Resenha: Black Pantera – “Perpétuo” (2024)
Para quem acha que o Rock é um antro de fascistas – isso é uma meia verdade! – temos algumas bandas que mostram que o estilo ainda tem salvação. Dorsal Atlântica, Titãs e Ratos de Porão podem ser citadas entre as bandas da velha guarda que carregam consigo os ideais antifascistas. E entre as novas, podemos citar o Violator, o Desalmado e o Black Pantera, que acaba de nos brindar com “Perpétuo“, o quarto álbum desta banda do triângulo mineiro que tanto nos dá orgulho pela sua conscientização de classe e por representar os negros no estilo tão elitizado quanto o da música pesada.
E no novo álbum, eles fazem questão de ressaltar os valores dos negros, coisa que deveria ser obrigatória, principalmente por se tratar da última das nações das Américas a abolir a escravatura, mas que até hoje ainda traz consigo uma carga enorme de preconceito. O Black Pantera deveria ser uma banda para o roqueiro conservador ouvir, compreender as letras e mudar suas atitudes, tentar ser um cidadão melhor. Para estes, infelizmente, a banda estará pregando no deserto. Mas quem tem um pingo de consciência de classe, entende o discurso dos caras. E bate palmas.
Na questão do discurso, “Perpétuo” é cirúrgico e aborda várias das situações que o brasileiro comum enfrenta todos os dias, como por exemplo na música “Tradução“, onde Charles da Gama canta “minha mãe tem hora pra chegar/ mas não tem hora pra sair/ mesmo sem força, sai pra trabalhar”, uma homenagem à sua mãe, mas que está na realidade de mais da metade dos brasileiros que trabalham por longas horas, muitas vezes, sendo serviçal da elite. Em “Promissória“, eles trazem outra realidade brasileira: os boletos, que sempre vencem e precisamos trabalhar duro para, dentre outras coisas, honrar nossos compromissos. Eles tocam no racismo em “Cendeia” e o melhor de tudo, um recado para os terroristas travestidos de patriotas, em “Sem Anistia“. No discurso, “Perpétuo” não é nota 10, é nota 1000.
Quanto à sonoridade, a banda aumentou a sua gama de influências e as incorporou no novo play, dando um resultado que é mais que satisfatório, é excelente. Definir o Black Pantera como Crossover é a forma mais simples de rotular os caras. E aqui em “Perpétuo“, a missão de classificar a sonoridade do trio é quase impossível. Tudo porque, eles incluíram coisas da música latina, ideia que pintou depois de uma apresentação da banda no Chile e fez com que a banda acrescentasse até mesmo uma frase em espanhol, na música de abertura “Provérbio“. Em “Perpétuo“, temos Punk, Hardcore, Thrash Metal, uma deliciosa salada musical onde poucos conseguem ter tanto êxito. São doze músicas em 39 minutos.
Uma aula de Rock, uma aula de história, uma aula de conscientização de classe, de raça, de três caras que com certeza devem sentir na pele tudo aquilo que colocam pra fora em suas letras. Se você é daqueles que diz “só escutar determinada banda por causa do som e não ligar para as letras e/ou atitudes duvidosas de seus ídolos”, mude seus conceitos, escute o Black Pantera e trave uma batalha contra o seu eu para de tornar uma pessoa melhor. Esse “Perpétuo” é de deixar os brasileiros com muito orgulho. Candidatíssimo ao título de melhor disco brasileiro do ano. Eles merecem. E fogo nos racistas.
NOTA: 9,0