Resenha: Between the Buried and Me

O Between the Buried and Me voltou com seu décimo primeiro álbum, The Blue Nowhere, e mais uma vez confirma por que continua sendo um dos grupos mais instigantes dentro do metal progressivo contemporâneo. Lançado em 12 de setembro de 2025 via InsideOut Music e distribuído pela Shinigami Records, o trabalho reúne mais de 70 minutos de material que desafia expectativas, atravessando atmosferas que vão do extremo ao lírico com uma ousadia quase teatral.

Desde a abertura com “Things We Tell Ourselves in the Dark”, o álbum anuncia sua natureza multifacetada: um groove marcante se mistura a explosões técnicas, explorando desde arranjos intricados até explosões intensas de peso e virtuosismo. Essa dualidade entre caos e controle é um traço caro à banda — uma habilidade de manter o ouvinte em constante estado de descoberta, nunca entediado e sempre preparado para a próxima reviravolta.

O ponto alto do disco está justamente na variedade de texturas e na integração de elementos pouco usuais no metal técnico tradicional. Além dos instrumentos típicos do gênero, o álbum explora timbres como fagote, clarinete, flauta, trompete, tuba, sitar e violinos, criando um repertório que se move com naturalidade entre intensidade brutal, momentos mais contidos e passagens expansivas que beiram o progressivo mais amplo.

Faixas como “Absent Thereafter” e “Slow Paranoia” exemplificam a capacidade do grupo de equilibrar complexidade técnica com fluidez emocional, resultando em peças que parecem universos próprios, cheias de mudança de humor, ritmo e cor sonora. Esses temas não apenas mostram a maestria individual dos músicos, mas também a coesão como um coletivo que entende perfeitamente quando acelerar, quando acalmar e quando surpreender.

O álbum não se restringe a extremos; em momentos como a faixa-título “The Blue Nowhere” e “Beautifully Human”, a banda desacelera exibindo um lado mais melódico e acessível, provando que intensidade e emoção podem coexistir sem sacrificar uma pela outra. Essa alternância entre agressão e introspecção torna o disco dinâmico e diversificado, rico em contrastes e ainda assim artisticamente coerente.

Apesar de algumas opiniões encontrarem a obra um pouco dispersa ou sem um “fio condutor” tradicional, para muitos fãs e críticos isso é parte do charme: o álbum se comporta como um caleidoscópio sonoro, onde cada faixa é um universo à parte, e juntos eles formam um mosaico instigante que recompensa múltiplas audições.

No balanço final, The Blue Nowhere não é apenas mais um lançamento na discografia já seminal do Between the Buried and Me — é uma demonstração de que a banda ainda tem repertório criativo para expandir os limites do metal progressivo. Com variações estilísticas corajosas, texturas complexas e execução impecável, o álbum se firma como uma das obras mais vibrantes e desafiadoras da carreira do grupo em 2025.


NOTA: 9

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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