Pearl Jam: há 28 anos, banda em crise lançava o controverso “No Code”
Podemos dizer que o 27 de agosto é um dia especial para o Pearl Jam, uma vez que além de “Ten”, o debut da banda, falamos dele no ano passado e você pode conferir clicando AQUI. E temos também “No Code”, o quarto disco deles, comemorando 28 anos de lançamento e que vamos tratar no nosso bate-papo desta terça-feira.
Embora seja um dos trabalhos menos inspirados da banda, devido a vários acontecimentos que falaremos deles mais abaixo, este disco marca um novo passo na carreira do quinteto de Seattle, que estava envolto com seus conflitos e não sabendo lidar com a fama que os três primeiros álbuns lhes deu.
A banda vivia seu inferno astral: demissão do baterista Dave Abbruzzeze. Segundo a banda, este não estaria sabendo lidar com o sucesso. Seja lá o que esta explicação evasiva signifique, o fato é que a banda estava abrindo mão do melhor baterista que já passou em seu lineup, com todo respeito ao competente Matt Cameron, que ocupa atualmente o posto. A demissão de Dave ocorreu ainda durante as gravações do anterior, “Vitalogy”, e em seu lugar, Jack Irons acabou aceitando o convite que lhe era feito desde os primórdios da banda.
Some-se à mudança no lineup as tentativas frustradas da banda em se auto-sabotar: os caras estavam insatisfeitos com todo o sucesso e notoriedade que ganharam desde o disco de estreia. Então, não produziam mais videoclipes, haviam decretado boicote aos órgãos de imprensa especializados e o mais grave: simplesmente decidiram bater de frente com a Ticketmaster, a empresa que comercializava mais de 95% dos ingressos das casas de espetáculos dos Estados Unidos. A banda sobreviveu a isso tudo, sabe-se lá como.
Para completar, havia um clima de animosidade entre eles. Eddie Vedder, principal letrista, queria tomar as rédeas do grupo, o que quase pôs fim à banda, como veio à tona anos mais tarde, no documentário “Twenty”. Jeff Ament se demonstrou muito incomodado e chegou a considerar sair da banda que ele próprio havia fundado. Mas haviam boas notícias também: neste período, o Pearl Jam foi convidado para ser a banda de apoio de Neil Young. A parceria rendeu o ótimo “Mirrorball” e a banda lançou um single, chamado “Merkinball”, gravado durante as sessões com o músico canadense. Isso servia para matar um pouco da ansiedade entre os fãs por um material inédito,
Enquanto excursionavam com Neil Young, eles aproveitavam as pausas para compôr e gravar o aniversariante de hoje. Foram utilizados três estúdios em cidades extremamente distantes umas das outras: o “Chicago Recording Company”, que como o nome sugere, fica em Chicago; o “Kingsway Studio”, em New Orleans, além do “Studio Litho”, em Seattle, cidade natal da banda. Novamente com a produção do velho parceiro, Brendan O’Brien. As sessões duraram dez meses, entre julho de 1995 e maio de 1996, Vamos destrinchar as treze faixas deste play:
“Sometimes” abre o play e é uma breve balada com menos de três minutos de duração em que a voz de Vedder é o grande destaque em uma música com letra bem pessoal. Aqui o guitarrista Mike McCreaddy atua como tecladista. Uma das faixas com a veia mais Punk, “Hail Hail” é um dos destaques do play, muito embora o ouvinte consegue identificar a falta de técnica do baterista Jack Irons. Ele quase pôs tudo a perder, como em quase tudo que ele meteu a mão em sua empreitada pela banda.
“Who you Are” é bonitinha, com elementos de World Music, enquanto que “In My Tree” é um dos pontos menos interessantes do álbum, uma faixa extremamente chata. “Smile” fez razoável sucesso nas rádios rock brasileiras e é bastante agradável. O baixista Jeff Ament aqui toca guitarra e Vedder ataca na gaita também, tendo relativo êxito.
Outra balada chega e esta não compromete: “Off he Goes”, onde apenas um violão e uma batida bem simples acompanham a suave voz de Eddie Vedder. Mais pegada Punk na excelente “Habit”, uma música que poderia perfeitamente estar em “Vitalogy”, sobretudo para substituir algumas das chatices que lá estão presentes.
A bela “Red Mosquito” e sua pegada mais sessentista, que seria o esboço da sonoridade mais influenciada no Progressivo que o Pearl Jam adotaria futuramente, é outro destaque do play. Por muito tempo esta figurou entre algumas das minhas favoritas. Outra vez a veia Punk se faz presente, na curta e chata “Lukin”, que é uma referência ao ex-baixista do Mudhoney e Melvins, Matt Lukin.
A parte final do álbum é composta por quatro músicas que alternam um álbum extremamente burocrático: “Present Tense” começa como uma balada, mas do meio para o final ela se desenvolve, ganhando um bom clima Rock And Roll. A divertida “Mankind”, ainda que com um Stone Gossard completamente sem a menor intimidade com a arte de cantar, mas a música é um Rock and Roll bastante interessante, engraçada pela entonação do guitarrista e também divertida.
As duas últimas faixas são completamente dispensáveis: “I’m Open” é a repetição de algumas coisas desconexas que o Pearl Jam inseriu em “Vitalogy”, uma faixa chata onde Vedder recita os versos da letra enquanto um som irritante discorre por trás e “Around the Bend” é uma música onde o produtor Brendan O’Brien atua nos pianos, ajudando a banda, mas nem isso a impede de ser pedante.
Em 49 minutos temos um disco com poucos bons momentos, talvez refletido pelo inferno astral que a banda vivia naquela época. Não é um álbum fácil de se ouvir, e é preciso ouvir muitas vezes para poder compreendê-lo melhor. Ele tem um pouco do disco anterior, como faixas mais Punks e muito de experimentalismo, numa tentativa de se distanciar cada vez mais do que foi produzido nos dois primeiros álbuns. Era notória a tentativa da banda de se lançar em outros caminhos. O futuro mostrou que a iniciativa, embora equivocada, surtiu resultados: o quinteto tornou-se ainda maior e tocaria cada vez mais em grandes arenas.
Se “No Code” foi o terceiro álbum seguido da banda a alcançar o topo da “Billboard” logo de cara, a insatisfação dos fãs também foi instantânea e logo o disco foi despencando neste chart e foi o primeiro disco da banda a não ser certificado com multi-platina. O álbum também alcançou o topo em países como Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Portugal e Suécia, além de 3º lugar na Áustria, Irlanda, Noruega e Reino Unido. Foi certificado com disco de Ouro no Reino Unido, Platina nos Estados Unidos e Nova Zelândia e duplo Platina no Canadá e Austrália.
Enquanto musicalmente o álbum não agrada muito, ponto para os caras na arte da capa, feita pelo trio Eddie Vedder, Mike McCreaddy e Jeff Ament, em que é formada por um conjunto de 144 fotos Polaroid, que se parecem aleatórias. Dentro de cada cópia foram espalhados algumas destas fotos, contendo letras das músicas no verso, de maneira que, quem quiser ter todos, terá que comprar várias cópias e contar com a sorte. Não é novidade esse tipo de ação, o Led Zeppelin já tinha feito algo parecido em “In Through the Out Door”, de 1979 com imagens diferentes de um mesmo bar, espalhadas pelas cópias do álbum.
Como a banda tinha problemas para tocar nos Estados Unidos, a saída foi fazer turnês no restante da América do Norte e também na Europa. Tempos depois, eles iriam reconsiderar o boicote à Ticketmaster e voltariam a tocar nas casas operadas por esta empresa, para alívio dos fãs que estavam bastante insatisfeitos, Em 17 de outubro de 2014, eles tocaram o aniversariante do dia na íntegra, durante uma apresentação no estado de Illinois, como parte de seu extenso setlist.
Enfim, é um álbum que tem a sua importância mais pelo contexto histórico do que pela parte musical, é bem verdade, mas que vale a pena ser contado aqui. Obviamente que os fãs mais saudosistas como este redator que vos escreve irá torcer o nariz para este play, o Pearl Jam cometeu sim, alguns equívocos ao longo de sua longa carreira, mas é um exemplo de banda que se tornou gigante, mesmo dando murros em ponta de faca em diversos momentos. Eles seguem na ativa, fazendo discos e principalmente, passando ao mundo uma mensagem positiva, na tentativa de conscientizar as pessoas sobre o futuro do nosso planeta.
No Code – Pearl Jam
Data de lançamento – 27/08/1996
Gravadora – Epic
Faixas:
01 – Sometimes
02 – Hail Hail
03 – Who You Are
04 – In My Tree
05 – Smile
06 – Off he Goes
07 – Habit
08 – Red Mosquito
09 – Lukin
10 – Present Tense
11 – Mankind
12 – I’m Open
13 – Around the Bend
Formação:
Eddie Vedder – vocal/ guitarra/ cítara elétrica/ gaita e fotos Polaroid da capa
Stone Gossard – guitarra/ vocal em “Mankind”/ piano
Jeff Ament – baixo/ guitarra em “Smile”/ chapnam/ Polaroids em preto e branco
Mike McCreaddy – guitarra/ piano em “Sometimes”/ Polaroid
Jack Irons – bateria
Participação especial:
Brendan O’Brian – piano