Resenha: Candlemass – “Rough Mix”
“Polar Rough Mix” revela o Candlemass antes da maquiagem final do estúdio. Em vez das versões lapidadas que entraram para a história da banda, o que se ouve aqui são registros crus, despojados e diretos ao ponto — músicas em estágio inicial, quando o peso é mais bruto, a dinâmica mais livre e o clima mais sombrio. É como acompanhar o nascimento das composições, ainda carregando a energia instintiva que precede a produção definitiva.
O elemento mais marcante dessas versões relançadas pela Shinigami Records em parceria com a Nuclear Blast, é a performance de Messiah Marcolin. Sem os retoques da mixagem final, sua voz surge feroz e quase indomada, transmitindo emoção imediata, como se cada linha tivesse sido capturada no calor de um ensaio. A dramaticidade que sempre caracterizou o vocalista está presente, mas aqui ganha um caráter mais rústico e espontâneo — um contraste que muitos fãs tendem a considerar até mais impactante do que o resultado concluído.
As guitarras de Mats “Mappe” Björkman e Lars Johansson também se beneficiam dessa abordagem menos filtrada. Com menos compressão e mais textura, o som dos riffs se torna mais denso, mais palpável — blocos sonoros maciços, típicos do doom, que aqui exibem nuances normalmente suavizadas nas versões de estúdio. A bateria de Jan Lindh, seca e sem brilho artificial, reforça essa estética orgânica: é o pulso do gênero em seu formato mais cru.
Como documento, “Polar Rough Mix” funciona quase como uma escavação musical. Ele expõe camadas que, nas versões oficiais, ficaram soterradas pela produção final: guitarras mais altas, vocalizações alternativas, trechos estendidos, escolhas que acabaram descartadas na última etapa de edição. Para quem conhece a discografia do Candlemass, a audição traz a sensação de revisitar músicas familiares sob uma luz completamente nova.
O resultado é um registro que abraça suas próprias imperfeições e as usa a favor da experiência. Sem a intenção de soar “pronto”, ele captura o lado mais honesto e visceral do grupo — a essência monumental que transformou o Candlemass em um dos nomes centrais do doom metal. Para colecionadores, é uma peça rara; para curiosos, uma oportunidade singular de ouvir o gênero em sua forma mais primitiva e poderosa.
NOTA: 7
