Resenha: Cavalera – “Morbid Visions” (2023)
O melhor disco do ano acaba de ser lançado e não haverá outro álbum que vá tirar de “Morbid Visions” esse título. A menos que o Black Sabbath volte com sua formação original e faça um disco tão bom quanto qualquer um dos seus seis primeiros. Como essa hipótese inexiste, deixemos essa honra com Max e Iggor Cavalera. Só temos a lamentar a partida da Dona Vânia Cavalera, que não vai poder acompanhar o remake daquilo que ela presenciou lá nos primórdios.
No ano em que “Chaos A.D.“, um dos álbuns mais icônicos do Sepultura completa 30 anos, os irmãos surpreenderam a todos ao anunciar que estavam regravando os dois primeiros lançamentos, que aqui foram lançados separadamente. Os fãs aguardavam talvez por uma tour celebrando esse disco que colocou a banda entre as maiores da década de 1990, foram tomados de surpresa e emoção pelo anúncio.
O álbum marca a estreia dos irmãos pela Nuclear Blast e é realmente uma pena que a bolacha não ganhe uma versão brasileira. Então, os fãs que quiserem comprar, terão de desembolsar uma pequena fortuna. Se você for um saudosista como este redator que vos escreve (ou viúva mesmo), esse lançamento é um prato cheio. Se você não conhece os primórdios do Sepultura ou não gosta mesmo do que foi lançado originalmente, é a sua oportunidade de dar uma nova chance a essas relíquias.
Lá em 1985, apesar da pífia qualidade do que foi registrado, dava para perceber que as canções tinham algum valor, apenas eram mal executadas, produzidas por quem não tinha a menor intimidade com o Rock pesado, no caso mais especificamente uma vertente mais extrema que era nova para todos. São os casos da faixa título, “Mayhem“, “War“, “Crucifixion“, “Show me Wrath” e a mais famosa delas, “Troops of Doom“, que consegue a proeza de ser executada por nada mais que três diferentes bandas: os próprios Cavaleras, o The Troops of Doom, de Jairo Guedz, guitarrista que gravou o primeiro disco do Sepultura, além do próprio Sepultura atual, esta toca essa música na mesma intensidade que o cometa Halley nos visita.
Eles conseguiram a façanha de repaginar canções escritas há quase 40 anos atrás, deixando-as ainda mais brutais, ao mesmo tempo modernas e sem perder um pingo da brutalidade e rispidez de quando foram escritas e gravadas lá em Belo Horizonte. Talvez o único ponto fraco deste álbum, se é que dá pra chamar isso de ponto fraco, é o vocal de Max, que já não tem o mesmo alcance de outrora. Mas o leitor pode discordar e dizer que, lá em 1985, o vocal e a pronúncia dele eram ainda piores. E eu não vou dizer o contrário. Mas que Max perdeu um bocado de seu poderio, isso é verdade, porém, não diminui nem um pouco a qualidade da obra. Agora imaginem vocês se esse instrumental tivesse a voz de Max dos tempos de “Chaos A.D.“, seria ainda mais impiedoso.
O lado bom de se ter mais experiência é que, se não temos mais o mesmo vigor da juventude, a experiência nos ensina que pegando os atalhos, a gente consegue chegar no mesmo objetivo e muitas vezes com até melhores resultados, pois quando jovens temos o defeito de enfiar os pés pelas mãos e colocar as coisas a perder. Talvez essa falta de maturidade tenha impedido que todos encontrassem uma solução para que o Sepultura tivesse seguido com sua formação clássica, lá em 1996. Todavia, se não houvesse a separação, não estaríamos falando do relançamento de “Morbid Visions“.
A experiência de revisitar o passado fez de Max um riffmaker ainda mais letal. Seus riffs estão ainda mais insanos. E convenhamos que ele manda muito melhor quando toca mais extremo do que quando toca grooveado. Iggor Cavalera segue uma máquina destruidora, seus blastbeats são tão perturbadores quanto em 1985, com a diferença de que lá ele tinha um kit de bateria vagabundo. Tudo nesta regravação beira a perfeição. Mas vai ter o fã que vai encher a paciência dizendo que o original é melhor. Ok, nós somos democráticos e aceitaremos a sua opinião, mas negar que eles melhoraram muito uma pedra preciosa que só precisava ser lapidada, é no mínimo, não ser inteligente.
Se é um caça-níquel? Talvez. Se é um bom disco? Não, é excelente. Há os que vão criticar os irmãos dizendo que eles insistem em ficar no passado? Certamente. Mas eles cometeram algum crime? Obviamente que não. Esse “Morbid Visions” versão 2023 é a coisa mais maravilhosa que alguém em nome do Sepultura gravou desde “Roots“. Se você torceu o nariz, aceite que dói menos. E se você gosta de reviver o passado, prepare-se, pois este álbum é uma aula de Metal extremo. E pode ser utilizada como trilha sonora do fim do mundo.
NOTA: 10
Pingback: Resenha: Cavalera – “Bestial Devastation” (2023) - Confere Rock
Totalmente de acordo! Amei os 2 EPs relançados!! Os Cavalera são muito feras!! Está no top 1 da minha lista de 2023!!!!