Ratos de Porão: onze anos de “Século Sinistro”
Há onze anos, em 2 de setembro de 2014, o Ratos de Porão lançava “Século Sinistro“, o décimo álbum da banda mais ativista de nossa cena, e que é tema do nosso bate-papo desta quinta-feira.
A banda estava há oito anos sem um lançamento oficial. “Homem Inimigo do Homem” é certamente o disco mais raivoso da carreira das ratazanas e o objetivo era superar o trampo anterior. E os caras chegaram perto. Antes disso, a banda lançou um split com o Look For An Answer, em que algumas músicas inéditas foram apresentadas e serviu de aperitivo para um full-lenght.
A banda entrou no estúdio “Family Mob”, em São Paulo e com João Gordo como produtor, durante o mês de novembro de 2013. E depois a masterização foi feita no “Fantasy Studios”, em San Francisco, Califórnia. A gravadora “Alternative Tentacles“, do eterno vocalista do Dead Kennedys, Jello Biafra, lançou a bolacha na gringa, e no Brasil, saiu pela Voice Music.
Cada álbum do Ratos de Porão é como se fosse um livro de história, pois a banda sempre se apegou aos acontecimentos em nosso país na época. Foi assim com “Brasil“, em 1989, quando a banda nos contou sobre a inflação e a crise econômica. Em nosso aniversariante, os temas foram as manifestações que culminaram em uma nação que flertou intensamente com o fascismo, o futebol como pão e circo, a situação dos detentos, uma crítica aos influencers digitais e outra aos políticos.
A banda incluiu um cover em meio às músicas inéditas: “Progreria of Power“, do Anti-Cimex, banda sueca de Crust Punk, que é uma das influências dos brasileiros. Nosso aniversariante conta com um participante bem especial: Atum, o porquinho de estimação de Gordo, dá os gritos que ouvimos na introdução de “Sangue & Bunda“.
Outros dois convidados também ajudaram a abrilhantar o álbum, e estes são humanos: Moysés Kolesne e Estevam Romera. O guitarrista do Krisiun gravou os solos de guitarra das músicas “Neocanibalismo” e “Progreria of Power“, enquanto que o ex-guutarriata do Desalmado gravou backing vocal.
Bolacha rolando, o Ratos de Porão nos apresenta o seu velho Crossover Thrash, muito pesado, violento e como sempre, letras que nos convidam ao pensamento crítico. O álbum é composto por treze faixas, duração de 34 minutos, com destaque para “Conflito Violento“, “Grande Bosta“, “Sangue & Bunda“, “Puta, Viagra e Corrupção” e “Pra Fazer Pobre Chorar“. O Ratos de Porão seguia em plena forma e com muita história para contar sobre esse Brasil que não para de nos surpreender.
A recepção ao álbum foi muito boa. O país começava a polarização política, e então, muitos dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, não gostam do posicionamento da banda. Ainda que na época, Bolsonaro sequer considerava a candidatura à presidência, o Ratos de Porão sempre se colocou do lado democrático da história, o que parece não ter sido bem compreendido por boa parcela dos fãs de Rock. Ainda assim, o play foi considerado o melhor lançamento nacional, pela Rolling Stone Brasil.
A banda tocou em diversas cidades do Brasil e também no exterior. Em 2015, tocaram em um festival realizado na cidade de Caracas e organizado pelo presidente Nicolás Maduro. A participação rendeu polêmica, e claro que a banda não deu a mínima. Em 2020, o próprio Maduro publicou uma foto da apresentação do Ratos no festival, para ilustrar uma postagem sobre o “dia Mundial do Rock”.
Hoje é dia de celebrar mais um aniversário deste álbum que envelhece muito bem, obrigado. Felizmente, o Ratos de Porão segue em plena atividade, fazendo shows e lançando álbuns. Hoje é dia de escutar esse petardo no volume máximo enquanto aguardamos o sucessor do ótimo “Necropolítica“, lançado em 2022. Longa vida à banda mais politizada do Brasil.
Século Sinistro – Ratos de Porão
Data de lançamento – 02/10/2014
Gravadora – Voice Music
Faixas:
01 – Conflito Violento
02 – Neocanibalismo
03 – Grande Bosta
04 – Sangue & Bunda
05 – Século Sinistro
06 – Jornada para o Inferno
07 – Prenúncio de Treta
08 – Stress Pós-Traumático
09 – Viciado Digital
10 – Boiada pra Bandido
11 – Progreria of Power
12 – Puta, Viagra e Corrupção
13 – Pra Fazer Pobre Chorar
Formação:
João Gordo – vocal
Jão – guitarra
Boka – bateria
Juninho – baixo
Participações especiais:
Moysés Kolesne – guitarra solo em “Neocanibalismo” e “Progreria of Power“
Estevam Romera – backing vocal
