Maiden

Renan Castro

Um engenheiro que se divide entre realizar cálculos complexos e a escrever sobre música. Mineiro de Belo Horizonte, berço de grandes nomes do metal como o Sepultura e Overdose, fui apresentado ao som pesado aos 12 anos de idade. Sempre tive o sonho de escrever resenhas de álbuns de Heavy Metal e poder divulgá-las para os apreciadores do estilo, por isso criei a página Nerd Banger no Instagram. Com grande foco no cenário nacional, faço o que posso para apoiar os artistas do nosso Brasil!

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